Mais de 30% da população portuguesa sofre de dor crónica, problema de saúde pública que custa três mil milhões de euros por ano em Portugal, revela um estudo da Faculdade de Medicina do Porto.

O estudo nacional sobre o impacto da dor crónica na sociedade portuguesa vai ser apresentado esta sexta-feira no congresso da Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED).

O estudo epidemiológico, que envolveu mais de cinco mil entrevistas, recomenda a adopção de medidas que reduzam as consequências da dor crónica, não só pela sua gravidade e modo como afecta cerca de 30% da população adulta portuguesa, mas também pelos altos custos que lhe estão associados.

A investigação revela também que cerca de metade dos custos da dor crónica (1,6 mil milhões de euros) deve-se a despesas com cuidados de saúde, enquanto o restante resulta dos chamados custos indirectos, como o absentismo e as reformas antecipadas.

O estudo indica também que mais de 25% dos doentes que estão a ser tratados para a dor não estão satisfeitos com a terapêutica, justificando com a ineficácia da medicação prescrita e a falta de atenção que o médico dedicou à dor. Uma percentagem significativa dos inquiridos foi reformada precocemente devido à dor e uma boa parte desses doentes teve uma baixa prolongada, adianta o inquérito.

José Romão, presidente da APED e coordenador da unidade de dor crónica do Hospital de Santo António, no Porto, explicou que a dor crónica é um estado de dor persistente, sendo as causas mais frequentes osteoartrose, lombalgia crónica e artrite reumatóide. Se a dor não for adequadamente tratada, a qualidade de vida da pessoa poderá ser gravemente afectada, podendo até levar à incapacidade para trabalhar, disse, acrescentando que tem impactos importantes a nível individual, familiar e social.

A dor crónica afecta todos os estratos etários, sendo comum em idades mais avançadas, e atinge sobretudo as mulheres. José Romão sublinhou também que a «realidade de quem sofre de dor crónica em Portugal tem sido muitas vezes negligenciada e os efeitos na economia e na sociedade são ignorados desde sempre».

O especialista considerou que é negligenciada ao nível dos profissionais da saúde, existindo uma cultura instalada de desvalorização da dor entre médicos e enfermeiros, que começa logo na fase de formação.

Fonte: Lusa

2010-10-15