“No protótipo que já me mostraram, um mapa indica o hospital ou centro de saúde mais próximo.” Este é o HEALTH4ALL, que Ricardo Silva espera apresentar em breve aos portugueses. “Não é concorrência ao SNS 24. É para ser uma alternativa e um complemento. É para ser uma ajuda para as pessoas que precisam”, esclarece o enfermeiro.
HealthNews (HN)- O que é o HEALTH4ALL? Como funciona e com que objetivo foi criado?
Ricardo Silva (RS)- Eu trabalhei cerca de três anos no SNS 24, na altura da pandemia de Covid-19. Trabalhava em casa, a fazer atendimento de chamadas. Aquilo era de loucos. Nós não conseguíamos dar resposta às necessidades das pessoas. Havia períodos com muitas chamadas em espera. As pessoas estavam horas e horas à espera. Então, em dezembro, surgiu-me a ideia: porque não criar um serviço alternativo ao SNS24? Inicialmente, a ideia era ser também por atendimento de chamadas – muito parecido ao SNS24. Criei cerca de 50 algoritmos para cada sintoma, baseados na minha experiência profissional (sou enfermeiro há 13 anos, com experiência na Saúde 24 e na investigação).
Já tive uma reunião com a bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Foi incrível. Ela ficou muito entusiasmada e contente com esta iniciativa e aconselhou-me a tentar criar um grupo de validação dos algoritmos que eu fiz. Então, no espaço de uma hora, arranjei três médicos e sete enfermeiros especialistas para me fazerem a validação dos algoritmos.
Foi um trabalho árduo. Mandei muitos emails, muitos telefonemas, muitas reuniões com empresas de software, de desenvolvimento deste tipo de sistemas, e pensei assim: fazer uma coisa igual Saúde 24, se calhar, não vale a pena; e se fizer uma coisa mais prática, mais atual, mais futurista? Então, lembrei-me dos telemóveis e das aplicações. Foi numa altura em que começaram a surgir muitas notícias sobre inteligência artificial. Aconselhei-me, e encontrei esta empresa que se tornou minha parceira, que é a INDICO Innovation, que desenvolve softwares. Marquei uma reunião com eles para expor as minhas ideias, explicar os algoritmos, a triagem, o encaminhamento, o aconselhamento, e perguntei-lhes se era possível fazer isto utilizando a inteligência artificial – portanto, um robô fazer as perguntas e a pessoa responder. Eles disseram-me que sim.
Iniciou-se aí a parceria, em fevereiro. Já tive acesso ao primeiro protótipo da aplicação. Não podia pedir melhor. Estamos a evoluir aos poucos. É bom acompanhar este progresso e saber que esta ideia tem futuro. Neste momento, estou a tentar arranjar parceiros na área da saúde, parcerias com instituições de renome em Portugal. Já consegui fazer uma parceria com a ESEP, onde tirei o curso de Enfermagem; consegui o apoio do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses; e a reunião com a bastonária foi para conseguir o apoio da Ordem. A aplicação, tendo o apoio destas instituições, terá possivelmente outra viabilidade.
Tenho mandado vários emails para outro tipo de empresas – não só da área da saúde, mas também das telecomunicações. Contactei, por exemplo, a Wells, porque nós temos autonomia, neste projeto, para prescrever medicação de venda livre nas farmácias. Sintomas mais ligeiros podem ser resolvidos sem ser necessário ir à urgência do hospital ou ao centro de saúde.
Não existe nada disto em Portugal. A ideia é chegar às pessoas, é tentar fazer com que o robô que está do outro lado faça sentir que se está a falar com um profissional de saúde.
HN- O contacto será exclusivamente com o robô?
RS- Não. Inicialmente, vamos testar. Vamos ter uma linha de apoio técnico, que será gerida por mim no início, no caso de as pessoas terem dúvidas. Não é para fazer a triagem, porque essa será feita pela aplicação; mas, se a pessoa tiver uma dúvida e estiver aflita, vai poder ligar, num determinado horário porque trabalho no hospital de Gaia. Portanto, vai haver um chat onde as pessoas podem esclarecer dúvidas. O foco principal será sempre a triagem, o aconselhamento e o encaminhamento, quer seja cuidados de saúde em casa, quer seja para centro de saúde ou urgência hospitalar. No protótipo que já me mostraram, um mapa indica o hospital ou centro de saúde mais próximo.
Têm sido dias de muitas reuniões, de muitos contactos; mas, finalmente, já estou a ver resultados, e é motivador.
A aplicação vai ser gratuita.
HN- Quais são as grandes vantagens para o sistema de saúde e para os utentes?
RS- As grandes vantagens são: tempo de espera muito mais reduzido; as urgências dos hospitais vão estar menos entupidas e o fluxo nos centros de saúde também diminuirá. Muitas vezes as pessoas não sabem… E eu compreendo. Eu sou profissional e sei distinguir o que é grave do que não é grave, se é preciso ir ao hospital ou não; mas as pessoas comuns não sabem e ficam preocupadas com as coisas. Esta ferramenta vai dar esta resposta, vai dar esta solução mais imediata. E pode-se aceder em qualquer lado.
HN- O que é que espera alcançar este ano?
RS- Antes de mais, ter a aplicação pronta. Eu não estabeleci timelines, mas acredito que em abril/maio já esteja operacional, se tudo correr bem. Vai ter de haver muita divulgação. Também estou a tratar da parte de publicidade e marketing. A parceria que fiz também vai ajudar nesse sentido. Espero que isto seja falado e que as pessoas adiram.
HN- É complementar, então, ao SNS 24.
R- É isso. Não é concorrência ao SNS 24. É para ser uma alternativa e um complemento. É para ser uma ajuda para as pessoas que precisam.
Entrevista de Rita Antunes
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