"A prevalência da doença é grande e temos dificuldade em ter estudos epidemiológicos em Portugal, mas fizemos um com o apoio da Associação de Doentes de Parkinson e a prevalência estimada é de 180 por 100 mil habitantes", adiantou a especialista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
Na terça-feira, 11 de abril, assinala-se o Dia Mundial da doença, que atinge mais de uma em cada mil pessoas na Europa. É a data de nascimento do médico James Parkinson, o primeiro a descrever a doença faz precisamente 200 anos.
Salientando que a doença de Parkinson é "também uma patologia do envelhecimento", a médica Cristina Januário alerta que a população portuguesa está a envelhecer, o que aumenta a sua prevalência.
Apesar de a doença ser progressiva e de ainda não se poder travar o seu curso, alguns doentes conseguem reunir os requisitos para se submeterem a uma terapêutica disponível desde 2002 em Portugal, que consiste no implante de um dispositivo que estimula núcleos específicos no cérebro.
Nos últimos anos, várias centenas de doentes em Portugal recuperaram autonomia e mobilidade através daquela cirurgia inovadora, que trouxe melhorias significativas na qualidade de vida dos pacientes ao baixar as dosagens de medicação e ao reduzir os sintomas motores.
"A eficácia desta intervenção depende muito da seleção dos doentes, porque nem todos podem ser submetidos à cirurgia, nem todos têm eficácia com esse tratamento. E depois há um acompanhamento no pós-operatório que é fundamental", considerou o neurologista Fradique Moreira, da consulta de estimulação cerebral profunda nos CHUC.
A cirurgia é normalmente feita a doentes com estádios mais avançados da doença, mas que tenham uma boa resposta à levodopa, fármaco que substitui o défice de dopamina, um neurotransmissor que deixa de ser fabricado com a doença de Parkinson.
De acordo com o especialista, existem três etapas fundamentais para o sucesso da cirurgia.
"A seleção criteriosa, saber o doente que temos à frente e gerir as suas expectativas, e o acompanhamento pós-operatório".
Para Cristina Januário, o grande objetivo da intervenção passa por baixar a dose de medicamentos que o doente toma, porque tem efeitos secundários, e reduzir os sintomas motores.
"Conseguimos dar uma boa qualidade de vida e melhorar os sintomas que já não estavam a ser controlados pela medicação. O doente fica com uma boa capacidade motora, mas a doença continua a progredir, pois é degenerativa e ainda não conseguimos travar o seu curso", observou.
Segundo Fradique Moreira, no acompanhamento pós-operatório é feita uma gestão entre a estimulação que é fornecida ao doente e a gestão também da medicação.
"Não se opera o doente e o processo está terminado. O objetivo é restabelecer o funcionamento normal de um circuito cerebral anómalo, através da aplicação de um estímulo elétrico num núcleo específico que faz parte desse circuito, que servirá de marca-passo para o funcionamento celular", explicou o neurologista, salientando que é necessário ajustar e regular o aumento da estimulação e o decréscimo da medicação.
No CHUC, unidade que realiza esta intervenção desde final de 2012, já foram operadas cerca de 40 doentes, numa média de cerca de um por mês, mas o objetivo é continuar a crescer.
Anualmente, a especialidade de doenças do movimento naquela unidade hospitalar realiza cerca de 2.600 consultas, sendo maioritariamente referentes à doença de Parkinson.
O grande desafio da doença, que afeta quase 20 mil portugueses, é descobrir o mecanismo que leva um grupo de neurónios a deixar de produzir a substância dopamina, considerou a neurologista Cristina Januário.
"O grande desafio passa, sobretudo, por entender qual o mecanismo que leva a que aqueles neurónios deixem de produzir a substância que deviam produzir, aí é que será a forma mais interessante de atuar", frisou a especialista do CHUC.
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