A atividade viral na China “faz aumentar a probabilidade de surgirem novas variantes e subvariantes que podem eventualmente constituir perigo e prolongar a pandemia. Não quero dizer com isto que seja uma probabilidade elevada, é apenas uma probabilidade acrescida”, adiantou à agência Lusa o especialista em bioquímica do Instituto de Medicina Molecular (iMM) da Universidade de Lisboa.
A China está a enfrentar uma onda de infeções pelo coronavírus que provoca a doença covid-19 sem precedentes desde que, recentemente, as autoridades decidiram abandonar a chamada política “covid zero”.
Essa situação “não representa um enorme risco, mas não são boas notícias para quem anseia pelo fim da pandemia”, sublinhou Miguel Castanho, para quem o aumento de infeções está relacionado “muito especificamente com o contexto local chinês”.
O investigador lembrou que a China fez confinamentos “duríssimos, de extremo rigor, e usou uma vacina de baixa eficácia”, o que fez com que a falta de proteção imunológica da população seja “quase total”.
Perante isso, os riscos para uma “Europa vacinada” passam por não conseguir fazer decrescer o número de casos e de vítimas abaixo de um determinado limiar, porque existe uma circulação persistente de vírus a partir de outras regiões geográficas, mas também pelo surgimento de variantes ou subvariantes que escapem, total ou parcialmente, à imunidade conferida pelas vacinas e por infeções anteriores, alertou o especialista do iMM.
Para Miguel Castanho, o controlo de passageiros oriundos da China, já anunciado por vários países, constitui “uma medida típica nestes casos que não deve surpreender”.
Quando existe uma “grande discrepância na situação epidemiológica de duas regiões é natural que se adotem medidas de proteção da região em melhor situação”, avançou o investigador, ao recordar que o “controlo do estado de saúde de passageiros foi uma constante, inclusive entre países europeus, durante a pandemia”.
“Não há razão para abrir uma exceção neste caso. Mesmo para os cidadãos chineses, acabados de sair da política `covid zero´, esta medida é um pequeno preço a pagar pela retoma da sua mobilidade internacional. Não deve haver hesitação na adoção de medidas de controlo de passageiros”, referiu Miguel Castanho.
Na terça-feira, o ministro da Saúde assegurou que “tudo estará preparado” para, em caso de necessidade, serem adotadas medidas de controlo da covid-19 em Portugal, nomeadamente nos aeroportos para viajantes oriundos da China.
“Tudo estará preparado para, se e quando for necessário, adotarmos as medidas de controlo que venham a ser julgadas necessárias”, assegurou Manuel Pizarro.
A China anunciou no final de dezembro que vai reabrir as suas fronteiras a 08 de janeiro, pela primeira vez desde março de 2020, o que fez com que vários países decidissem nos últimos dias exigir que os viajantes oriundos da China tivessem um teste negativo à covid-19 para entrar nos seus territórios.
Um relatório divulgado hoje pela Organização Mundial da Saúde indica que, entre 05 de dezembro e 01 de janeiro, foram registados mais de 14,5 milhões de casos de infeção e mais de 46 mil novas vítimas mortais a nível global, que representam um aumento de 25% e 21%, respetivamente, face aos 28 dias anteriores.
Desde o início da pandemia até 01 de janeiro, foram confirmados mais de 656 milhões de casos de covid-19 no mundo, que resultaram em cerca de 6,6 milhões de mortes, adiantou a organização.
A doença é uma emergência de saúde pública internacional desde 30 de janeiro de 2020 e uma pandemia desde 11 de março de 2020.
Comentários