Em declarações hoje aos jornalistas na cidade do Mindelo, a presidente do conselho de administração daquele hospital, Ana Brito, explicou que além da pandemia de covid-19 — com aumento exponencial de casos em São Vicente nos últimos dias -, a ilha está a enfrentar outros surtos de “viroses”.

“Ao todo temos cerca de 40 profissionais, das diversas categorias, infetados, o que nos deixa bastante prejudicados no nosso dia-a-dia. Portanto, fizemos a reorganização em termos de escalas, com escalas mais apertadas, mas já sabemos que a convalescença é de sete dias, dos casos leves, e felizmente temos toda a gente do hospital vacinada. E muitos já tomaram a dose de reforço”, assegurou Ana Brito.

As autoridades sanitárias de Cabo Verde confirmaram na terça-feira que a nova variante Ómicron já circula no país, no mesmo dia em que se registou um recorde de 1.025 novos infetados com covid-19 em 24 horas. Destes, 237 casos foram registados em São Vicente, que já conta com mais de 1.000 casos ativos da doença neste momento.

“Era esperado porque é um vírus que se propaga bastante rápido, nesta altura toda gente tem mais familiares em casa, toda gente está a comemorar o seu Natal com os familiares. Apesar da vacinação que tem mostrado o seu efeito, porque não temos tido casos muito graves”, declarou a presidente do conselho de administração do Hospital Doutor Baptista de Sousa, que serve várias ilhas do norte do arquipélago.

De acordo com a responsável, destes infetados naquele hospital não há nenhum profissional a necessitar de cuidados especiais ou que esteja internado, pelo que estão a ser acompanhados em casa. Contudo, a situação tem acarretado mais trabalho aos restantes funcionários, que viram aumentar a carga horária, num período que outros surtos, como de gripe, têm vindo a congestionar as urgências do hospital.

“Tem havido muita afluência ao banco de urgência e temos tido algum constrangimento em termos de demora no atendimento. Tanto os médicos, enfermeiros, ajudantes de serviços gerais, como técnicos já estão a fazer muitos esforços porque passam mais tempo no hospital até que os colegas cheguem”, lamentou.

O congestionamento dos serviços, admitiu ainda, tem sido provocado pelo uso incorreto dos serviços de saúde e por isso apela à população a procurar o serviço de urgência apenas nos casos urgentes, fazendo uso dos centros de saúde nas restantes situações.

“Precisamos usar o nosso sistema de saúde de forma organizada e a organização é que quem tem sintomas deve ficar em casa e trata-se como se faz com qualquer gripe, porque a maior parte das pessoas não irão ter mais de uma gripe, com dores no corpo, febre. Recomendamos paracetamol, bastante hidratação, repouso e que liguem para o centro de saúde da sua zona de residência”, disse ainda.

Neste momento, acrescentou Ana Brito, os centros de saúde estão preparados para atender e orientar as pessoas, inclusive para a realização de testes de despiste à covid-19.

A atual conjuntura em São Vicente levou o hospital a aumentar o atendimento na emergência e a diminuir alguns serviços menos urgentes.

“Estamos com menos cirurgias e não suspendemos totalmente porque estamos a manter toda a reorganização adotada anteriormente”, explicou a administradora.

Por isso, diz que o hospital está reservado para os doentes com evolução mais grave da covid-19 e para as pessoas cujos sintomas ultrapassem os cinco dias, que estejam a aumentar e que tenham dor torácica e falta de ar.

De acordo com o mais recente boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, os laboratórios de virologia do arquipélago processaram 3.005 amostras nas últimas 24 horas, com uma taxa de positividade global para o novo coronavírus de 34,1% e novos casos de covid-19 identificados em todos os municípios.

O país tem registado nos últimos dias recordes diários de novos infetados com o novo coronavírus e confirmou hoje a presença da variante Ómicron a circular no arquipélago.

Foram dadas como recuperadas da doença 254 pessoas e subiu para 354 o acumulado de óbitos por complicações associadas à covid-19, além de 18 por causas externas, desde o início da pandemia.

Cabo Verde passa a contar com um acumulado de 44.592 casos de infeção pelo novo coronavírus, SARS-CoV-2, desde 19 de março de 2020 (quando foi diagnosticado o primeiro infetado no arquipélago), distribuídos por todos os 22 municípios das nove ilhas habitadas, segundo os dados do Ministério da Saúde.

O arquipélago regista hoje 5.568 casos ativos de covid-19 e soma 38.643 casos considerados recuperados da doença, enquanto dois infetados estrangeiros foram transferidos para os países de origem.

A covid-19 provocou 5.448.314 mortes em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em diversos países.

Uma nova variante, a Ómicron, considerada preocupante e muito contagiosa pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, em 24 de novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 110 países.