O segundo dia de desfiles da 53ª edição da ModaLisboa começou mais cedo neste sábado nas Antigas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, no Campo de Santa Clara. Por volta das 14h00, Nuno Gama surpreendeu o público ao transformar a passerelle numa instalação, com os manequins espalhados ao longo de um percurso e acompanhados por música ao vivo cantada por André Viamonte. Inspirado pelo Principezinho, Nuno Gama deu o nome de ‘Cativação’ a esta coleção e desafia-nos a homenagearmos o planeta. Nesta coleção o designer mostrou apenas peças únicas. A verdadeira coleção sai apenas em março.
A marca Imauve da designer Inês de Oliveira foi a segunda a pisar a passerelle dos desfiles, desta vez através da plataforma LAB. Pela primeira vez a marca apresentou uma coleção sem estação, formada por duas linhas de pensamento diferentes e ligadas pela cor. Numa delas está uma cápsula de básicos de qualidade, confortáveis para o dia a dia. Um guarda-roupa coeso, mais consciente, acessível e versátil. Noutra está uma inspiração mexicana, com tons fortes como rosa, amarelo torrado, verde lima e laranja.
João Magalhães foi o designer que se seguiu, também ele através da plataforma LAB, apresentando a coleção ‘I Hate People But I Love You’. Aqui, questionam-se os papéis associados ao género. Folhos e silhuetas ligadas ao vestuário feminino são desconstruídos. A tecnologia é olhada com um novo otimismo e ganha forma nos materiais estampados desenvolvidos numa colaboração com o artista digital Guilherme Curado. Materiais luminosos como o vinil e o silicone encontram equilíbrio com a leveza da organza e chiffon de seda, reforçando a ideia de diálogo entre o mundo natural e o man made. Estabelece-se um contraste interessante entre o minimalismo dos anos 90 - desde o slip dress ao universo estético imaculado de Carolyne Besset-Kennedy - com a extravagância das possibilidades do mundo virtual. Uma coleção que contou com uma parceria com a designer de jóias Juliana Bezerra e a marca de swimwear Studio Areia. O styling deste desfile ficou a cargo de Rúben de Sá Osório, que ficou conhecido por vestir Conan Osíris para o Festival da Canção.
Por volta das 17h Patrick de Pádua apresentou a coleção ‘Call me’, onde a base de inspiração foram os Clube Kids, estilo marcado pela irreverência e atitude que marcaram a geração dos 90’s e continuam a influenciar as gerações atuais. A coleção explora o lado funny dessa época, apostando nos estampados, patches e full prints. A identidade streetwear/sportswear continua expressiva em toda a coleção, privilegiando o conforto, em silhuetas diversificadas entre o justo e o oversized.
Ricardo Preto, apresentou uma colecção onde as peças comunicam quer pela sua presença visual, quer pelas silhuetas sofisticadas, resultando num look contemporâneo e irreverente. A paleta de cores evidenciou tons terra, azuis e amarelos metalizados e sóbrios, combinados com tons de malva e bordeaux.
O conceito da coleção de primavera/verão 2020 da Decenio by Alexandra Moura assenta nos pilares da marca. Nesse sentido, a marca decidiu trabalhar com a designer porque a colaboração é parte do segredo da inovação e a criatividade é contagiante. A partir daqui foi trabalhada a desconstrução e o lado mais conceptual, a reinterpretação de peças clássicas, a fusão do romântico com o sport, do clássico com o urbano, da sofisticação e do underground. Alexandra Moura com o seu ADN interpretou todos estes códigos e trouxe uma nova linguagem à coleção, que teve o apoio do Portugal Fashion.
De seguida a passerelle encheu-se das criações de Aleksandar Protic, que se manteve fiel a ele próprio, numa coleção onde as cores, os padrões dos tecidos e as formas foram inspirados nas impressões da infância sobre vestuário, personalidades e singularidade.
Um dos pontos altos do dia foi o regresso do designer de acessórios, Luís Onofre, às passerelles da ModaLisboa, ainda que com o apoio do Portugal Fashion. Com a aura da luz de um verão entre Ibiza e Mykonos, ‘Eivissa’ foi o nome escolhido da coleção que marca este regresso. Aliado à leveza colorida das inesperadas combinações de cores e materiais, o designer reinventou a marca num novo paradigma de sustentabilidade. As peles animais foram substituídas por tecidos, as aplicações são livres de níquel e a madeira ou até a cortiça dão forma aos saltos. Sem nunca perder os seus códigos de elegância, Luís Onofre estabeleceu uma clara aposta num futuro que é de todos.
O designer de acessórios não foi o único a mostrar esta preocupação ambiental na passerelle. Também Ricardo Andrez o fez, com aquilo que começou como um exercício experimental e agora tornou-se uma reflexão constante no campo da sustentabilidade. A procura contínua de tecidos em dead stock começa por ser o primeiro passo para aquilo que é uma urgência e uma consciência social. Sem perder traços de identidade, a marca não procura ser apenas visualmente apelativa, mas pretende também diminuir e debater-se sobre o seu próprio impacto.
A coleção ‘Private Place’ de Dino Alves fechou este 2º dia de desfiles. Esta coleção fala da forma como nos relacionamos com o nosso corpo ao longo dos tempos e como os outros o veem e se relacionam com ele. Que partes fomos destacando e embelezando no decorrer dos diferentes momentos da história. Da audácia, do pudor e do direito a decidir o que fazer com ele. Da ditadura que os conceitos de beleza nos impõem e que nos leva a sacrificá-lo. Da forma como o usamos para nos expressarmos.
Este dia foi ainda marcado por uma iniciativa muito especial entre o designer Luís Carvalho e a stylist Tânia Dioespirro. Tânia é o rosto desta campanha que tem o nome ‘Don’t be shy. Touch yourself!’ e pretende alertar para a importância do auto-exame num diagnóstico precoce do cancro da mama. A stylist tem cancro da mama e nunca teve pudor de falar sobre isso e de dar voz a muitas mulheres. Luís Carvalho materializou essa voz numa criação de uma t-shirt, que é o objeto central do projeto. Está à venda a partir de hoje aqui pelo valor de 35 euros dos quais 85% revertem para a Liga Portuguesa Contra o Cancro.
Amanhã fecha o último dia desta edição da ModaLisboa e por isso não perca as propostas de Constança Entrudo, Gonçalo Peixoto, Carlos Gil, Luís Carvalho, entre outros.
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