O estudo da instituição norte-americana, publicado hoje na revista científica Cell, refere que apesar de os arterivírus serem já considerados uma ameaça crítica para os macacos nenhuma infeção humana foi reportada até à data, sendo incerto o impacto que o vírus teria nas pessoas. De acordo com os investigadores, esta família de vírus tem causado sintomas fatais semelhantes aos provocados pelo Ébola em alguns macacos.

Perante as incertezas sobre o seu impacto nos humanos, os autores do estudo alertam para a necessidade de a saúde pública global estar atenta à evolução do vírus, no sentido de evitar uma outra potencial pandemia. "Este vírus descobriu como obter acesso a células humanas, multiplicar-se e escapar a alguns dos importantes mecanismos imunológicos que esperaríamos que nos protegessem de um vírus animal. Isso é muito raro", alertou Sara Sawyer, uma das investigadoras envolvidas no estudo e professora de biologia molecular e celular na Universidade de Boulder.

A cientista, citada num comunicado da universidade sobre a publicação do estudo, lembra que existem milhares de vírus em circulação entre animais, a maioria dos quais sem causar sintomas, mas nas últimas décadas regista-se um número crescente de vírus que têm sido transmitidos aos humanos, fragilizando os seus sistemas imunitários “sem experiência em combatê-los”.

Os investigadores recordam os casos da Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS) em 2012, da Síndrome Respiratória Aguda Grave do Coronavírus (SARS-CoV) em 2003 e do SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, já em 2020.

Durante 15 anos, a equipa de Sara Sawyer recorreu a várias técnicas laboratoriais e amostras de tecidos de animais selvagens de todo o mundo para detetar quais os vírus animais que podem ser propensos a uma transmissão para os humanos. Para a investigação agora publicada, os cientistas envolvidos na pesquisa dedicaram-se especificamente aos arterivírus, que são comuns também entre porcos e cavalos.

O estudo demonstrou que uma molécula, ou recetor, chamado CD163, desempenha um papel fundamental na biologia dos arterivírus símios, permitindo que o vírus invada e cause infeção das células-alvo.

Vírus com capacidade de entrar nas células humanas

Através de uma série de experiências laboratoriais, os investigadores descobriram que o vírus também era "notavelmente adaptável" à versão humana da CD163, com capacidade de entrar nas células humanas e rapidamente fazer cópias de si mesmo. “Tal como o vírus da imunodeficiência humana (VIH) e o seu precursor, o vírus da imunodeficiência símia (SIV), os arterivírus símios também parecem atacar as células imunitárias, desativando mecanismos chave de defesa e tomando conta do corpo a longo prazo”, referem as conclusões do estudo.

Apesar de salientarem que “outra pandemia não está iminente”, os investigadores aconselham a comunidade de saúde global a dar prioridade ao estudo mais aprofundado dos arterivírus símios, desenvolvendo testes de anticorpos sanguíneos, e considerando a vigilância das populações humanas com um contacto próximo com as espécies em causa.

"A covid-19 é apenas a mais recente de uma longa série de eventos de transmissão de animais para humanos, alguns dos quais resultaram em catástrofes globais", salientou Sara Sawyer, para quem a consciencialização para vigilância dos vírus permite a necessária antecipação no caso de ocorrerem infeções entre humanos.

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