Há doenças que se fazem notar com estrondo. E há outras que, silenciosamente, vão minando a nossa saúde e bem-estar sem que lhes atribuamos a devida atenção. As disfunções da tiroide pertencem a esta última categoria — são doenças silenciosas, mas com impacto profundo.

Em Portugal, estima-se que 7,4% da população adulta tenha algum tipo de distúrbio da tiroide. Mas o mais preocupante é que mais de 5% das pessoas vivem com sintomas sem diagnóstico. A nível global, a American Thyroid Association aponta que 60% dos casos permanecem por identificar, o que significa que centenas de milhões de pessoas continuam sem saber que os seus sintomas têm nome e tratamento.

Os distúrbios da tiroide, como o hipotiroidismo, hipertiroidismo ou doenças autoimunes como a de Hashimoto e a de Graves, podem ter manifestações muito variadas, interferindo com o metabolismo, o sono, o humor, o funcionamento do coração, o peso corporal, a fertilidade ou a concentração. Por vezes, surgem de forma lenta e pouco evidente, mas afetam profundamente o quotidiano, retirando qualidade de vida, energia e bem-estar emocional.

Estudos demonstram que os sintomas destas condições são frequentemente atribuídos a outras causas, como o stress, a idade, alterações hormonais ou até ao estilo de vida moderno. Esta confusão contribui para que os doentes passem anos sem diagnóstico, vivendo com limitações e desconforto que poderiam ser evitados com um simples teste laboratorial. É precisamente por isso que o acesso à informação e a uma avaliação médica precoce é tão importante.

A tiroide tem também um impacto significativo na saúde reprodutiva e no desenvolvimento cognitivo. Nas mulheres, as disfunções tiroideias podem estar associadas a ciclos menstruais irregulares, dificuldades em engravidar ou complicações na gravidez. Já em crianças, o correto funcionamento da tiroide é essencial para o crescimento e para o desenvolvimento intelectual. Estes exemplos mostram como a saúde da tiroide deve ser uma preocupação transversal e integrada nos cuidados de saúde ao longo da vida.

Na Associação de Doentes da Tiroide (ADTI), temos contacto direto com histórias de pessoas que durante anos viveram com sintomas vagos e frustrantes — como cansaço constante, alterações de peso, ansiedade ou dificuldades de memória — sem perceberem a verdadeira causa. E quando finalmente obtêm um diagnóstico, a mudança é enorme. Saber o que se passa é o primeiro passo para recuperar o controlo da vida.

Mas este caminho não tem de ser solitário. A consciencialização coletiva é essencial para garantir que mais pessoas reconhecem os sinais, procuram ajuda e recebem tratamento atempado.

Apela-se, portanto, à escuta ativa dos sinais do corpo. Se sentir que algo está em desequilíbrio, procure um médico, fale sobre os sintomas, peça exames. O diagnóstico das doenças da tiroide é simples e pode ser feito com uma simples análise ao sangue para medir os níveis da hormona estimulante da tiróide (TSH). A partir daí, com o acompanhamento adequado, é possível recuperar a estabilidade e o bem-estar.

Porque, por vezes, a chave para recuperar o equilíbrio está numa pequena glândula que, apesar de silenciosa, desempenha um papel vital na nossa saúde. A informação é o primeiro passo. O diagnóstico é o segundo. E ambos podem transformar vidas.

Um artigo de Celeste Campinho, presidente da Associação de Doentes da Tiroide (ADTI).