Filomena Martins, 62 anos

Deixou de fumar há 18 anos

Comecei a fumar com 18 anos e apesar de não fumar muito - apenas meia dúzia de cigarros por dia - fui aumentado progressivamente. Entretanto divorciei-me e comecei a fumar mais: uma média de 15 a 20 cigarros por dia. Passados uns anos a minha vida relacional estabilizou, voltei a casar e o meu segundo marido também era fumador.

Eu e o meu marido sempre tivemos uma vida extremamente ocupada, stressante e pouco relaxada por causa filhos e por trabalharmos os dois num hospital. Para mim, fumar era um momento de prazer e convenci-me a mim própria de que aliviava o stress. Já tinha tentado deixar de fumar uma primeira vez mas voltei porque não tinha pensado efetivamente no quão terrível é esse vício em termos de saúde. Era uma fumadora muito cuidadosa com os outros e pouca cuidadosa comigo.

Há cerca de 18 anos o meu marido teve uma doença cardíaca e teve de ser internado para fazer uma cirúrgica torácica. Durante o período em que o fui visitar, ainda fumava. Um dia a situação agravou, saí da visita e pensei na minha vida. E nesse dia fumei o meu último cigarro. O meu foco foi que isso era o melhor para mim, para os meus filhos e para o meu marido.

Não fiz tratamento nem medicação nenhuma. Acho que me consciencializei de tal forma da asneira que estava a fazer e de que era algo que eu queria muito que isso foi suficiente. A única coisa que fiz foi reduzir a quantidade de café.

Não tive sinais de abstinência porque quase não tinha tempo para pensar "apetecia-me um cigarro" tendo em conta a situação familiar que estava a viver. E a verdade é que o facto de deixar de fumar não me deixou mais stressada. Deixei de fumar numa situação stressante, pois tinha o meu marido numa situação clínica grave, e não precisei do cigarro para ultrapassar essa situação. Ocupava o meu tempo com o meu trabalho, com os meus e filhos e a minha casa. Limpava o que estava limpo e arrumava o que estava arrumado.

No início custou-me estar em contextos sociais com outros fumadores, principalmente quando terminava de almoçar e alguém puxava de um cigarro. Verbalizava muitas vezes "que cheirinho bom. Um cigarrinho por cima do café ia mesmo a calhar". Ofereciam-me muitas vezes, mas eu dizia sempre que nunca mais ia experimentar. Esta era segunda e derradeira tentativa.

As principais diferenças que senti foi o olfato muito mais apurado e senti-me mais limpa, porque enquanto se fuma, a roupa, as mãos e o cabelo cheiram a cigarro. Como também fiquei com o paladar mais apurado, comecei a comer mais.

O cigarro é um veneno terrível e a verdade é que nos sentimos mais saudáveis quando deixamos de fumar.

Bárbara Gouveia, 35 anos

Deixou de fumar há cinco meses

Comecei a fumar com 15/16 anos nos intervalos da escola e achava que nunca que ia ficar viciada. Foi uma coisa rápida. No início não fumava muito mas rapidamente comecei a fumar um maço.

Era uma fumadora que gostava de fumo, de lugares com fumo e, como não gostava de ficar muito tempo sem fumar, não corria o risco de me faltarem cigarros: tinha sempre volumes em casa. Fumar era algo que me dava prazer e dava ritmo aos meus dias. Como alguém um dia disse: “Os cigarros são a pontuação da vida de um fumador” e sempre me identifiquei muito com isso.

Comecei a pensar em largar o tabaco mas era algo com que não queria lidar imediatamente por isso, ao longo dos últimos dois anos, fui aprofundando a ideia de não querer continuar a fazer mal a mim própria. Fui reunindo ideias que me fizessem largar os cigarros, como, por exemplo, fazer listas com vantagens e li muito sobre o tema. Marquei uma consulta antitabágica e meti na cabeça que queria deixar de fumar no dia 1 de janeiro 2020 de forma a começar o ano com coisas boas e saudáveis.

Tomei um medicamento que inibe a vontade de fumar sem nicotina durante 12 semanas. Como boa viciada, achei que nada me ia tirar a vontade de fumar mas a verdade é que consegui. Os primeiros dias de tratamento foram cheios de enjoos e náuseas, tendo perdido mesmo a vontade de fumar. Se o fizesse, davam-me pontadas na cabeça. Foi muito violento.

Uma coisa que senti neste processo é que os cheiros mudaram: antes quando entrava no autocarro não sabia quem fumava e agora sei. Este mundo novo, em que identifico mais o cheiro do cigarro, é um bocado assustador.

Com o isolamento não sofri muito. Larguei o medicamento há dois meses e por estar confinada em casa, mais aborrecida e descontraída na luta contra os cigarros, queria fumar um cigarro para relaxar. Posso ter vontade de o fazer, mas isso é fácil de lidar, até porque os cigarros não trazem nada de bom. Sem dúvida nenhuma que o mais difícil foi tomar a decisão de deixar de fumar.

Sei que há muitas pessoas que associam o cigarro ao prazer, mas a verdade é que essas coisas existem independentemente dos cigarros. Apesar de ter deixado de fumar, decidi manter os hábitos que adquiri enquanto fumadora – fazer pausas ao longo do dia – pois percebi que me faziam bem.

Alice Fragoso, 78 anos

Deixou de fumar há cinco anos

Comecei a fumar com 28 anos, época em que estava grávida da minha primeira filha. Sei exatamente o sítio onde estava: numa esplanada na Praia das Maçãs. Na altura o meu marido puxou por um cigarro e eu experimentei. Devido à minha situação profissional, em que trabalhava sozinha numa gabinete, comecei a fumar. Consumia um maço por dia e fumava em qualquer lugar. Não o fazia por prazer, mas pela necessidade de extravasar os meus problemas.

Ao longo dos anos comecei a fumar cada vez mais e, com o passar do tempo, comecei a notar que a minha saúde estava a ser prejudicada, especialmente a parte respiratória. Apesar de fumar, o cheiro do tabaco incomodava-me e isso foi uma ajuda para tomar a decisão de largar o tabaco.

Um dia um amigo falou-me numa clínica em Beja que fazia tratamento através de estímulos electroestáticos e no fim de semana antes de lá ir, fui ao mesmo sítio onde comecei a fumar e mentalizei-me de que ia largar o tabaco. Era uma coisa que eu queria muito. Estava muito ansiosa para deixar de fumar.

Fumei o meu último cigarro na madrugada antes de ir à consulta. Quando cheguei a Beja deitei o resto do maço fora no caixote do lixo. Lembro-me que às 10h da manhã uma das pracetas principais da cidade estava completamente cheia de pessoas. Assisti a uma palestra com o médico e quando me recebeu no consultório disse-me que ia fazer um tratamento ao ouvido e ao nariz: colocou um fio elétrico, com uma ponta em metal, e deu um choque em cada orelha e outro em cada em narina. Esta foi a primeira e única tentativa para deixar de fumar.

No início fugia do cheiro a tabaco, de grupos e sítios onde se fumasse com medo de uma recaída. Estava com muito receio de me sentir ansiosa ao largar o tabaco mas mão senti sintomas de abstinência nenhuns. A única desvantagem é que engordei um bocadinho. Atualmente podem fumar ao pé de mim que estou bem.

Comecei a fumar na Praia das Maçãs e, ainda hoje, sempre que vou para aqueles lados, sento-me praticamente no mesmo sítio onde tomei a decisão de deixar de fumar e bebo um café. Só não fumo o cigarro. É um ritual.

Texto publicado pela primeira vez em maio de 2020.

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