Neste livro “Mamãs Fit”, a autora mostra todas as vantagens da prática de exercício físico nesta fase da vida. Mãe de três filhos, também passou por enjoos, barrigas gigantes, dores nos pés, cesarianas complicadas e diástases abdominais.

Nesta obra, Marta Moura apresenta planos de treinos com exercícios seguros para se manter ativa durante a gravidez, trimestre a trimestre, bem como para (re)começar a treinar no pós-parto, seja qual for a sua capacidade física. Com sugestões de médicos, nutricionistas e psicólogos, a autora deixa ainda dicas e alertas importantes sobre a alimentação e a gestão de emoções.

Num dos seus posts do Facebook disse que o Fitness mudou a sua vida. Porquê?

Mudou em muitos sentidos e há muito tempo. Tenho recebido muitos feedbacks acerca disso: 'quem diria que eras aquela miúda gordinha, aquela que não conseguia fazer nada de jeito nas aulas de educação física'. É verdade, a vida dá muitas voltas e as pessoas arranjam ferramentas para se superarem.

Eu era uma miúda muito asmática, a partir dos dois anos foi-me diagnosticado asma e passava noites e noites no hospital com a minha mãe. E era daquelas pessoas que tinha medo de dar dois passos e cansar-me e ter um ataque de asma. Cresci muito protegida e na escola também tinha medo de brincar onde tivesse poeira.

Quero ter saúde e energia para acompanhar e inspirar os meus filhos

Nunca imaginei em criança que isto ia ser o meu futuro. Depois, por indicação médica, pelos 6/7 anos diziam que devia fazer natação. Embora adorasse nadar na praia detestava ter aulas de natação. Então fui para o ballet e sentia-me a miúda mais gordinha, maior que as minhas colegas, elegantes, com uma leveza e destreza fenomenal. Embora gostasse muito, sentia-me sempre um "patinho fora de água", mas lá me fui aguentando no ballet sem aquilo me elevar minimamente a autoestima.

Até que, por volta dos 12 anos, quando o corpo começa a transformar-se e começamos a preocupar-nos com o pneuzinho na barriga, tive duas colegas que me disseram que iam inscrever-se num ginásio e perguntaram-me se queria experimentar. Foi a partir daqui que as coisas começaram.

Nas aulas de fitness havia pessoas de 40, 50, 20, 15 anos, havia toda uma panóplia diferente de pessoas e comecei a perceber que ali realmente me sentia bem e tinha ali uma turminha que tomava conta de mim e mudou tudo.

O livro “Mamã Fit” é mais direcionado para mulheres que querem engravidar, que estão grávidas e no pós-parto. Sentiu que faltava falar sobre este tema?

Falta e ainda falta muito. Mas isto é muito simples, há vários fatores que contribuem para que não se fale tanto. Para já, a falta de formação ou até interesse por parte da comunidade do fitness, personal trainers e instrutores. Quando se tira um curso, aponta-se para as massas: perder peso e ganhar músculo, é aí que se ganha dinheiro e é aí que se chega a um maior número de pessoas.

E depois existem estas populações especiais. Até no curso de fitness, quando fazemos a formação, a cadeira chama-se "populações especiais" que acaba por englobar, idosos, grávidas, doentes oncológicos, nichos pequeninos. E o nome tira o interesse.

Acontece que, entretanto, tive três filhos, a terceira já quase com 40 anos. E foi uma coisa que me começou a preocupar, na terceira gravidez, que nunca mais ia recuperar a minha forma física como tinha antigamente.

Então com tempo e calma, comecei a pesquisar mais sobre o assunto, a fazer formações e aplicar em mim e nas pessoas que treinavam comigo.

Porque é que acha que há tanto medo e preconceito em falar sobre os efeitos secundários da gravidez?

Mesmo clientes a falar comigo, noto logo quando há coisas que não me querem contar. A diástase abdominal é uma coisa que agora as pessoas começam a perceber o que é e já não têm tanta vergonha, mas a incontinência urinária, os problemas aliados ao pavimento pélvico, os desconfortos a nível de relações sexuais ou não, são todas coisas muito desconfortáveis, muito comuns de acontecerem que, por serem comuns, não são normais. Não é suposto toda a gente ter isso ou terem e não conseguirem recuperar e as pessoas têm vergonha de contar.

Só quando eu falo nas minhas redes, recebo mensagens privadas de pessoas a dizer que tinham há anos e não sabiam que era possível, sempre com vergonha e receio, mas começam a desabafar e a procurar ferramentas para conseguir ultrapassar.

Marta Moura
créditos: © Teresa Aires - @the_lightplace

A quem é que estas mulheres devem pedir ajuda?

Um médico. Um médico tem sempre de saber, até para ficar registado. E se for preciso pedir algum exame para confirmar uma situação ou outra é logo recorrer ao obstetra ou ginecologista. Agora, o que acontece - eu tive muito desses problemas e fiz muitos exames - é que nunca me disseram que tinha diástase abdominal ou que isto pode ser provocado pelo facto de teres diástase abdominal. E precisas de fazer um reforço, não só da parede abdominal, como do pavimento pélvico. Quando trabalhamos uma coisa, trabalhamos a outra. Um fisioterapeuta pélvico é das pessoas mais bem informadas. E até mesmo um personal trainer, ou alguém da área do fitness, com experiência e saiba do que é que está a falar.

Aborda muito no seu livro a diástase abdominal e o fortalecimento do pavimento pélvico. Pode explicar o que é? E qual o impacto que pode ter na vida da mulher?

A diástase abdominal é basicamente o enfraquecimento e afastamento dos músculos do reto abdominal (o famoso six pack) e dos tecidos que os unem. Isto acontece naturalmente na gravidez: à medida que o bebé vai crescendo, o corpo da mulher adapta-se para o acolher dentro da barriga.

O que acontece é que, ao haver esse enfraquecimento da musculatura abdominal, vai haver um aumento da pressão na musculatura pélvica. Daí ser importante haver um reforço do core (diafragma, abdominais, pavimento pélvico) antes, durante e após a gravidez.

Se conseguirmos fortalecer a camada mais profunda do abdominal, chamada de transverso abdominal, que funciona como um espartilho em redor do nosso tronco, diminuímos a pressão exercida não só no reto abdominal como no pavimento pélvico.

O que acontece com frequência, quando a diástase perdura depois da gravidez, e a musculatura pélvica vai enfraquecendo, não só a aparência da barriga se mantém como se estivesse grávida, saliente, como também surgem problemas de incontinência e perdas de urina, dores nas relações sexuais, sensação de peso na zona pélvica, prolapso de útero ou bexiga, prisão de ventre, dores nas costas, entre outros problemas, para além da autoestima ficar gravemente afetada.

Nos últimos anos tem-se desmistificado a prática de exercício físico na gravidez, nos casos em que não há contraindicação médica. De que forma a prática desportiva pode ajudar nesta fase da vida da mulher?

Previne aqueles grandes aumentos de peso tanto da mulher como no bebé. Pelo facto de ganhar ou manter a massa muscular que tem, vai facilitar a recuperação.

Existem muitos estudos. A nível da diabetes gestacional diminui a percentagem de aparecer na gravidez. Por estar a trabalhar a postura, o corpo, os músculos, as articulações, vai prevenir a dor nas costas, ou fazer que sejam mais ligeiras. Ajuda muito a manter os níveis de energia, a equilibrar os níveis de sono, o stress. As alterações de humor são bastante prevenidas com o exercício físico.

As emoções durante e depois da gravidez são temas dominantes no seu livro. Acha que cada vez mais temos de falar sobre a saúde mental? De que forma o desporto pode ajudar?

Agora fala-se muito da saúde mental, mas eu falo da saúde mental desde sempre porque a saúde física depende da saúde mental e a saúde mental depende da saúde física, estão as duas muito ligadas. Precisamente por ter passado por inícios de esgotamento e anorexia nervosa sempre valorizei muito a saúde mental e sei que o exercício físico contribui em muito para aliviar o stress e descarregar emoções. Daí ter recorrido a uma psicóloga para me dar uma opinião profissional. Existem inúmeros estudos que comprovam que é muito importante a prática do exercício físico até para a depressão pós-parto.

Foi importante para si incluir a opinião de nutricionistas, psicólogos e testemunhos?

Sim, muito importante porque eu não sei tudo. Sei da minha experiência e dos casos com que já lidei. Fiz questão de ter testemunhos de várias clientes e casos. Nunca passei por uma depressão pós-parto e este é um assunto importante que tem de ser falado. Estamos a falar de emoções, é uma coisa que é comum acontecer.

Lá está, cada macaquinho no seu galho: obstetras dão a sua opinião enquanto médicas, o porquê dos benefícios da prática do exercício físico; os personal trainers, a maior parte percebe muito de nutrição por serem autodidatas e por estar muito associado ao fitness. A nutrição e exercício complementam-se, mas um profissional da área tem muito mais competências para falar do que eu. E uma psicóloga precisamente para falar sobre os assuntos das emoções

O fitness, para mim, não é 'ginástica', não é o ginásio, não é dieta, é muito mais, é um estilo de vida, é a minha vida

Este livro é uma "missão cumprida". Porquê?

Em vários sentidos, desde pequenina, tinha a ideia de escrever um livro não sabia sobre o quê, mas sempre meti na cabeça que havia de escrever um livro e antes de começar o confinamento estava à procura de editoras e contactos para ver como havia de conseguir pôr isto cá para fora.

As redes sociais ajudaram-me a chegar a muita gente, mas há muitas pessoas da minha geração, 40, 50, 60 anos que não estão à vontade nas redes sociais. E um livro é sempre um livro, pelo menos para mim é.

Título: Mamãs Fit

Subtítulo: Mães ativas, bebés mais saudáveis

O autor: Marta Moura

Género: Saúde e bem-estar

Nº de páginas: 240

P.V.P.: 16,90€

O desfolhar, sempre que tiver dúvidas abrir, sublinhar, marcar, ter ali algo palpável, é sempre diferente. Tanto que eu tinha vários guias à venda no meu site, porque eu comecei a fazer dias: o dia da diástase ou o dia da grávida, com informações importantes que eu queria passar, mas era sempre uma coisa digital que as pessoas descarregavam. E desde essa altura que eu sentia que há pessoas que eu não vou conseguir chegar, provavelmente as pessoas que mais me interessam, da minha idade, algumas que já têm netos e que estão a passar por estes problemas e não sabem que elas próprias conseguem começar a resolvê-los em casa e a sentirem-se acompanhadas. Estas coisas têm solução. Para mim este livro foi mesmo um sonho realizado.