Cantar em grupo não é uma atividade de risco, mas para os membros deste coro do Reino Unido pode ser fatal. Todos são portadores de uma condição genética crónica, a fibrose quística. Se se reunissem no mesmo espaço, poderiam transmitir infeções fatais entre si.

Ser portador de fibrose quística significa ter uma disfunção genética nas células que leva à acumulação de um muco espesso nos pulmões, pâncreas, fígado e intestino e que deixa os órgãos vulneráveis à contaminação por micro-organismos. Esse muco favorece o desenvolvimento de infeções que reduzem permanentemente a função pulmonar e que podem matar, explica a BBC.

Por outro lado, os pulmões dos portadores de fibrose quística abrigam bactérias específicas que costumam ser inofensivas para a maioria das pessoas saudáveis, mas que são letais para quem tem a patologia e ainda não teve contacto com a infeção. Metade dos pessoas com fibrose quística não vive além dos 28 anos, segundo a OMS.

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Algumas bactérias, como a Burkholderia cepacia complex e a Pseudomonas aeruginosa, são trasmitidas por contacto direto, quer pela presença num mesmo ambiente, quer pela partilha de equipamentos médicos, talheres ou utensílios de cozinha. Por isso, os médicos aconselham que os pacientes evitem qualquer contacto físico com outras pessoas com a mesma doença. Mas Bianca Nicolas, uma das portadoras da patologia, quis mudar essa regra. Para isso, criou um coro capaz de reunir, mesmo que virtualmente, pessoas com fibrose quística.

A jovem doente - da ONG Cystic Fibrosis Trust - coordenou uma equipa de 12 membros para que cantassem, juntos mas separados, a música "One Voice", parte do álbum beneficente "Choirs with purpose", de uma ONG britânica com o mesmo nome.

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"Não podemos estar todos no mesmo espaço ao mesmo tempo. Se fizéssemos isso, poderíamos ficar bem doentes", diz Bianca. "Nós somos as únicas pessoas que podemos realmente entender o que estamos a passar e o difícil é não nos podermos encontrar", explica. Por isso, admite, a coordenação da gravação foi um "pesadelo logístico".

Cada integrante teve de gravar a sua voz sozinho num estúdio de Londres que depois foi lavado e desinfetado doze vezes. Todas superfícies com as quais a pessoa podia ter tido contato foram limpas e esperou-se pelo menos duas horas entre a saída de um membro e a entrada de outro para garantir a segurança.