Naquela que é a 60ª edição, as fast talks foram conduzidas por Joana Barrios, responsável por fazer a moderação deste painel composto por quatro convidados e oito estilistas portugueses, cuja mensagem de abertura ficou a cargo de Eduarda Abbondanza.
“Esta edição tem um número redondo – 60 edições”, começou por referir a presidente da Associação ModaLisboa sobre o certame de moda nacional que este ano foi repensado totalmente por si. O período pandémico, que afetou todos os setores da sociedade sem exceção, foi o ponto de partida para Eduarda Abbondanza começar do zero e traçar um objetivo para este evento: que este conseguisse devolver a diversão e a alegria que estavam em falta na vida do público português. Assim decidiu batizar esta edição de Core sendo que, uma das suas múltiplas justificações, é uma alusão aquela que é a base e uma das peças centrais da ModaLisboa: os designers e a moda de autor.
As fast talks - que a presidente descreveu como “momento de partilha e reflexão sobre a área da moda” – foram inauguradas por um leque alargado de temas. Inês Sequeira, da Casa do Impacto, e João Esteves, Diverge, foram os dois primeiros nomes a subir ao palco onde falaram sobre empreendedorismo social. Já Anastasia Bilous, editora de moda da Elle Ucrânia, falou sobre a importância de marcas digitais e o metaverso. A convidada Olivia Spinelli, do IED – Istituto Europeo di Design, aproveitou este momento para falar sobre sustentabilidade e educação. João Wengorovius Meneses, da BCSD Portugal, foi o último nome a subir ao palco onde apresentou o programa de inovação BEAT BY BE@T focado na questão da sustentabilidade e focada em desenvolver soluções circulares para o setor têxtil que serão apresentadas em outubro.
Na segunda parte deste painel, oito designers portugueses - cujas coleções outono/inverno 2023/23 serão apresentadas ao longo dos três dias do certame – subiram ao palco para uma conversa informar onde ainda houve espaço para uma sessão de perguntas e respostas.
Joana Duarte
Joana Duarte, fundadora do projeto Béhen que está prestes a celebrar três anos, centrou o seu discurso naquele que são os valores da sua marca: ética, transparência, responsabilidade, sustentabilidade e riqueza das suas peças.
“Em termos de missão a Béhen foi criada com este pensamento de que o design deve resolver um problema ou que os designers deverão refletir sobre determinados problemas.” Um deles é a falta de valorização do património cultural e das suas técnicas têxteis.
Luís Carvalho
Já passaram 10 anos desde que Luís Carvalho decidiu aventurar-se no lançamento da sua marca onde houve sempre a preocupação de criar uma “marca de pronto a vestir em que a roupa fosse vendável”. Um dos destaques da sua carreira foram as parcerias de renome que tem vindo a desenvolver ao longo da sua carreira, como é o caso da Salsa ou da Kaporal.
“Isto tudo foi acontecendo naturalmente e com muito trabalho e dedicação porque ser designer em Portugal é muito difícil e para sobreviver com a nossa marca própria tem que se trabalhar muito”, referiu.
O designer refere que a pandemia foi um momento importante na sua carreira uma vez que serviu para reestruturar a usa marca e fortalecê-la, conseguindo chegar ainda a mais pessoas e investir num sonho antigo: a internacionalização. “Tento sempre reinventar-me todas as estações.”
Ana Duarte
Urbana, desportiva, streetwear e com uma abordagem bastante colorida e cheia de prints. Foi assim que Ana Duarte, fundadora da Duarte, descreveu a sua uma marca de moda que funciona à consignação e com encomendas made to order. “Como a marca é pequena temos a parte boa de conseguir, primeiro, trabalhar com pequenas quantidades de tecidos, ou seja, não temos excedentes de stock parados no atelier, que é uma grande forma de ser sustentável. E como temos as peças do desfile, que são maioritariamente no gender, acabam por servir em mais tipos de corpos que temos em showroom e lançamos no site.”
Sustentabilidade e consciencialização foram o tema central da sua intervenção onde focou alguns dos principais desafios que tem sentido nestes primeiros anos de carreira. Apesar de ter a preocupação de “encontrar materiais que já estejam produzidos” e trabalhar “com produtores portugueses”, refere que o caminho da sustentabilidade não é tão fácil como parece, referindo que a impossibilidade de acesso a alguns materiais com certificados de sustentabilidade é um dos principais desafios que sente no desenvolvimento das suas coleções.
Valentim Quaresma
Questionado se existe uma linha que separa o designer e a marca que tem o seu nome, Valentim Quaresma refere que, no seu caso, isso não é possível. “O processo é sempre o mesmo.”
A aposta em coleções mais comerciais e a ambição por uma carreira no estrangeiro foram dois dos temas abordados pelo estilista durante o painel que teve lugar durante a 60ª edição do certame. “A internacionalização era algo que me preocupava antes da pandemia e foi uma parte que tive de trabalhar e que deixou de fazer sentido”, partilhou o estilista.
Marta Gonçalves
Pestes a completar dois anos de vida, a Hibu Studio é muito mais do que uma marca, assumindo-se como uma comunidade. “Sempre vi a Hibu como uma marca que não era só minha, mas que tinha por detrás muita gente”, referindo que é por essa razão que esta não tem o seu nome. “Gosto de envolver outras áreas com a marca ao ponto de dar quase como uma plataforma para outas pessoas exporem o seu trabalho.”
Apesar de estar presente online e em algumas lojas físicas, o seu objetivo é encontrar novas formas de levar a marca até mais pessoas, seja dentro e fora de Portugal, como é o caso de pop-ups temporárias ou eventos performativos. Encontrar fornecedores, parceiros e fábricas dispostas a trabalhar com jovens designers e que entendam o ADN da sua marca foi das maiores dificuldades que tem sentido nestes primeiros anos. “Acho que devia haver mais plataformas de ajuda neste processo”, salienta.
Nuno Baltazar
Nuno Baltazar, que é uma presença assídua na ModaLisboa desde 1999, fez questão de se apresentar ao público, dando a conhecer um pouco sobre o seu percurso na indústria da moda e o novo rumo que a sua marca decidiu seguir. “Aquilo que tem sido a minha evolução nos últimos anos é abandonar quase essa imagem de ser um designer de moda para assumir cada vez mais um papel de criador de moda de autor que é aquilo que me interessa mais”, referiu o estilista.
O designer de moda, que está prestes a completar 25 anos de carreira, refere que o foco de qualquer designer não devem ser as vendas das suas peças. “A responsabilidade de um designer ou criador de moda é criar uma marca que seja suficiente forte e que chame a atenção da indústria que tem a responsabilidade e vontade de investir nessa marca e torná-la mais global.”
Sobre a questão da sustentabilidade, diz que o público deve, não só reconhecer o valor das marcas que veste, como também deve investir em peças que os apaixonem, de forma a “consumir menos, consumir melhor e consumir uma moda mais consciente.”
João Magalhães
O estilista português falou abertamente sobre a frustração da falta de alcance das suas peças, explicando que o público em geral não tem sensibilidade suficiente para perceber que uma peça, produzida em pequena escala, que exige muitas horas de trabalho à máquina ou manual, tem de ser vendida a um preço justo. “Chegar a um nicho de pessoas que entenda isso é difícil e muitas das pessoas que entendem não podem [comprar]”, refere o designer de 35 anos.
Questionado sobre que tipo de estratégias é que tem adotado para que o público consiga reconhecer o valor da moda de autor, João Magalhães é direto. “Acho que tem muito a ver com o quebrar daquilo que é a comunicação tradicional”, referindo que a criação de filmes ou eventos são boas alternativas para dar a conhecer a mensagem da sua marca e divulgar o seu trabalho.
Nuno Gama
Os desfiles realizados pelo estilista português foi um dos temas da conversa com Joana Barrios, que os descreveu como momentos marcantes e que não deixam o público indiferente. “Há um desafio permanente de ‘O que é que vais fazer a seguir? E como é que vais fazer’ e acho que é um bocado isso que faz com que as coisas aconteçam e as coisas sejam como são”, explica o designer de moda que celebra 40 anos de carreira e 30 de marca.
A sua flagship, localizada no Príncipe Real, tenta ser um reflexo da sociedade e das necessidades das pessoas que ali habitam e que consomem a marca Nuno Gama. “Eu trabalho para os meus clientes”, explicando que o facto de estar presencialmente na sua loja permite-lhe perceber o tipo de produtos que desejam e quais as suas necessidades de acordo com as tendências atuais. “Tento ter noção do que é que as pessoas procuram, do que é que as pessoas gostavam mais, ao que dão mais importância, o que é que valorizam.”
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