Quase uma centena de idosos de Benavente manifestaram-se ontem junto à Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa para exigir a restituição da comparticipação nas consultas de especialidade no hospital da Misericórdia local, prevista num acordo com aquela entidade.

As cerca de 80 pessoas concentraram-se em frente à ARS de Lisboa e Vale do Tejo, empunhando cartazes com frases como "Exigimos o cumprimento do acordo em vigor entre a ARS e a Misericórdia de Benavente" e "A saúde é um direito, não um negócio", enquanto a comissão de utentes de Benavente e autarcas do concelho ribatejano se reuniram com o diretor daquela entidade estatal, Rui Portugal.

À saída da reunião, o porta-voz da comissão de utentes de Benavente, Domingos David, disse aos jornalistas que "já houve serviços que foram desbloqueados, como o acesso ao serviço de fisioterapia na Santa Casa”, mas que “falta resolver o resto” do que estava acordado nesse protocolo.

“O número de consultas contratadas, que, por um lado, o diretor da ARS diz que vai negociar, falta a cardiologia, oftalmologia e cirurgia geral, áreas onde estamos excluídos [do hospital da Misericórdia] quando utentes de outros concelhos vizinhos de Benavente continuam a poder usufruir”, enumerou Domingos David.

Para os utentes, estes serviços não estão a ser disponibilizados [de forma comparticipada], ao contrário do que estava previsto, porque “houve um acordo assinado com o grupo Melo para a população de Benavente ser encaminhada para o hospital” de Vila Franca de Xira, gerido por aquele grupo.

“É como se fossemos vendidos num negócio e isso não aceitamos”, afirmou Domingos David.

No entanto, de acordo com o utente, a justificação dada por Rui Portugal “são critérios de qualidade e segurança” já que “o Serviço Nacional de Saúde tem um hospital em Vila Franca de Xira que consegue em tempo útil e de acordo com os padrões internacionais fornecer esse serviço em qualidade”.

“O que contrapomos é que com o conhecemos do Hospital de Vila Franca e da realidade das populações, as dificuldades que têm de transportes, de mobilidade, de pensões baixas, são impeditivas só por si que se desloquem ao hospital”, disse Domingos David.

Depois de a agência Lusa ter solicitado um esclarecimento ao diretor da ARS de Lisboa e Vale do Tejo presencialmente no final da reunião, Rui Portugal enviou um e-mail em que corrobora as vantagens dos serviços no hospital.

Nos casos de cardiologia e de cirurgia geral os utentes “obtêm no Hospital de Vila Franca uma resposta temporal inferior a cerca de metade do tempo médio da região”, refere.

Rui Portugal salientou ainda que a “ARS sela a sua atuação no sentido de garantir equidade no acesso às populações e de segurança nos atos clínicos praticados", que "o Hospital de Vila Franca de Xira assegura todos estes critérios para a população de Benavente” e que, ao aproveitar a capacidade daquela unidade, a entidade "gera poupança e redução de despesa".

Além da manifestação dos utentes desta tarde, também o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) acusou hoje a Administração Regional de Saúde de não estar a cumprir o acordo que “assinou livremente”, ao suspender as consultas de especialidade em Benavente.

24 de agosto de 2011

Fonte: Lusa