Moda sempre foi sinónimo de transformação e reeinvenção. Estes conceitos caminharam lado a lado com o digital e agora ainda mais com a pandemia de COVID-19. Numa altura em que se fala tanto em mudança, já parou para pensar como serão os desfiles de moda daqui a 25 anos?

Os cenários são variados e acreditamos que não haverá apenas uma resposta, pois cada marca irá traçar o seu caminho e procurar aquela que acredita ser a resposta mais adequada ao seu público. A tecnologia já era um fator muito presente neste mercado, mas acreditamos que o surgimento de uma pandemia à escala global veio acelerar aquilo que iria acontecer mais lentamente nos próximos anos. Já são muitas as marcas que têm vindo a mudar os formatos em que apresentam as suas coleções - seja disponibilizando-as em streaming ou através de live através das redes sociais - reduzindo assim o número de apresentações anuais e apresentando-as numa lógica ready to wear.

Com a chegada do surto de COVID-19 aos diferentes países, as respetivas Semanas da Moda tiveram que se readaptar. Recorde-se que foi o que aconteceu com o Portugal Fashion em março, cujos desfiles só tiveram lugar on primeiro dia, tendo as restantes datas sido cancelados em cima da hora devido ao surgimento dos primeiros casos de coronavírus no país. As Semanas da Moda internacionais que se seguiram tiveram mais tempo para se preparar e redaptar a esta nova realidade, uma vez  que não o podiam fazer de forma normal em plena quarentena e estado de emergência, mas também não podiam cancelá-las com receio de quebra nas vendas.

É assim, forçada por uma pandemia à escala global, que a moda se reeinventa mais uma vez e traça um novo futuro que dará lugar a uma nova lógica de apresentação de coleções, que acreditamos que fará cada vez mais sentido e será uma realidade em 2045. Muitas marcas usaram este momento crítico para apostar numa reestruturação e perceber que apenas faz sentido fazerem duas apresentações por ano, ao invés das habituais quatro ou seis, aproximando-se assim do público, fazendo uma redução de custos e seguindo uma lógica de maior consciência ambiental.

Este cuidado e preocupação com o ambiente será algo que se irá ser mais visível daqui a 25 anos, já que esta indústria tem um papel significativo na saúde do planeta, sendo responsável por 10% da emissão de gases responsáveis pelo efeito de estufa e um consumo de água exorbitante. Se este tema já está no topo das prioridades de grandes marcas e grupos de luxo, daqui a 25 anos o seu impacto no ambiente será (esperamos) reduzido drasticamente.

O futuro é, por isso, digital. Os desfiles serão cada vez mais online, seguindo assim o exemplo do continente asiático que foi pioneiro nesta área durante o mês de março. Enquanto o resto do mundo apenas começava a conhecer o novo coronavírus, a Shangai Fashion Week inovou ao fazer os seus desfiles de moda totalmente online, com alguns deles em formatos futuristas, com recurso a cenários 3D que transportavam a audiência para uma nova dimensão. Então e os buyers? Como ficam nesta lógica do digital? São eles os responsáveis pela maioria das vendas desta indústria e por isso o natural é haver uma plataforma que não só transmita os desfiles online, mas que também permita comprar a coleção logo após esta ser apresentada. O Instagram, o Youtube e o Tik Tok já estão interessados nesta lógica de mercado e na corrida para apresentar soluções para a transmissão de desfiles e compra das respetivas coleções.

No entanto tem sempre de haver um equilíbrio entre o mundo real e o digital e, por isso, acreditamos que os desfiles presenciais irão continuar a acontecer mas numa lógica mais controlada e exclusiva, sendo que cada marca irá adaptar estes novos conceitos ao seu target e, desta forma, saírem todos a ganhar.