A enfermagem é uma profissão que exige não apenas habilidades técnicas, mas também uma profunda empatia e respeito pela dignidade humana. Num contexto onde a tecnologia e a complexidade dos cuidados de saúde são frequentemente enaltecidas, algumas tarefas essenciais como o auto-cuidado higiene (aka banho), são subestimadas e rotuladas como “menores”. No entanto, essa perceção deturpa a verdadeira essência do cuidado empático e respeitoso, essencial para a prática de enfermagem.

Reconhecer o corpo como uma expressão de existência e perceção amplia nossa compreensão do que significa cuidar e ser cuidado. A corporeidade, ou a vivência do corpo como parte integral da identidade e experiência humana, é um conceito central no cuidado de enfermagem. O corpo é um território sagrado que deve ser tratado com respeito e sensibilidade. Cuidar do “corpo” da pessoa não é simplesmente uma questão de higiene; é uma expressão tangível do cuidado, respeito e valorização do ser humano na sua plenitude. Durante o processo de banho, o enfermeiro não “limpa apenas” o corpo da pessoa: observa, avalia, intervém. Além disso, o banho surge como um momento de conforto e alívio, especialmente para aqueles que estão confinados ao leito hospitalar. A água morna e o toque terapêutico podem proporcionar uma sensação de bem-estar e de dignidade, manifestando a premissa da pessoa-ser mais do que a pessoa-doença.

O respeito à corporeidade envolve também uma compreensão e sensibilidade cultural, reconhecendo que diferentes pessoas têm diferentes perceções e sentimentos sobre o corpo e sobre como este deve ser tratado. Ver o corpo como mais do que materialidade, como algo que sente, percebe e se expressa, implica um resgate do corpo como ser vivo que deve ser escutado, vivenciado e respeitado. No contexto dos cuidados de enfermagem, significa abordar a pessoa como um ser total, com necessidades e uma história de vida. O cuidado ao corpo é, portanto, uma expressão fundamental da missão da enfermagem: cuidar com respeito pela dignidade e existência. Ao valorizar a corporeidade e reconhecer a importância dessas tarefas “menores”, reafirmamos o valor intrínseco do papel do enfermeiro como cuidador não apenas do corpo físico, mas do ser humano na sua plenitude. Esta perspetiva não só enriquece a prática profissional, mas também eleva a dignidade e a qualidade dos cuidados prestados.

A cultura (auto)inculcada de significação de tarefa “menor” reflete uma compreensão superficial do papel do enfermeiro. É fundamental que a formação dos enfermeiros sublinhe a importância destas intervenções. Contudo, é igualmente crucial que os próprios enfermeiros valorizem o seu bem mais precioso: a dimensão humana da profissão.