Nas zonas piscatórias do Caranguejo e do Barreiro, que integram a zona de restrição sanitária adotada na terça-feira pela Autoridade de Saúde, apesar dos cerca de 40 casos de infeção existentes, os populares circulam nas ruas estreitas quase indiferentes à pandemia.
Alguns dos habitantes daquela zona de Rabo de Peixe, com cerca de 10 mil habitantes, não cumprem as regras sanitárias e as próprias habitações não oferecem condições para a realização de quarentena: são de pequena dimensão e os agregados familiares ultrapassam, com frequência, as dez pessoas por casa.
Nas casas de apresto, junto ao porto de pesca, concentram-se várias dezenas de pescadores que preparam o isco para a faina esta noite, que se mostram indignados com a cerca sanitária apenas na zona piscatória.
“Rabo de Peixe é um só, não é dividido em dois. Rabo de Peixe é Peixe. Estão a gozar com as pessoas. Ou faz-se tudo ou não se faz nada”, declara Cláudio Oliveira, pescador, que teme por aqueles que são casados e com encargos.
Jorge Medeiros, que também vive da faina, refere que a “alternativa a ficar em casa para não apanhar a covid-19 é morrer de fome” e sublinha que muitas das habitações da zona piscatória não têm condições para fazer face à pandemia, defendendo uma fiscalização porta a porta em alternativa à cerca.
"Estamos a ser tratados como cães", afirma.
Carolina Gonçalves, de 15 anos, estudante na Escola Secundária das Laranjeiras, em Ponta Delgada, que integra um agregado familiar que já sentiu os efeitos negativos do vírus SARS-CoV-2, sente-se “discriminada porque estão a fazer isso [promover a cerca] na zona piscatória”.
A jovem diz-se “prejudicada” por não conseguir sair de Rabo de Peixe para ir à escola e por “muitos dos professores não mandarem trabalhos”, o que faz com que “perca a matéria dada e testes, e fique mais atrasada” do que os colegas quando regressar às aulas.
Perante o coro de protestos que se faz sentir nas ruas face à presença da comunicação social, a jovem estudante admite que “a maioria está a ser penalizada porque algumas pessoas que estão infetadas não respeitam o confinamento”.
“Acho bem que eles [autoridades] queiram encontrar uma solução para a pandemia da covid-19, mas isso é um exagero, devendo haver mais fiscalização nas casas das pessoas infetadas em alternativa às cercas, ou meter as pessoas em hotéis”, aponta Patrícia Gonçalves, que considera esta situação uma “discriminação para os pescadores”.
João Oliveira, que gere uma mercearia de família na zona da cerca sanitária, afirma que “nem vale a pena sair de casa para fazer negócio” neste cenário, defendendo que “os infetados deveriam realizar a quarentena em hotéis”.
“Quem não quisesse sair de casa, a polícia atuava, uma vez que sabem quais são as casas em que as pessoas estão infetadas”", refere o comerciante local.
A comunidade piscatória de Rabo de Peixe, possui o maior porto de pesca dos Açores, concentrando grande parte do efetivo de pescadores e da frota regional, sendo responsável por grande parte do pescado capturado.
A cerca sanitária foi implementada em toda a vila de Rabo de Peixe no dia 13 de janeiro, tendo sido reduzida para parte da localidade em 05 de fevereiro.
Desde as 00:00 e até 01 de março, ficará ainda mais limitada, restringindo-se à zona piscatória.
Segundo a Autoridade de Saúde, dos 63 casos ativos de infeção registados nos Açores terça-feira, 42 estão na vila de Rabo de Peixe, onde desde quinta-feira foram detetados 16 novos casos.
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