“No que toca ao impacto das vacinações na mortalidade, ainda não fizemos estudos específicos, mas […] durante a última vaga, entre dezembro e abril, houve uma mortalidade média de 50 a 100 mortes por milhão e agora, no pico da atual vaga que é substancial em termos de número de casos, a mortalidade é inferior a 10 por milhão”, indica o diretor do departamento de Vigilância do ECDC, Bruno Ciancio, em entrevista à agência Lusa.
Numa altura em que a UE já superou as 250 milhões de pessoas totalmente vacinadas, o especialista acrescenta que “os cálculos aproximados indicam que, até agora, as vacinas conseguiram provavelmente evitar algumas centenas de milhares de mortes”.
“Estes não são cálculos exatos e precisamos de fazer uma análise adequada que ainda não é possível porque as vacinações ainda são recentes, […] mas a estimativa geral mostrará que temos menos centenas de milhares de mortes” na UE e Espaço Económico Europeu, assinala.
Falando sobre a atual situação epidemiológica na região, Bruno Ciancio aponta que “tem havido um aumento [das infeções] em alguns países, mas isso não se reflete no número de mortes, como aconteceu noutras vagas anteriores, o que é efeito da vacina”.
Em termos concretos, a incidência média de infeções na UE está nos 200 casos por 100.000 habitantes, “que agora está estável, desde há três semanas”, após aumentos consecutivos, principalmente devido à dominância da variante Delta e à época turística, segundo o especialista.
Ainda assim, “o que é agora muito diferente das vagas anteriores é que não assistimos a um aumento correspondente da mortalidade e de doenças graves”, sendo então resultante da campanha de inoculação, reforça.
Numa avaliação de risco divulgada em junho passado, o ECDC estimava que o número de casos de covid-19 iria aumentar acentuadamente no verão da UE, nomeadamente devido à mais transmissível variante Delta do SARS-CoV-2, que nas contas divulgadas na altura iria equivaler a 90% das novas infeções na Europa até final de agosto.
E é isso mesmo que agora se verifica, de acordo com Bruno Ciancio, que revela à Lusa que “a variante Delta equivale agora a mais de 96% de todas as amostras sequenciadas [de novas infeções] na Europa”, o que significa que “é praticamente a única em circulação” no espaço europeu.
“A mutação Delta substituiu todas as outras, que já só circulam a um nível muito baixo e, provavelmente, desaparecerão”, acrescenta.
Devido à maior transmissibilidade da Delta, “esta situação [de incremento de casos] era esperada”, admite.
O que para Bruno Ciancio não é certo é como é que a pandemia vai evoluir na UE nos próximos meses, já que isso “depende muito do nível de cobertura vacinal nos vários países e é um problema global”.
Notando haver grandes discrepâncias na vacinação entre os países europeus, o responsável adianta à Lusa que “o principal desafio para a UE agora é enfrentar o problema das pessoas que hesitam em ser vacinadas”.
Bruno Ciancio aconselha assim a esforços de comunicação para aumentar os números de população vacinada.
A ferramenta ‘online’ do ECDC para rastrear a vacinação na UE, que tem por base as notificações dos países (e por isso pode não estar totalmente atualizada) revela que a cobertura vacinal é mais baixa em países como a Bulgária (20% da população totalmente vacinada), Roménia (32%) e Letónia (47%) e mais elevada na Irlanda (87%), Dinamarca (84%) e Portugal (83%).
Sediado na Suécia, o ECDC tem como missão ajudar os países europeus a dar resposta a surtos de doenças.
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