Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...

Alberto Caeiro, "O Guardador de Rebanhos"

Foi para uma plateia repleta de amigos e admiradores, que Nuno Gama apresentou as suas propostas outono/inverno 2017. Inspirada no escritor e poeta português Fernando Pessoa, a coleção ‘Heterónimos’ salta assim praticamente da passerelle para as lojas. Algo inédito na carreira do estilista, tendo em conta que as suas coleções são apresentadas durante a ModaLisboa com seis meses de antecedência. Apesar do criador admitir ser uma “loucura” fazer um desfile no final de setembro e no início de outubro apresentar uma coleção completamente diferente, não deixa de frisar a importância desta coleção na sua vida.

“Esta coleção é muito especial. É muito introspetiva em termos profissionais para mim. É muito direcionada para uma faixa de mercado um bocadinho fora do normal em Portugal e para mim. Há uma evolução muito grande a esse nível. Neste momento estou a trabalhar quase em exclusivo com a Dormeuil que é considerado o fabricante de tecidos de luxo do mundo”, explica o estilista natural de Azeitão que, ao comemorar 30 anos de carreira, voltou a surpreender a plateia com as suas criações que, de alguma forma, pretendem sempre enaltecer aquilo que Portugal tem de melhor.

“É gratificante e ao mesmo tempo dá gosto ver alguém que, num meio que supostamente é rotulado de futilidade, demonstra uma capacidade crítica e um empreendedorismo extraordinário”, começa por referir o ator Ricardo Carriço que se desfaz em elogios ao falar do trabalho desenvolvido pelo estilista e amigo. “É pessoa que tem dado provas da sua capacidade de trabalho ao longo destes anos. E depois cria coisas que todos nós ficamos a olhar e sempre com bom gosto e acima de tudo com uma vertente cultural bastante forte. Sempre a apelar à nossa identidade e ao patriotismo. Por isso só tenho de tirar o chapéu ao Nuno.”

A nova linha de Alfaiataria do estilista foi apresentada no Salão Preto e Prata num desfile que contou com 50 manequins que desfilavam ao som dos poemas mais emblemáticos de Fernando Pessoa. Ruben da Cruz, António Camelier e Ruben Rua foram alguns dos modelos nacionais que pisaram a passerelle vestindo peças de uma coleção que pretendia representar a melhor tradição da alfaiataria portuguesa apostando no uso de grandes tecidos, pormenores de requinte e um leve rasto de luxo.

“O que vamos ver hoje é tudo 100% caxemira, 100% alpaca… E todas aquelas coisas maravilhosas que a vida nos proporciona”, referiu Nuno Gama momentos antes de apresentar a sua nova coleção que também se destacou pelos acessórios, como é o caso dos chapéus echarpes, dos coletes e das pulseiras.

A nível profissional, o estilista refere que ainda há muito por fazer. Para além do lançamento de um relógio, fragrância e linha de cosméticos masculina, Nuno Gama não esconde o desejo de regressar ao percurso internacional. “É ótimo o reconhecimento e carinho [do público português], mas já não chega. As minhas asas são grandes. Sou ambicioso e quero voar mais alto. Gostava que um dia o estrangeiro olhasse para Portugal com mais respeito, admiração e carinho e que eu tivesse feito parte disso”, remata.

Recorde-se que o desfile do criador português teve lugar durante o ‘50’s Ball by Nuno Gama’, um evento solidário a favor da Cruz Vermelha Portuguesa que contou com a realização de um jantar, leilão e baile.