“Tinha de ser autêntico” disse o designer Mike Eckhaus em entrevista à revista W e que juntamente com Zoe Latta fundou a marca Eckhaus Latta. “Acho que a ideia de estimulação [sexual] nunca me passou pela cabeça.”

As declarações são a propósito da nova campanha publicitária que chocou o mundo devido ao seu conteúdo gráfico e explícito. Inspirados pelo trabalho da fotógrafa coreana Heji Shin, que no passado fotografou os atos íntimos de vários jovens adolescentes, a dupla decidiu fotografar os modelos com as suas criações ao mesmo tempo que tinham relações sexuais.

“Para nós era muito importante pensar no sexo como algo natural e nunca como algo fabricado, híper-sexual ou como um tabu”, disse Eckhaus sobre a campanha que requereu seis meses de trabalho. A maior dificuldade passou por conseguir arranjar modelos que estivessem dispostos a fazer sexo.

“Queríamos brincar com os princípios da publicidade, mas tinha de ser autêntico e tinha de envolver pessoas reais. Se fosse simulado teria perdido a verdadeira intenção por detrás da sessão fotográfica”, revelou sobre as imagens que apesar de não mostrarem os genitais dos modelos deixam pouco à imaginação.

Lançada esta segunda-feira no site oficial da Eckhaus Latta, de acordo com a marca a campanha foi bem recebida pelo público em geral, algo que surpreendeu os estilistas cujo objetivo era normalizar e nunca transformar o ato sexual em algo sensacionalista. “Não sei se o sexo vende. Mas de certeza absoluta que faz com que as pessoas olhem”.

Saint Laurent, Tom Ford e Dolce&Gabbana: outros casos famosos

Em plena década de 1970, Yves Saint Laurent decidiu lançar a sua primeira fragrância masculina. De forma a romper com a imagem viril e máscula retratada nos anúncios da época, o falecido estilista de moda decidiu fazer algo completamente: assumir o papel de modelo e posar nu para a publicidade da eau de toilette 'Pour Homme'. Fotografado pelo amigo Jean Loup Sieff, este foi um gesto histórico uma vez que nunca nenhum estilista tinha dado a cara pelas campanhas da sua marca.

"Tratou-se apenas de uma provocação da parte do Yves Saint Laurent. A fotografia não era direcionada especificamente para a população gay, apesar de ressoar junto daquela comunidade. Na altura acabou por praticamente não ser publicada. Apenas na imprensa francesa. Só mais tarde é que se tornou quase que num ícone mítico", referiu Pierre Bergé, o ex-companheiro do estilista sobre a campanha durante uma entrevista concedida à revista Dutch em 1997 citada pela revista Vogue.

Em 2002, a fragrância masculina da marca Saint Laurent deu que falar não pelo seu aroma mas sim pela sua campanha publicitária. Na altura Tom Ford, que assumia o cargo de diretor criativo da marca, decidiu fotografar o modelo Samuel de Cubber em nu frontal para a publicidade do perfume 'M7'. A ousadia não caiu bem entre o público, o que fez com que o estilista viesse a público explicar que o anúncio, para além de se tratar de uma homenagem à primeira campanha da marca, era destinado para grandes publicações de moda e revistas destinadas à comunidade gay. Este acabou por ser publicado nos meios de comunicação mostrando apenas a cabeça e o tronco do modelo.

Em 2007, o estilista Tom Ford, que entretanto fundou a sua própria marca, andou nas bocas do mundo aquando do lançamento da sua primeira fragrância masculina. Fotografada por Terry Richardson, não seria de esperar que a campanha contivesse nudez, sex-appeal e um toque de provocação. Com o frasco de perfume colocado estrategicamente entre os seios e os genitais da modelo escolhida para a campanha, o anúncio foi banido em diversos países por ser demasiado gráfico.

No mesmo ano, a Dolce&Gabbana foi outra das marcas de moda que esteve envolvida em polémica devido a uma campanha publicitária. A publicidade, que nas palavras de Stefano Gabbana e Domenico Dolce devia evocar “um sonho erótico, um jogo sexual”, depressa se transformou num pesadelo. A campanha mostrava a modelo a ser agarrada por um homem sobre o olhar atento de outros três. Por supostamente glorificar a violação e a violência contra as mulheres, o anúncio foi banido em Espanha e não chegou a ser publicado em muitos meios impressos.

O útimo caso teve lugar em março e envolvia novamente o nome Saint Laurent. O verniz estalou a propósito de dois anúncios visíveis nas ruas de Paris, em plena Semana de Moda, onde as modelos surgiam naquilo que pareciam posições explicitamente sexuais. Nas redes sociais espalhou-se a hashtag "#YSL Retirem a vossa publicidade degradante", e a Autoridade Reguladora Profissional da Publicidade (ARRP) francesa disse ter recebido cerca de 50 denúncias devido a "imagens degradantes", "mulheres-objeto" e até "incita à violação".