Sessenta milhões de italianos receberam ordem para ficar em casa esta terça-feira, uma medida sem precedentes para tentar parar o avanço do novo coronavírus, que parece estar a dar uma folga na China, onde algumas restrições foram suspensas, e o presidente Xi Jinping anunciou que a epidemia está "praticamente contida" no seu epicentro - a cidade de Wuhan.

Recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS)

  • Caso apresente sintomas de doença respiratória, as autoridades aconselham a que contacte a Saúde 24 (808 24 24 24). Caso se dirija a uma unidade de saúde deve informar de imediato o segurança ou o administrativo.
  • Evitar o contacto próximo com pessoas que sofram de infeções respiratórias agudas; evitar o contacto próximo com quem tem febre ou tosse;
  • Lavar frequentemente as mãos, especialmente após contacto direto com pessoas doentes, com detergente, sabão ou soluções à base de álcool;
  • Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir;
  • Evitar o contacto direito com animais vivos em mercados de áreas afetadas por surtos;
  • Adotar medidas de etiqueta respiratória: tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir (com lenço de papel ou com o braço, nunca com as mãos; deitar o lenço de papel no lixo);
  • Seguir as recomendações das autoridades de saúde do país onde se encontra.

Um dia depois da queda das bolsas mundiais, estas operavam no azul no dia de hoje, aliviadas pela recuperação do preço do barril de petróleo e pela esperança do anúncio de medidas fiscais nos Estados Unidos.

Desde o seu surgimento, no final de dezembro, o novo coronavírus contagiou 114.151 pessoas em 105 países e territórios. Delas, 4.012 morreram, segundo o último balanço da AFP, com números oficiais disponíveis esta terça de manhã. A doença já se aproxima do estatuto de uma pandemia, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Por seu lado, em Espanha, há o cancelamento de todos os voos vindos de Itália, jogos de futebol à porta fechada e escolas sem aulas. Os dois países têm muitas conexões. Mais de 240.000 italianos vivem em Espanha e o tráfego aéreo de Itália corrsponde a 9% do tráfego internacional de Espanha.

Depois da triplicação do número de casos desde a noite de domingo, Espanha anunciou esta terça-feira um pacote de medidas na tentativa de impedir a propagação do coronavírus.

Com 1.622 casos e 35 mortos, de acordo com o último balanço do Ministério da Saúde esta terça-feira ao meio-dia, Espanha é agora um dos países mais afetados do mundo e o mais afetado na Europa, depois de Itália. No domingo, registava 589 casos.

Perante o crescimento exponencial do contágio, o governo de Pedro Sánchez, que manteve a expectativa sem tomar medidas maiores, iniciou a resposta esta terça-feira.

“Há algumas medidas que não gostaríamos de tomar e estamos cientes de que alteram a vida quotidiana das pessoas, mas acreditem que são necessárias”, afirmou o ministro da Saúde, Salvador Illa, em conferência de imprensa após o Conselho dos Ministros. “Todas as medidas que estamos a tomar visam não chegar ao cenário de Itália”, afirmou Illa.

Supermercados vazios em Itália e filas nos supermercados em Espanha

"Todos para casa, tudo fechado", eram as manchetes da imprensa italiana esta terça, resumindo desta forma o decreto do governo de Giuseppe Conte, que decidiu estender para todo país as medidas de quarentena que já tinham sido aplicadas às população do norte da península desde domingo.

"Vou assinar um decreto que pode ser resumido assim: 'Vou ficar em casa' (...) Toda Itália será uma zona protegida", afirmou.

Todos os italianos deverão "evitar as deslocações", exceto para ir trabalhar, comprar bens essenciais ou receber cuidados médicos. Todas as reuniões extra também estão proibidas.

Desde segunda à noite que as pessoas correm para os supermercados para comprar comida, de forma a poderem ficar vários dias em casa. "É como se estivesse numa guerra", resumia um comerciante.

"Macarrão, molho de tomate, atum e papel higiénico são os produtos mais solicitados", comentou Michele, funcionário de um estabelecimento em Roma.

Por enquanto, estas novas medidas não preveem "limitar os transportes públicos para garantir a continuidade" da atividade económica e "permitir que as pessoas vão trabalhar", afirmou Conte.

Esta terça, as companhias aéreas British Airways e a Ryanair anunciaram o cancelamento de todos os seus voos para a Itália.

Espanha também anunciou que suspendia todas as suas conexões aéreas com Itália e Áustria. O governo espanhol deixará entrar no país apenas pessoas procedentes de Itália que tenham um atestado médico.

O Vaticano decidiu fechar a basílica e a praça de São Pedro ao público até 3 de abril. Horas antes, o papa Francisco pediu aos sacerdotes que tenham "a coragem de sair e ir visitar" os contagiados pelo novo coronavírus.

Itália torna-se, assim, o primeiro país do mundo a estender para todo o seu território medidas mais extremas, visando o combate desta epidemia que já deixou 463 mortos e contaminou cerca de 9.000 pessoas.

Por outro lado, os supermercados de Madrid registaram um movimento maciço de pessoas que procuravam abastecer as suas reservas de bens essenciais.

“É uma loucura”, o supermercado “está esgotado”, admitiu Clara Badena à AFP, funcionária de um supermercado no norte de Madrid, onde as prateleiras de enlatados e papel higiénico estavam pela metade.

A associação que representa a grande distribuição (ANGED) assegurou que o fornecimento das lojas está “garantido” e, portanto, pediu para “não se acumular desproporcionalmente alimentos e produtos”.

O governo espanhol planeia uma nova reunião na quinta-feira para analisar a situação e tomar medidas adicionais, se necessário. Pedro Sánchez vai reunir-se neste dia com sindicatos e organizações de empregadores para discutir um “plano de choque” econômico, do qual nenhum detalhe foi adiantado.

Em Espanha, o futebol é sem público

O governo ordenou que todas as competições desportivas sejam disputadas à porta fechada no país, incluindo os jogos de futebol das equipas da primeira divisão, cujos próximos dois dias serão disputados com as bancadas do estádio vazias.

Também foi pedido às empresas que ajustem os horários dos seus trabalhadores ou os autorizem a trabalhar em casa.

Nas regiões espanholas mais afetadas, como Madrid, foram tomadas medidas complementares, como a suspensão de qualquer evento público em espaços fechados que reúnam mais de mil pessoas.

Esta região, com 6,5 milhões de habitantes, anunciou na segunda-feira o encerramento de todas as escolas e universidades a partir desta quarta-feira, durante duas semanas. Também está em plano a desinfeção de carruagens de metro, autocarro e comboio.

O Parlamento espanhol anunciou o adiamento por uma semana da sua sessão plenária, num momento em que um dos líderes do partido de extrema direita Vox, Javier Ortega-Smith, testou positivo para o coronavírus.

Outros eventos fora das áreas mais afetadas também foram suspensos, como o Festival de Málaga, um dos mais importantes encontros da sétima arte em Espanha, que deveria começar nesta sexta-feira, conforme anunciado por seus organizadores.

Epidemia na China "praticamente contida"

A China também colocou em quarentena um grande número de pessoas para deter a epidemia. Ao todo, 50 milhões de cidadãos tiveram de permanecer nas suas casas na província de Hubei, epicentro do COVID-19, mas Itália foi a primeira a tomar medidas desta magnitude em todo o seu território.

Ao contrário do que acontece em Itália, na China, algumas medidas restritivas foram suspensas esta terça, coincidindo com a visita do presidente Xi Jinping a Wuhan. A cidade é capital da província de Hubei, onde a epidemia surgiu. Xi conversou com doentes e médicos por videoconferência, conforme fotos divulgadas pela imprensa local.

O presidente considerou que "a propagação da epidemia estava praticamente contida", e as autoridades locais anunciaram uma flexibilização parcial do isolamento imposto aos habitantes desta província, isolada desde final de janeiro.

Esta terça, houve apenas 19 novos casos de contágio no país, um número reduzido, se comparado com as centenas anunciadas em fevereiro.

Na Europa, além de Itália, Espanha é um dos países mais afetados, com 1.622 contágios e 35 mortos. Nas três zonas mais afetadas, a região de Madrid, La Rioja e dois municípios do País Basco, as aulas foram suspensas por 15 dias.

Apenas o início

No mundo inteiro, os países multiplicam as suas medidas para amenizar os contágios. No Japão, as autoridades poderão confiscar prédios para usá-los como hospitais. Na Eslováquia, missas nas igrejas foram proibidas e, na República Checa, escolas foram fechadas.

O Irão anunciou 54 mortos nas últimas 24 horas. Trata-se do saldo diário mortal mais grave no país, onde o número de contágios passa de 8.000, e o de mortos está em 291.

"Estamos apenas no início desta epidemia" em França, advertiu o presidente Emmanuel Macron.

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