Grande parte do dia-a-dia é passado em contacto com luzes LED, seja no computador, tablet , telemóvel, rua ou trânsito. São energeticamente eficientes, duráveis, compactas e sem emissão de calor, mas a sua segurança não é consensual.
A Comissão Europeia solicitou ao Comité Científico dos Riscos Sanitários, Ambientais e Emergentes (SCHEER) uma avaliação deste tipo de luzes para determinar se representam algum perigo para a saúde humana. Mas segundo a DECO, os resultados afastam riscos e desfazem alguns mitos.
"As luzes LED são pequenas lâmpadas num circuito elétrico que produzem radiação ótica quando os eletrões se movimentam dentro de um diodo ou dispositivo semicondutor. Os dispositivos de LED emitem radiação ótica que não penetra no corpo, mas existiam dúvidas se poderia danificar os olhos e a pele consoante o tempo de exposição, o comprimento de onda e a intensidade da luz", frisa a DECO.
Opinião diferente
Opinião diferente é a de Raul Cerveira Lima, professor na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico do Porto. Para este especialista, as LED brancas, que "simulam o dia", estão a transformar a "paisagem noturna" e a ser instaladas "sem qualquer ponderação sobre os seus efeitos" na saúde humana, nos ecossistemas e no ambiente.
"Nunca houve tanta luz à noite como agora", afirma, acrescentando que as LED brancas, publicitadas "como o último grito" da iluminação devido à sua maior eficiência energética quando comparadas com outras luzes, estão a levar ao aumento do seu consumo. "Estão a entrar em massa nas nossas casas e estão a ser postas em massa no exterior", assinala. Consequência: "aumento da poluição luminosa [iluminação excessiva] a grandes distâncias" porque a "luz branca espalha-se muito mais".
Alguns estudos mostram que o brilho dos ecrãs LED nos televisores, computadores, telemóveis, tablets e brinquedos é inferior a 10% da quantidade máxima dos limites de segurança estabelecidos para proteger a retina de lesões. "Ou seja, os aparelhos que usam LED não representam risco para os olhos em uso normal", assevera a DECO.
"A exposição típica à radiação ótica de LEDs é insignificante comparada com a do sol. Outros tipos de iluminação também emitem radiação ótica, que faz parte do espectro eletromagnético. No entanto, ao contrário das luzes tradicionais, a maioria das luzes LED usadas atualmente emite pouco ou nenhum infravermelho", diz aquela associação. "Alguns tipos mais antigos de luzes LED usadas nas ruas podem encandear quando olhados diretamente. As luzes LED dos carros, sobretudo os faróis, também podem ser uma fonte de brilho que incomoda, especialmente, os idosos", acrescenta.
"De um modo geral, toda a luz afeta o ritmo circadiano, sobretudo a luz natural (dia) e a fase escura (noite), mas também a luz artificial. Existem algumas evidências de que o uso de LEDs à noite pode influenciar a qualidade do sono", defende a DECO.
Perturbação do sono e risco de cancro
Segundo Raul Cerveira Lima, um dos efeitos nocivos das lâmpadas LED é, de facto, a perturbação no sono. A luz LED branca tem na sua composição um comprimento de onda azul muito pronunciado que, explica, agrava, quando comparada com outras luzes, a redução da produção de melatonina, a hormona do sono que é desencadeada à medida que escurece o dia. A privação do sono pode aumentar o risco de depressão, obesidade, diabetes e potenciar o cancro de origem hormonal (cancro da mama e da próstata).
Em experiências de laboratório, realça Raul Cerveira Lima, o cancro da mama "evoluiu muito mais rapidamente" nos ratinhos que estavam expostos a luz LED branca. Nas aves migratórias, o excesso de iluminação exterior, potenciado por estas luzes, está desorientá-las e a encandeá-las.
"Morrem aos milhões em países como os Estados Unidos e o Canadá por desorientação", descreve o docente, que também é membro do Centro de Investigação da Terra e do Espaço e do Observatório Geofísico e Astronómico, ambos da Universidade de Coimbra.
A Alemanha, conta, reduziu a iluminação pública porque o número de insetos estava a diminuir, um facto "inexplicável só pelo uso de pesticidas". As aranhas "beneficiam temporariamente" da luz artificial, que atrai presas como os insetos.
Raul Cerveira Lima avisa que a luminosidade por elas difundida afeta também a vida de espécies como os pirilampos, que "não conseguem comunicar" através da luz fosforescente que emitem naturalmente devido ao excesso de luz artificial, e das plantas, que não têm "descanso noturno" e crescem de dia e de noite. "Nas árvores das grandes cidades é visível ainda no inverno a persistência de algumas folhas em ramos próximos de candeeiros", refere.
A estes efeitos, o especialista acrescenta o desperdício de energia e a emissão de mais dióxido de carbono para a atmosfera, uma vez que "a tendência tem sido pôr mais luz LED branca" nas ruas, em substituição da luz alaranjada das lâmpadas de vapor de sódio, porque "é mais económica". "Está-se a gastar mais do que o necessário", aponta.
Como solução, Raul Cerveira Lima sugere o uso em casa ou na rua das lâmpadas LED âmbar ou LED PC âmbar, de cor amarelo-alaranjada, que, apesar de serem "ligeiramente mais caras e menos eficientes" do que as lâmpadas LED brancas, "não têm os seus impactos".
Raul Cerveira Lima apela ao "bom senso na utilização da luz", lamentando que se esteja "a aceitar em Portugal, sem qualquer discussão pública, a transformação da paisagem noturna, cujos efeitos vão ser por anos, provavelmente décadas, e com consequências imprevisíveis".
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