"É inédito, nunca nos deparámos com um impacto destes antes. Saímos de anos extraordinários em termos de crescimento, o que tornou os efeitos (da crise) igualmente fortes", disse à AFP Arnaud Cadart, gerente de investimentos da firma Flornoy & Associés.

O grupo LVMH, o maior conglomerado de luxo do mundo e a empresa mais valiosa na bolsa em França, anunciou na segunda-feira (27) que o seu lucro líquido foi reduzido em seis vezes durante o primeiro semestre de 2020. Além disso, a sua margem operacional diminuiu para 9%, enquanto no ano passado era de 21%.

"Acho que nunca vi um alinhamento de planetas tão negativo", reconheceu durante a publicação destes resultados Jean-Jacques Guiony, diretor financeiro do grupo presidido por Bernard Arnault, que inclui as marcas Louis Vuitton, Fendi, Dior, Givenchy , Gerlain, Hennessy ou Sephora.

As perdas foram significativas para todas as grandes empresas de artigos de luxo, que costumavam registar um crescimento de dois dígitos. O encerramento forçado de lojas e fábricas em todo o mundo levou à perdas de milhões de dólares em vendas.

Gigantes do setor, Kering e Richemont tiveram entre abril e junho uma queda de faturação de 43% e 47%, respectivamente, enquanto o da fabricante de bolsas Hermès caiu em 41%. "É uma crise sem precedentes. Devemos passar por uma tempestade, mas estamos bem equipados", disse o diretor da Hermès, Axel Dumas, na quinta-feira (30).

Se a situação das companhias franceses é crítica, a das italianas não é diferente. As vendas da Salvatore Ferragamo caíram para metade entre janeiro e junho, e as da Prada afundaram 40%.

Esperança na China

Além de reduzirem os seus gastos e estimularem as vendas pela internet, as empresas de luxo têm poucos mecanismos para enfrentar uma crise que afeta todos os seus mercados no planeta.

"Precisamos de nos proteger. Cortar custos, reduzir investimentos, proteger os principais ativos", explica Luca Solca, analista de luxo da consultoria Bernstein. A COVID-19 representará, segundo ele, "um acelerador de desenvolvimento e integração de negócios digitais" em grandes grupos de pequenos fornecedores e empresas terceirizadas.

A situação a curto prazo, porém, permanece muito incerta, diz Cadart, da Flornoy & Associés. "Embora haja sinais positivos vindos da China, em outros mercados, como Japão, Europa, Estados Unidos e os países petroleiros, estão em linha de espera", explica.

O setor agarra-se à recuperação do mercado chinês para recuperar a sua prosperidade no futuro. "Parece-me que, apesar da crise, o interesse dos consumidores chineses pelas melhores marcas de luxo europeias ainda é muito alto", avalia Solca. Exceto pelo Japão, o mercado asiático representa um terço das vendas globais de artigos luxuosos.

Para os investidores, o setor de luxo "continua a ser um ativo seguro", defende Cadart. Ele reconhece, entretanto, que é preciso que as pessoas possam permitir-se a comprar este tipo de produto.