A Associação Nacional de Amputados (ANAMP) nasceu em dezembro de 2014, sete anos depois de um acidente de viação ter levado meia perna esquerda a Paula Leite, presidente e principal dinamizadora da instituição.
Amputada em janeiro de 2007, Paula Leite viveu os seis anos seguintes em reabilitação, período em que se deparou "com muitas falhas ao nível de apoio à pessoa amputada", disse à Lusa.
Ao mesmo tempo, apercebeu-se que manter a perna amputada ao nível do joelho retirava-lhe "qualidade de vida", obrigando-a a "deslocar-se exclusivamente com o apoio de canadianas".
"Decidi fazer uma segunda amputação, compatível com o uso de uma prótese, e hoje não só sou autónoma como vivo sem dor. Estou novamente dentro da vida", explicou Paula Leite.
Nesse tempo conheceu o que seria o seu marido e atual vice-presidente da ANAMP, António Oliveira, também ele amputado da mão direita. E, desde então, na casa de família transformada em sede exercem "uma atividade ininterrupta de apoio a centenas de pessoas".
Com quase dois anos e meio de existência, a associação sofre ainda de um problema estrutural, faltando-lhe uma sede, carência que a Câmara Municipal de Gaia "prometeu resolver até agosto", revelou o dirigente.
Reclamando uma "forma diferente de pensar", Paula Leite e António Oliveira apostam na inclusão dos amputados "através da prática desportiva". E, da sua intervenção, nasceram projetos de escalada adaptada, voleibol e ciclismo para amputados.
"Queremos que as pessoas vivam, que não fiquem confinadas à sua deficiência", frisou António Oliveira, exemplificando com o exemplo de uma amiga de Braga, também ela amputada, e que "há 15 anos não saía de casa para conviver".
A inscrição de nove deles no 1.º Campeonato Nacional de Escalada Adaptada, em Braga, revelou que a aposta "foi ganha" e ela "foi a primeira dos participantes pela ANAMP a completar os 15 metros da escalada", congratulou-se Paula Leite.
"A limitação está na nossa cabeça, essa é a nossa única amputação", salientou a presidente da ANAMP, para quem "só a falta de ferramentas é limitadora para os amputados".
Prestando apoio em várias áreas, é na "falta de informação sobre os seus direitos" de quem sai de um hospital amputado que os próprios encontram as maiores barreiras para continuarem a viver.
Ainda a aguardar pelo estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), a ANAMP ocupa uma "parte substancial do seu tempo a auxiliar em termos jurídicos e técnicos as pessoas", disse Paula Leite.
"Não temos recursos, mas temos conhecimentos e já conseguimos arranjar próteses para amputados, quer a preços mais vantajosos, quer recolhendo-as de familiares dos anteriores proprietários, entretanto falecidos", acrescentou.
Com a chegada da sede, os dois responsáveis esperam conseguir "redimensionar o papel da associação e, por exemplo, começar a trabalhar nos hospitais, ajudando as pessoas amputadas em termos jurídicos e técnicos enquanto estas ainda estiverem internadas".
"Em Portugal, entre o pedido de uma prótese e sua chegada passa, em média 1,5 anos, pelo que se pudermos começar esse processo ainda no hospital, será um tempo que essas pessoas vão ganhar para recuperarem as suas vidas", frisou a presidente.
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