
Chantal Prudêncio, enfermeira há 19 anos e especialista em saúde materna e obstetrícia há oito, considerou, no Porto, “inadmissível” que se ponha em causa a greve dos enfermeiros que hoje começou, apenas porque “nunca houve tanta adesão”.
“Em 20 anos de carreira, nunca vi nenhuma greve de enfermagem ser posta em causa, e nunca houve esta adesão”, afirmou aos jornalistas na concentração que reúne, desde o início da manhã, centenas de enfermeiros à porta do Hospital de São João, no Porto.
Chantal Prudêncio considerou que “não é o senhor ministro Adalberto [Campos Fernandes, ministro da Saúde] que tem de se pronunciar relativamente à irregularidade desta greve, é o tribunal arbitral”.
“Enquanto o tribunal arbitral não se manifestar, continuo em greve. Não tenho de ter medo de nada, não sou imoral, não sou irresponsável, não sou ilegal e nunca abandonei o meu serviço, nem deixei os meus doentes sem prestação de cuidados”, sublinhou.
Disse ser “enfermeira por paixão e convicção, mas cansada de ser maltratada, de ser desrespeitada e de exigirem que tenha determinadas habilitações para um bom serviço sem, contudo, pagarem de forma diferenciada”.
“Faço dez noites num mês, salvo vidas de mães e crianças, nas salas de partos, na urgência, no internamento, e o meu salário é de 980 euros, quase o mesmo que recebia há 20 anos. Eu não tenho de me comparar a nenhuma classe, eu não tenho de enxovalhar uma classe para dignificar a minha, eu tenho é de mostrar o meu trabalho de excelência, ser tratada com respeito e ser paga e valorizada de acordo com as minhas habilitações”, acrescentou.
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Vinda do Centro Hospitalar de Trás os Montes e Alto Douro, Sara Rego, também especialista em saúde materna, disse que, “neste momento, o protesto é em defesa de toda a enfermagem”.
“Necessitamos de uma valorização de toda a enfermagem, precisamos de uma carreira, de uma remuneração justa e que nos tratem com dignidade, o que não tem sido feito. Eu trabalho há 12 anos e há 12 anos que me mantenho sempre igual, não tenho qualquer perspetiva de carreira”, sublinhou.
Esta enfermeira disse ainda acreditar que a adesão vá ser superior a 85%, “porque se tem notado uma união extraordinária entre os colegas”.
Concentrados desde o início da manhã em frente ao Hospital de São João do Porto, centenas de enfermeiros entoam palavras de ordem em defesa da classe, tendo também já cantado o hino nacional.
A greve dos enfermeiros decorrerá até sexta-feira, contra a recusa do Ministério da Saúde em aceitar a proposta de atualização gradual dos salários e de integração da categoria de especialista na carreira.
A greve foi marcada pelo Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem (SIPE) e pelo Sindicato dos Enfermeiros (SE) para o período entre as 00:00 de hoje e as 24:00 de sexta-feira.
Os enfermeiros reivindicam a introdução da categoria de especialista na carreira de enfermagem, com respetivo aumento salarial, bem como a aplicação do regime das 35 horas de trabalho para todos os enfermeiros, mas a Secretaria de Estado do Emprego considerou irregular a marcação desta greve, alegando que o pré-aviso não cumpriu os dez dias úteis que determina a lei.
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