A lampreia é daqueles assuntos que divide as pessoas. Há os que fazem caretas só de ouvir o nome e há os que são capazes de dar a volta ao mundo por um bom prato. E por isso esperam ansiosamente por esta época do ano. Porquê? Porque só entre Janeiro e Abril, altura em que o ciclóstomo faz a desova nos rios e a sua pesca é permitida, é que o famoso peixe de água doce aparece nos restaurantes. Se não tem bem a certeza que sítios são especialistas na matéria, nós ajudamos.

No Tico Tico (Av Rio de Janeiro, 19-21 – Alvalade – 21 849 2495), onde já se cozinha lampreia há 40 anos, chegam às 40, 50 de cada vez. Uma lampreia dá para oito ou dez bocados, “o equivalente a uma dose para duas pessoas”, diz o dono Joaquim Castro, natural de Paredes de Coura. Encomendam-na em Lanhelas. A mesma zona de onde vêm as lampreias do Solar dos Presuntos (Rua Portas de Santo Antão, 150 – Rossio – 21 342 4253). “Sempre da mesma peixeira”, conta Pedro Cardoso. Quando abriram, em 1974, só faziam arroz de lampreia (com o sangue e vinho verde tinto), mas hoje têm de escabeche para entrada, à bordalesa, assada no forno ou em versão açorda. Opções que se justificam pelos dois cozinheiros bracarenses e pela elevada percentagem de funcionários do Norte.

Outra referência incontornável (nem que seja pelo nome) é a Casa da Lampreia (Rua da Madalena, 271 – Baixa - 21 887 3035), que tem décadas de existência e está bem talhada no serviço. Cozinham-na das maneiras mais tradicionais, conforme as escolhas dos clientes, que já têm lugar cativo no restaurante. Com menos anos, mas igualmente recomendável, o Marquês de Palma (Rua José Afonso, 4B – Estrada da Luz – 21 726 90 09) serve-a há oito anos, à moda minhota. “Compramos a um fornecedor de Vila Nova de Cerveira”, diz o dono, Jacinto Ferreira. O Faz Frio (Rua Dom Pedro V, 96 – Príncipe real - 21 346 1860) é outro dos bons restaurantes lisboetas que serve lampreia à minhota e à bordalesa. Pelo menos, dizem, há 40 anos.

No Solar dos Nunes (Rua dos Lusíadas, 68-70 – Alcântara – 21 364 7359), a família com o mesmo nome confecciona-a à minhota, com o arroz em sangue e com as ovas do peixe. Vêm do Rio Minho em cubas oxigenadas, “chegam vivas à nossa mão e o bicho é morto com algum preceito”, diz Zé Tó Nunes. Cozinham-nas também à bordalesa ou de escabeche. “Mas é um prato com um ritual complicado”. Uma opinião partilhada por Francisco Nunes (em comum só o apelido), do Jugo do Lavrador (Rua da Venezuela, 27A – Benfica – 21 716 3783). Aprendeu a cozinhar lampreia aos 11 anos, altura em que trabalhava rodeado de minhotos. E nesta casa, “lampreia há sempre. Convém é avisar”.

Na Adega da Tia Matilde (Rua da Beneficência, 77 – Praça de Espanha – 21 797 2172), os pedidos até chegam antes do tempo. “Em Dezembro já temos gente a ligar”, diz Emílio Andrade, que herdou o negócio dos pais. Fazem-na à bordalesa e à minhota (de escabeche e assada, só por encomenda) há 50 anos. “Nos últimos anos a lampreia tem sido muito procurada”.

A última das nossas referências saiu do Parque Mayer, instalou-se em Monsanto e continua a servir lampreia. Mas só às quartas ao almoço. A família que gere O Manel (Rua do Alvito, Clube de Ténis de Monsanto – Monsanto – 21 364 6302) recebe as reservas à semana e durante o fim-de-semana ruma a Ponte da Barca (terra natal) para trazer as lampreias. “Fazemos sempre à minhota”, diz Júlio Calçada.

E será que toda esta exclusividade sai cara? Se já teve a sua dose esta época é bem capaz de ter pago para cima de 30€. Mas por esta altura um prato custa em média 25€. Mas saiba que quanto mais avança a época, menos tem de desembolsar.

Time Out - terça-feira, 23 de Fevereiro de 2010