Desenvolvido por investigadores da Universidade de São Paulo, do Instituto Insper e da Universidade de Barcelona, o estudo selecionou 700 cidades brasileiras e concluiu que os municípios dirigidos por mulheres tiveram, em média, 25,5 mortes por 100 mil habitantes a menos do que aqueles em liderados por homens, ou seja, houve uma diferença de 43,7% na mortalidade na pandemia.

No que se refere a internamentos de pessoas infetadas pelo coronavírus SARS-CoV-2, que causa a covid-19, os dados revelaram uma redução média de 30,4% até 33%, por 100 mil habitantes nas cidades governadas por mulheres face a cidades governadas por homens.

O artigo, divulgado em julho na Social Science Research Network e que ainda aguarda revisão de outros cientistas, também avaliou se as atitudes de líderes populistas como o atual Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, afetou a forma como os cidadãos lidaram com a pandemia.

Neste ponto, os investigadores descobriram que mesmo as cidades brasileiras em que Bolsonaro teve mais votos nas presidenciais de 2018 e que atualmente são governadas por mulheres registaram menos mortes e hospitalizações por covid-19 face a cidades chefiadas por homens.

Os investigadores constataram que nos municípios onde Bolsonaro teve mais apoio dos eleitores, o papel dos líderes locais com preferências políticas distintas ajudou no combate a políticas prejudiciais a nível nacional.

Isto terá ocorrido também porque “diante da decisão entre aplicar medidas de saúde contra a covid-19 ou tentar conquistar os votos dos apoiadores locais do Bolsonaro, nossos resultados sugerem que as prefeitas do sexo feminino estavam mais propensas a priorizar medidas que podem salvar vidas”.

A investigação apontou que se o Brasil tivesse metade dos seus municípios liderados por mulheres, o número de mortos por covid-19 teria sido 14,17% menor, salvando cerca de 75 mil vidas.

Actualmente, menos de 13% das prefeituras do Brasil têm autarcas mulheres.

O artigo considerou ainda que medidas não farmacológicas como o uso de máscara, limitação da circulação em transportes públicos e proibição de aglomerações foram adotadas com uma frequência 10% maior em cidades governadas por mulheres.

“Portanto, as políticas que aumentam a representação feminina na política, como quotas de género nas listas de candidatos, geram um dobro de dividendos em momentos de crise: aumentar o bem-estar e ao mesmo tempo promover a diversidade”, concluíram os autores da sondagem.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo ao contabilizar quase 580 mil vítimas mortais e perto de 21 milhões de casos confirmados de infeção pelo SARS-CoV-2.