HealthNews (HN)- Qual tem sido a missão da APDH nos últimos vinte anos?

Ana Escoval (AE)- A associação surge como representação de Portugal a nível da Federação Internacional dos Hospitais. É importante destacar que ao longo destes vinte anos, os sistemas de saúde têm obrigado a um desenvolvimento de inovação no âmbito da gestão e da organização. Neste sentido, o nosso objetivo tem sido o de desafiar os hospitais portugueses para aquilo que de melhor se faz a nível internacional. Daí a nossa aposta no Prémio de Boas Práticas em Saúde que já tem muitos anos.

No fundo, a nossa missão tem sido a de apoiar e ajudar, hospitais e organizações de saúde, com iniciativas e atividades que visem a promoção do seu desenvolvimento.

HN- Tal como referiu atrás, no decurso da existência da APDH ocorreram mudanças estruturais no Serviço Nacional de Saúde. Quais foram para si as principais mudanças?

AE- Com a criação do Serviço Nacional de Saúde surgiram estruturas de cuidados de saúde primários, secundários e terciários para que os doentes se pudessem deslocar e ter acesso aos seus cuidados de saúde. Os médicos de família mostraram-se importantes, mas hoje em dia é essencial começarmos a caminhar na criação de equipas de saúde que incluam médicos, enfermeiros, farmacêuticos e outros profissionais. É uma abordagem mais holística da pessoa e que faz todo o sentido devido aos atuais o índices de envelhecimento… Temos uma população com multimorbilidade e temos necessidades específicas de resposta que “extravasam” as estruturas.

Com a evolução tecnológica surge uma outra necessidade: a de levarmos ao doente aquilo que precisa e de uma forma integrada, evitando que se dirija constantemente às instituições de saúde em busca dos seus medicamentos. As respostas devem ser integradas e de proximidade.

HN- Ainda há muito por fazer. Quais considera serem as prioridades que devem ser definidas para garantir um SNS mais robusto?

AE- Temos de caminhar no sentido de uma transformação no nosso Serviço Nacional de Saúde, visando essa aproximação às pessoas. De facto, a pandemia evidenciou, por um lado, o valor do SNS, mas por outro lado a necessidade de termos serviços públicos de saúde capazes de responder às necessidades dos doentes.

HN- O que é que a pandemia trouxe de bom na organização dos hospitais?

AE- Trouxe muita coisa boa e trouxe muita coisa má. A pandemia veio obrigar-nos a investimentos que já eram necessários no que toca, por exemplo, às unidades de cuidados intensivos e no reforço das medidas de segurança. Trouxe algo que considero que foi fundamental e que foi a promoção de união, partilha e preocupação das equipas para responder àquilo que era a emergência da procura que tinham. Mais do que nunca as equipas tornaram-se equipas multiprofissionais para salvar doentes.

HN- A gestão hospitalar encontra-se limitada. Há falta de autonomia de lideranças e de recursos. O que propõe para mudar este cenário?

AE- Não podemos pensar ‘como é que vamos gerir?’ se não pensarmos nos desafios e problemas que se nos colocam. Por exemplo, temos um envelhecimento demográfico que toda a gente conhece. Temos problemas na acessibilidade e disponibilidade de recursos e cuidados (que causam iniquidades). Temos fragmentação nos serviços de saúde. Temos empobrecimento dos recursos… Os profissionais de saúde vão saindo, há falta de motivação nas equipas, os sistemas de informação apresentam fragilidades e isso leva a que haja alguma “rigidez organizacional”. Neste sentido, é importante que seja criada uma ação de governo que ultrapasse esta fragmentação que existe. A APDH tem vindo a alertar para a necessidade de reforçar o SNS para que estas instituições possam ser bem geridas e para que possam permitir a promoção da saúde e a prevenção das doenças.

Temos que ser capazes de motivar os profissionais e fazer com que haja políticas inovadoras na Saúde. Isto exige efetivamente políticas de orçamentação e de financiamento que vão ao encontro daquilo que as populações precisam.

HN- Quais são os principais projetos da atual direção da APDH?

AE- Temos uma filosofia de continuidade e, portanto, vamos continuar a desenvolver o Prémio de Boas Práticas em Saúde. Queremos continuar a fazer um trabalho que nos parece fundamental e que é mantermos uma linha de espaços de discussão de assuntos fundamentais (através de debates em formato presencial e digital). Este ano vamos ter o nosso congresso dos hospitais e a preparação para o Congresso Mundial dos Hospitais que acontece este ano em Lisboa.

Por outro lado, temos um outro projeto que tem a ver com valor em saúde nos hospitais.

Entrevista de Vaishaly Camões