O que são lesões traumáticas da coluna vertebral?
A coluna vertebral é constituída por ossos, articulações, ligamentos e músculos preparados para suportar cargas mecânicas impostas sobre a coluna, e, dessa forma, proteger a integridade das estruturas neurológicas (medula e nervos). Quando as cargas impostas excedem o limite que estas estruturas inerentemente têm, poderemos estar perante situações de lesão da coluna vertebral, com ou sem lesão neurológica.
Em que situações podem acontecer?
Pode acontecer em qualquer situação do dia-a-dia, desde quedas da própria altura ou pequenos traumatismos directos, até acidentes de viação ou laborais de grande impacto e intensidade. Não nos podemos ainda esquecer das situações lúdicas e recreativas, como é sobejamente conhecido o exemplo dos mergulhos para a água, mas também na prática de atividades desportivas.
Qual é a gravidade?
Os traumatismos da coluna vertebral podem variar desde uma pequena contusão com dor local, passando por fraturas que podem ser estáveis ou instáveis, até lesões graves das estruturas neurológicas com compromisso funcional. Nos casos mais catastróficos podem mesmo ser causa de morte.
Quando procurar assistência médica?
Nos casos em que há assistência pelos bombeiros ou INEM, habitualmente situações em que há suspeita de maior risco e gravidade, os doentes devem ser transportados e avaliados em ambiente hospitalar. Nessa altura, há algoritmos de decisão clínica que auxiliam na decisão sobre a realização de exames complementares e quais, de forma a excluir lesão traumática da coluna vertebral. Na suspeita ou presença de défice ou lesão neurológica, a avaliação, diagnóstico e tratamento revestem-se de um carácter de urgência. A maior dificuldade prende-se nos traumatismos mais banais e menos aparatosos, em que o doente poder-se-á não sentir compelido a procurar avaliação médica de imediato ou a desvalorizar sintomas. Nestes casos a dor muito intensa, dor que não cede ao final de 2 a 3 semanas, dor que irradia para os membros, dormência ou falta de força nas extremidades deverão funcionar como alerta e motivar o doente a procurar avaliação médica.
Quais os tratamentos possíveis?
Há uma panóplia de tratamentos possíveis, adequados ao tipo e gravidade de lesões. Nas simples contusões a analgesia é suficiente. Nas fraturas estáveis poderá ser tentado, inicialmente, o tratamento chamado “médico ou conservador”, que consiste em repouso, analgesia e, por vezes, no uso de uma ortótese (lombostato, colete, ou colar cervical). Nas fraturas instáveis ou nas fraturas estáveis que não consolidam e progridem, há várias possibilidades de tratamento cirúrgico. A mais simples consiste no reforço do corpo vertebral com cimento através de uma cânula (vertebroplastia), passando pela colocação de fixadores internos que permitem a estabilização e consolidação da fratura (fixação transpedicular), até técnicas que permitem a fusão entre os elementos vertebrais (artrodese). De destacar que nos últimos anos estas técnicas têm evoluído extraordinariamente, sendo passíveis de serem feitas de forma percutânea e minimamente invasiva, por forma a reduzir o grau de agressão cirúrgica e encurtar o tempo de recuperação. Quando existe compressão das estruturas neurológicas, o tratamento cirúrgico permite a resolução da mesma, com o intuito de melhorar a possibilidade de recuperação.
Quais as consequências?
Nos casos de fraturas instáveis ou que progridam, poderá haver instalação progressiva de dor, que poderá tornar-se crónica e incapacitante, ou até mesmo de défices neurológicos tardios. Nos doentes em que se verifica lesão das estruturas neurológicas, há um défice que poderá ser mais ou menos grave, e cujo tratamento poderá contribuir para aumentar as possibilidades de recuperação. Nos casos de lesão cervical esses défices podem afetar os membros superiores e inferiores, enquanto numa lesão dorsal ou lombar apenas os membros inferiores. Poderá ser necessário um período longo de recuperação e fisioterapia após o tratamento inicial, e nalguns doentes a lesão poderá ser permanente.
Como prevenir?
Nos doentes mais idosos, em que a elevada prevalência de osteoporose contribui para a fragilidade óssea da coluna vertebral, deve ser feito o tratamento adequado desta patologia. Também nesta franja mais fragilizada da população, onde muitas vezes se verifica dificuldade na locomoção, devem ser prevenidas as quedas através da remoção de obstáculos que possam promover quedas (por exemplo: carpetes e degraus) e, muitas vezes, promover o uso de auxiliares da marcha, como a canadiana ou o andarilho. Na população em geral, a prevenção passa pelo cumprimento das regras do código da estrada (cinto, limites de velocidade, etc) de forma a minimizar o potencial lesivo dos acidentes, cumprimento das regras de higiene e segurança no trabalho de forma a diminuir o número e frequência dos acidentes, e evitar, tanto quanto possível, actividades de risco. Por ser uma causa muito frequente de traumatismo cervical e medular no nosso país, deve ainda ser particularizado e alertado para o risco dos mergulhos para o mar ou piscina com fundo baixo ou presença de rochas, devendo sempre verificar-se a profundidade antes do mergulho.
Um artigo do médico Vitor Castro Ferreira, neurocirurgião no Hospital CUF Tejo, Clínica CUF Almada e Hospital CUF Sintra.
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