O presidente da Associação Portuguesa de Genéricos (Apogen) defendeu que a diferença de preços entre medicamentos genéricos e de marca deveria ser maior em medicamentos originalmente mais caros.

“Pode fazer sentido que em medicamentos de preço elevado o diferencial seja 50 por cento, mas também pode fazer sentido que em medicamentos de preço mais baixo o diferencial só deva ser, por exemplo, de 20 por cento”, sustentou Paulo Lilaia.

Questionado pela Lusa a propósito de uma notícia publicada na edição de sexta-feira do semanário Sol que refere um alegado ajuste de última hora entre o Governo e a 'troika' para que os medicamentos genéricos passassem a ser 50 por cento mais baratos do que os originais - e não 40 por cento como tinha sido anunciado -, Paulo Lilaia disse desconhecer esta alteração.

“O que está previsto e já foi comunicado pelo próprio Governo é que na entrada do primeiro medicamento genérico, em vez de o preço ser apenas 35 por cento inferior ao preço do original, terá de ser 40 por cento inferior. Isso sim é aquilo que já foi publicado”, afirmou.

Contudo, o presidente da Apogen considera que o que faz sentido é que exista mais do que um escalão, em vez de se aplicar a regra de menos 40 por cento a todos os medicamentos.

“A nossa perceção é de que, da parte do Governo, querem cumprir escrupulosamente aquilo que está no acordo com a troika e que acham necessário fazer poupanças muito significativas. Somos os primeiros a concordar, achamos é que isto tem de ser feito com algum cuidado. No caso do setor do medicamento é preciso olhar para dois segmentos com comportamentos completamente diferentes”, acrescentou

No caso do segmento do ambulatório (farmácias de rua), “a despesa total do Estado com medicamentos está a reduzir-se 25 por cento versus o ano anterior, ao contrário da despesa com medicamentos ao nível hospitalar que está a descer quatro por cento”, disse.

Assim, entende o responsável, “a poupança que está a ser gerada no ambulatório é uma poupança brutal e com impacto brutal da indústria farmacêutica no geral”.

De acordo com o responsável da Apogen, “os genéricos representam apenas 20 por cento do custo total com medicamentos, o que significa que, por maior que seja o esforço da indústria de genéricos, o valor da poupança nunca será suficiente”.

“É obvio que o esforço tem de ser devidamente repartido por toda a indústria farmacêutica e, particularmente, pela indústria farmacêutica de inovação porque é aquela que tem os preços mais elevados”, frisou.

Segundo disse à Lusa, “há muitos medicamentos de preço muito elevado que são apenas pseudo-inovações. E só nesses há centenas de milhões de euros a poupar, eventualmente”.

A Lusa contactou o Ministério da Saúde, mas até ao momento ainda não foi possível obter esclarecimentos sobre esta matéria. Na quarta-feira, numa visita ao hospital de Faro, o ministro da Saúde anunciou que até ao fim de setembro seriam implementadas alterações “muito substanciais” na política do medicamento e até ao final do ano um pacote para reduzir os custos nesta área, adiantando que a expetativa é poupar “mais de 500 milhões de euros”, conforme os objetivos da “troika” que negociou a ajuda financeira ao país.

28 de agosto de 2011

Fonte: Lusa