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26 de fevereiro de 2013 - 14h01
Um antigo administrador executivo hospitalar lança quinta-feira, no Porto, um livro sobre “Gestão em Saúde em Portugal” no qual desenvolve um juízo crítico sobre as políticas de saúde implementadas na última década.
“A saúde em Portugal, em termos de gestão, é um autêntico 'case study' no mau sentido – quase tudo se aceita, idealiza e implementa ao arrepio das regras mais elementares, testadas e adquiridas, como se nada estivesse já inventado ou se não lhe aplicassem as boas práticas gestionárias correntes”, afirma Mário Jorge Carvalho, que foi administrador do Hospital de S. João, no Porto.
Na mesma obra, que será apresentada pelo presidente da Bial, Luís Portela, na secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, Mário Jorge Carvalho justifica a incapacidade de tomar decisões estratégicas e estruturais no setor.
Mário Jorge Carvalho, que é licenciado em Economia com pós-graduação em Finanças e Estratégia Empresariais, Consultor e Formador em Gestão, considera que “não há outro setor de atividade onde a competência, autonomia e capacidade de decisão técnica a todos os níveis da hierarquia sejam tão desenvolvidas como na saúde, o que necessariamente obriga o gestor a ter de ver a estrutura dependente de uma forma completamente diferente daquela a que está habituado por tradição”.
Refere o autor que “a gestão cometeu erros crassos quando foi chamada a colaborar na saúde: em primeiro lugar, a sua notória politização não só a condicionou em termos de ciclos de vida legislativos como levou ao respetivo exercício contingentes cada vez menos preparados de apaniguados e seguidores sem os mínimos recomendáveis de senioridade e experiência que o setor exigia”.
Mário Jorge Carvalho diz acreditar, “sem hesitações, na viabilidade e sustentabilidade adequada do Serviço Nacional de Saúde, eventualmente com contornos de funcionamento melhorados mas sem pôr em causa os grandes princípios que levaram à sua criação e manutenção”.
Para isso, considera que “há que fazer uma grande ‘revolução interna’, suportada em princípios basilares e recorrentemente esquecidos”.
Em primeiro lugar, refere, “os políticos e burocratas têm de se capacitar que não haverá nunca regeneração possível no SNS contra e sem a participação ativa dos seus profissionais – demora mais tempo e custa mais a atingir, mas não existe alternativa”.
Depois “a chave da racionalidade na utilização dos recursos está muito na verdadeira reordenação da oferta dos serviços, algo que a demagogia política pretendeu fazer passar como tentada mas que não tem sido, até agora, senão a mais descoordenada ação sobre segmentos indefesos da procura”.
Em terceiro lugar, o autor refere que “o cerne do sucesso estará sempre na progressiva, sustentada e generalizada delegação do poder interno nas organizações para os seus serviços e unidades nucleares. Isto, naturalmente combinado com o essencial da gestão: a efetiva e profissional contratualização interna de objetivos suportados na avaliação de desempenho em excelência”.
Por fim, o autor defende que os profissionais da saúde têm de compreender, de uma vez por todas, que "condescender com a não diferenciação no desempenho (...) é manter o caminho para o abismo da mediocridade e da ineficácia generalizada”.
No prefácio da obra, Rui Rio, economista e presidente da Câmara do Porto, refere que “é de insuficiências, ao nível da decisão e de ineficiências da gestão estrutural destas unidades, que esta obra mais se ocupa”.
“Um libelo acusatório que se fundamenta na falta de coragem de sucessivos decisores políticos, ao longo de anos a fio, cuja ação tem demonstrado à sociedade que um dos maiores problemas da crise em que estamos mergulhados resulta da incapacidade dos governantes para enfrentarem os poderes fácticos e corporativos que, a cada mudança de governos, rapidamente cuidam de manietar a ação até dos mais determinados”, considera.
Lusa
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