O tabagismo é o fator de risco modificável com o maior número de mortes atribuídas, sendo que a nível mundial morrem por ano mais de 8 milhões de pessoas por doenças associadas ao tabaco. Em Portugal, uma em cada 10 mortes por ano é atribuída ao tabaco. As pessoas fumadoras têm um risco de desenvolver doenças respiratórias, cardíacas, infeciosas, oncológicas, entre outras, duas a três vezes superior em comparação com as pessoas que nunca fumaram, perdendo em média 10 anos de expectativa potencial de vida.

Os dispositivos de tabaco aquecido e os cigarros eletrónicos também têm riscos?

Em relação às novas formas de consumo de tabaco (cigarro eletrónico - vaping e os produtos de tabaco aquecido), tem-se vindo a acumular evidências que mostram que o vapor emitido por estes dispositivos contém numerosas substâncias tóxicas e carcinogéneas, pelo que não são seguros. Por outro lado, também não são considerados tratamentos para deixar de fumar!

Quais as vantagens em deixar de fumar?

Parar de fumar tem benefícios imediatos e a médio e longo prazo: em 20 minutos a pressão arterial e a frequência cardíaca voltam ao normal; em 12 horas os níveis de monóxido de carbono no sangue voltam ao normal; entre 2 semanas a 3 meses o risco de enfarte do miocárdio diminui e o olfato e o paladar melhoram; entre 1 a 9 meses a pessoa sente um aumento gradual do bem-estar geral e a tosse e a falta de ar diminuem; após 1 ano o risco de ataque cardíaco diminui para cerca de metade do observado nas pessoas que continuam a fumar; entre 2 a 5 anos o risco de AVC diminui e o risco de cancro da boca, da garganta, do esófago e da bexiga reduz para metade; após 10 anos reduz em 50% o risco de ter um cancro do pulmão em comparação com pessoas que continuam a fumar; e após 15 anos o risco de doença coronária é semelhante ao de uma pessoa não fumadora.

Como posso parar?

Estudos mostram que 80% dos fumadores expressam o desejo de parar de fumar, mas menos de 5% têm êxito em cessar o consumo sem ajuda. Assim, a ajuda especializada para a cessação tabágica através do apoio comportamental e tratamento farmacológico quadriplica a taxa de sucesso (entre 25 a 40%). A medicação diminui muito o desejo de fumar e trata a privação nicotínica, tornando o processo de deixar de fumar muito mais fácil e confortável. O aconselhamento comportamental ajuda a enfrentar as situações e emoções associadas ao consumo de nicotina e a desenvolver alternativas, “desfazendo” estas associações e prevenindo a recaída. Normalmente esta intervenção é realizada por uma equipa multidisciplinar constituída por médico pneumologista, enfermeiro, psicólogo e nutricionista, em várias sessões ao longo de vários meses, idealmente até um ano. Se já tentou não fumar e recaiu, não desanime: muitas pessoas tentam várias vezes até conseguir deixar para sempre.

Por um futuro livre de tabaco

A atratividade do tabaco é, atualmente, um dos principais desafios em termos de saúde pública, pois o consumo de tabaco inicia-se, frequentemente, na adolescência.

O consumo de tabaco vai continuar a gerar uma enorme sobrecarga ao longo dos próximos anos, não só em termos de sofrimento humano e mortalidade prematura, mas também em termos de gastos em cuidados de saúde, perda de produtividade económica, poluição ambiental, pelo que se torna essencial promover a prevenção e incentivar mudanças de comportamento a nível individual e coletivo, para um futuro mais saudável e livre do tabaco.

Um artigo de José Carlos Carneiro, pneumologista e co-coordenador da Unidade de Desabituação Tabágica do Hospital CUF Porto.

Veja também: 15 truques para deixar de fumar num ápice (segundo a DGS)