O número é avançado no relatório “International Migration 2020 Highlights” elaborado pelo Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas (UN DESA, na sigla em inglês).
De acordo com o documento, o número de pessoas que vivem fora do seu país de nascimento ou de cidadania atingiu no ano passado os 281 milhões, contra os 173 milhões em 2000 e os 221 milhões em 2010.
“Como o número de migrantes internacionais cresceu mais rápido do que a população mundial, a percentagem de migrantes internacionais na população total aumentou de 2,8% em 2000 para 3,2% em 2010 e, em 2020, para 3,6%”, referiu o relatório.
Um dado curioso focado no documento é que este grupo global de 281 milhões de migrantes é quase igual à população da Indonésia, o quarto país mais populoso do mundo.
Mas 2020 foi um ano atípico e que ficará para a História por causa da pandemia da doença covid-19 que afetou, segundo o UN DESA, “drasticamente todas as formas de mobilidade humana, incluindo a migração”.
“Centenas de milhares de migrantes ficaram retidos, impedidos de regressar aos seus países, enquanto outros foram forçados a regressar aos seus países de origem mais cedo do que previsto, quando as oportunidades de emprego se esgotaram e as escolas encerram”, lê-se no relatório, que lembrou, entre outros aspetos, que o mundo testemunhou, ao longo de 2020, o fecho de fronteiras e graves interrupções nas viagens internacionais.
De acordo com este departamento da ONU, dados preliminares indicam que as perturbações provocadas pela pandemia podem ter reduzido, em meados do ano passado, o número de migrantes internacionais em cerca de dois milhões a nível mundial, o que corresponde a um decréscimo de cerca de 27% no crescimento previsto entre julho de 2019 e junho de 2020.
Outras das fortes repercussões da pandemia será o recuo no fluxo de remessas dos migrantes para países de baixo e médio rendimento.
“Prevê-se que a pandemia provoque um declínio de 14% nos fluxos de remessas para países de baixo e médio rendimento até 2021, em comparação com os níveis pré-pandemia”, apontou o documento, frisando que para muitos países esta redução “é suscetível de ter graves impactos financeiros e sociais que, juntamente com a contração de outros fluxos financeiros internacionais devido à pandemia, exigirá estratégias nacionais e de cooperação internacional para mitigar esses efeitos”.
O relatório do UN DESA mencionou igualmente que os deslocamentos forçados através das fronteiras nacionais continuaram a aumentar em 2020, em conformidade com o cenário verificado ao longo das últimas duas décadas.
Entre 2000 e 2020, o número de pessoas deslocadas através das fronteiras internacionais enquanto fugiam de conflitos, perseguições, violência ou de violações dos direitos humanos duplicou de 17 milhões para 34 milhões, o que corresponde a cerca de 16% do aumento total verificado no número de migrantes internacionais em todo o mundo durante esse período.
“Em 2020, refugiados e requerentes de asilo representavam 12% do universo global de migrantes, contra os 9,5%” verificados no final da década de 1990, prosseguiu o documento.
No ano passado, a grande maioria (mais de 80%) dos refugiados do mundo foram acolhidos por países de baixo e médio rendimento.
“Os refugiados e requerentes de asilo representavam cerca de 3% de todos os migrantes internacionais em países de elevado rendimento, em comparação com 25% em países de rendimento médio e 50% em países de baixo rendimento”, precisou o relatório.
No entanto, os números modificam-se quando a análise incide no estatuto de migrante internacional.
Segundo o UN DESA, em 2020, os migrantes internacionais representavam quase 15% da população total nos países de rendimento elevado e menos de 2% nos países de rendimento médio e baixo.
E este cenário é visível na lista de países que acolhem o maior número de migrantes internacionais.
No ano passado, dois terços de todos os migrantes internacionais viviam em apenas 20 países, destacando-se os Estados Unidos da América (que continuam a ser o destino preferencial com 51 milhões de migrantes, 18% do total mundial), a Alemanha (cerca de 16 milhões), a Arábia Saudita (13 milhões), a Rússia (12 milhões) e o Reino Unido (nove milhões).
Ainda na análise geográfica, o relatório destacou que a migração internacional ocorre frequentemente dentro das mesmas regiões e o ano de 2020 não foi exceção (quase metade dos migrantes residiam na região de onde eram oriundos).
Por exemplo, a Europa detém a maior percentagem de migração intra-regional, com 70% de todos os migrantes nascidos na Europa a residirem em outro país europeu.
O relatório traçou igualmente o perfil do migrante internacional em 2020, concluindo que as mulheres e as jovens representaram 48% desta comunidade, outra possível consequência da pandemia.
“O número de migrantes do sexo feminino excedeu ligeiramente o de migrantes do sexo masculino na Europa, América do Norte e na Oceânia, em parte devido à maior expectativa de vida das mulheres entre os migrantes de longo prazo e à crescente procura de mulheres migrantes para trabalhos relacionados com a área dos cuidados”, indicou o documento, acrescentando que os migrantes internacionais tendem a concentrar-se em faixas etárias ativas.
No ano passado, 73% dos migrantes internacionais em todo o mundo tinham entre 20 e 64 anos de idade.
O departamento da ONU focou ainda a questão das políticas desenvolvidas pelos países para a promoção de “uma migração ordeira, segura, regular e responsável” e concluiu que, em termos globais, 54% dos 111 Governos inquiridos relataram ter medidas nesta matéria.
O UN DESA alertou, no entanto, que os domínios políticos que abrangem os “direitos dos migrantes” e o “bem-estar socioeconómico” foram aqueles que registaram os níveis mais baixos: 55% e 59%, respetivamente.
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