É difícil imaginar a vida sem computadores, smartphones, tablets ou até mesmo das aplicações que tornam o nosso quotidiano mais fácil e prático. E se a vida dos adultos se transformou radicalmente como consequência destes dispositivos, a das crianças está a ser seguramente mais afetada.
É factual que as crianças são atraídas pelas novas tecnologias e, inevitavelmente, canalizadas para a visualização de vídeos, sendo notória a influência do português do Brasil, cada vez mais forte entre as crianças e os jovens portugueses devido aos conteúdos que consomem nas plataformas digitais – os vídeos em causa são altamente atrativos, contudo, e na maioria das vezes, sem valor pedagógico.
Como consequência tem sido visível o aumento de crianças que falam português do brasil. Contudo, e o mais problemático, é que as influências vão para além do sotaque, vemos marcas na construção frásica e mesmo no vocabulário usado, tendo muitas vezes dificuldade em recorrer ao termos adequados em Português Europeu. Esta falta de qualidade no conteúdo linguístico e morfossintático a que as nossas crianças são expostas e, tendo em conta que o fator inicial de aprendizagem é a exposição à língua e só depois às suas regras escritas, traduz-se numa incorreta aprendizagem, causando alterações na linhagem oral e, posteriormente, na escrita.
Apesar de podermos cair na tentação, em determinada altura, de acharmos que é “fofinho” as nossas crianças utilizarem alguns “trejeitos” abrasileirados, é muito importante estarmos atentos. Corrigir vocabulários incorretos e monitorizar sempre que possível o que estão a visualizar, sendo a melhor opção a redução de tempo de exposição. Partilho, de seguida, algumas dicas. Ainda que algumas possam ser óbvias não me canso de as reforçar pois poderão fazer toda a diferença na vida dos nossos mais pequenos. São elas:
– Sempre que possível preferir conteúdos em português europeu;
– Quando visualizar conteúdos em brasileiro, preferira conteúdos com elevado valor educativo ou desenhos animados;
– Veja com o seu filho, fazendo a ponte com o léxico do português;
– Dê sempre o modelo correto quando a criança usar uma construção errada;
– Evitar ao máximo a exposição;
– Limite o tempo de exposição e use um cronómetro.
A tecnologia veio para ficar e faz parte da nossa evolução. No entanto, o excesso de uso das mesmas, leva a um padrão de frustração maior, menor qualidade de motricidade global e fina. Uso sim, mas com regras, de tempo e qualidade.
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