Muitas escolas nos Estados Unidos da América possuem números de telefones dedicados exclusivamente aos trabalhos de casa, para os quais os pais podem ligar, a fim de se manterem informados sobre as atividades de turma e da escola, sabia? Nós também não, até termos lido o livro «Como Lidar com Crianças Difíceis», de C. Drew Andrews, psicólogo e presidente do KidsPsych Child Behavior and Family Life Center.

Claro que não resistimos em imaginar como seria bom que por cá essa espécie de linha de emergência também existisse. É muito provável que a escola do seu filho ainda não tenha descoberto essa forma de o ajudar na desafiante tarefa de acompanhar, a par e passo, o ritmo do seu filho, as suas dificuldades e missões. Mas terá, com certeza, outras estratégias para trabalhar em equipa consigo.

Empenhe-se em descobri-las que nós, entretanto, também lhe vamos dar uma ajuda para que o seu filho comece e acabe este novo ano escolar com o pé direito. Comecemos então por si, pelos seus hábitos, as suas rotinas, os seus gostos pessoais, a forma como gere a relação com o seu filho, a maneira como reage às suas conquistas e desaires, tudo variáveis importantes na equação do sucesso escolar.

Aliás, grande parte das dificuldades que as crianças sentem ao nível da aprendizagem resulta de problemas emocionais, da falta de estímulo por parte dos pais, da ausência de referências. Por exemplo, se o seu filho for habituado a encarar a desorganização como algo normal (até porque lá em casa as coisas funcionam assim) terá concerteza mais dificuldades em aceitar o ritmo e as regras que a escola impõe.

Significa isto, portanto, que não só deverá ser um modelo neste campo como habituá-lo, desde cedo, a ter horários para dormir, para comer, para ver televisão e para interagir com o telemóvel, o computador e o tablet. «Um aspeto comum a todas as faixas etárias é a perda de noção do tempo quando estão online», adverte Ivone Patrão, autora do livro «#GeraçãoCordão - A geração que não desliga!», publicado pela Pactor.

O imperativo de cultivar o interesse

Por outro lado, é essencial que o motive, desde cedo, a interessar-se por várias formas de conhecimento.Transmita-lhe a paixão da leitura, converse com ele sobre o que vê na televisão, sobre o que se passa no mundo, faça pelo menos uma refeição diária em família (aproveitando o momento para dialogar), leve-o a bibliotecas, incentive-o a escrever um diário, torne os jornais e revistas uma presença assídua na sua casa.

Estimule o desenvolvimento intelectual do seu filho nas horas-extra, com isso, estará a aguçar as suas capacidades intelectuais. O acesso aos novos meios digitais também pode ser usado em prol dessa estimulação. «Estamos a educar crianças e jovens com acesso a informação de forma muito rápida. A digestão de toda essa informação não deve ser acelarada», sublinha, contudo, Ivone Patrão.

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Estar alerta mas sem controlar demasiado

É muito importante também que a criança, sem se sentir demasiado controlada, se aperceba que o seu interesse não se limita às notas dela, que se estende à forma como ela vive a escola e se relaciona com os colegas e amigos. Sem que o diálogo soe a interrogatório, converse diariamente com ela sobre as atividades escolares e lúdicas que experimentou, aproveitando para a fazer compreender o porquê das coisas.

Este tipo de envolvimento contínuo permitir-lhe-à também tomar pulso e detetar a tempo as dificuldades que a criança poderá ter. Esteja ainda atenta a sinais como falta de vontade em ir para a escola, manifestações de desilusão e aborrecimento, enurese noturna, náuseas, vómitos, dores de cabeça recorrentes e perda de peso. Estes, entre outros sintomas, estes podem denunciar o medo que a criança tem em falhar na escola.

Podem indiciar ainda problemas com outras crianças ou receio do professor, o que acaba por lhe gerar também uma situação de stress e de ansiedade, prejudicial ao seu desempenho escolar. Esta é uma situação que, de acordo com a American Academy of Pediatrics, afeta cerca de cinco por cento das crianças, com todas as consequências negativas para a saúde psicológica da criança que daí advêm.

Caso note que algo de errado se pode estar a passar não hesite em conversar calmamente com a criança, procurar o professor, conversar com os amigos mais próximos do seu filho e, analisada e eliminada a hipótese de se tratar de um problema físico, procurar acompanhamento psicológico. Muitos pais, nos dias que correm, ainda menosprezam esta questão, como têm vindo a alertar inúmeros especialistas.

Princípio do realismo

A sua postura face ao desempenho escolar da criança deve ser balizada em função de expectativas realistas, caso contrário só estará a provocar ansiedade no seu filho e isso, como calcula, é contraproducente. Se ele revelar um comportamento problemático na escola, terá de aplicar o mesmo princípio. Não queira resolver tudo de uma só vez, como aconselha C. Drew Edwards.

«Temos de estabelecer objetivos específicos e razoáveis para o comportamento dos nossos filhos, em vez de tentarmos alterar tudo ao mesmo tempo», defende. «Se uma criança fala demais, é insolente com o professor, importuna os colegas e chama nomes às crianças, lide primeiro com os comportamentos mais problemáticos, ser insolente e importunar os colegas», alerta ainda o especialista.

Quando as notas negativas surgem, o melhor a fazer é ouvir as explicações da criança, questionar sem intimidar, perceber em equipa as causas da situação. Avalie se na base dos maus resultados está o facto de a criança passar demasiado tempo a ver televisão, ao computador. Se for o caso, chegue a um acordo com ela e restrinja esse tipo de atividades. Nunca a censure ou culpe, especialmente à frente de outras pessoas.

Se a situação se repetir, procure o professor para que possam definir uma solução. Uma delas poderá passar pelo recurso a um explicador, capaz de ajudar o seu filho a recuperar o fôlego numa determinada disciplina. Mas não espere pela época de testes, como erradamente fazem muitos pais. Procure atempadamente esse tipo de auxílio, sem cair no exagero, idealmente antes ou no arranque das aulas.

Veja na página seguinte: Os erros no estudo que os pais devem evitar

Aprender a estudar

Os erros não se cometem apenas quando as crianças trazem notas negativas para casa. Os pais também se enganam na hora de reagir às boas notas, nomeadamente quando decidem recompensar os filhos com presentes, com objetos, com roupas ou apenas com a recompensa de algo maior num futuro próximo. Na verdade, a melhor forma de o premiar é mostrando abertamente a sua felicidade e o orgulho pelo seu desempenho, pela sua evolução.

Outro dos grandes segredos para que uma criança seja bem sucedida na escola é a capacidade de retirar prazer da aprendizagem e o facto de ter a noção do quão importante é aprender. Esse gosto e essa perceção podem evidentemente ser cultivados pelos pais, estimulando a curiosidade e concedendo, sempre que possível, um lado lúdico à aprendizagem. A própria forma como a criança estuda ou faz os trabalhos de casa é de suma importância.

Mesmo que não existam deveres, o estudo deve ser diário e não apenas guardado para as vésperas stressantes de testes. É essencial que a criança faça revisões após cada dia de aulas sobre a matéria lecionada e, sempre que possível, alargue o seu leque de conhecimentos para além do que aprende na escola. E é tão fácil se pensarmos, por exemplo, nos livros repletos de ilustrações e explicações, esquecidos nas prateleiras da sua casa.

A maior enciclopédia do mundo à distância de um clique, a internet, também é, nos dias que correm, uma ferramenta indispensável. «Desde logo o acesso à informação é mais rápido e há a possibilidade de aceder a conteúdos variados», sublinha Ivone Patrão, que aponta, contudo, a necessidade de explicar aos alunos a importância de «consultar sites seguros e fidedignos no que diz respeito à informação que publicam».

Pais presentes

Se está a pensar que marcar presença nas reuniões de final de período e procurar o professor quando existe algum problema é o suficiente, o melhor é reformular a sua estratégia. O ideal é que contacte sempre o professor no início do ano letivo, que lhe demonstre interesse em estar a par da evolução do seu filho, que lhe revele as suas maiores dificuldades e necessidades e que não perca tempo em procurá-lo, caso note alterações no comportamento e/ou no rendimento escolar da criança.

Se ela tiver dificuldades numa disciplina em particular, tente saber quando será o próximo teste de forma a poder
ajudá-la a preparar-se com antecedência. No caso da matemática, que costuma ser um verdadeiro quebra-cabeças para muitas crianças, use desde muito cedo um truque. Desperte o seu interesse para esta disciplina, mostrando-lhe o quão desafiadora e divertida pode ser.

Pode consegui-lo se, a partir dos quatro anos, habituar o seu filho a fazer jogos de cálculos, puzzles e/ou geometria, que também estimulam o funcionamento cerebral. Se, eventualmente, não concordar com alguma regra ou trabalho definido pelo professor, o melhor é agendar uma hora em que possam conversar calmamente, sem que a criança esteja presente. Antes dessa reunião, prepare o que tem para lhe dizer.

Ao fazê-lo, tente sempre ser positivo e demonstrando calma. Ouça os argumentos do professor e caso não concorde com ele tente falar com o superior hierárquico. Afinal, não há nada que não se resolva. «Gostamos de deixar claro aos pais que a interferência deles no processo educativo é saudável. Mas ambas as partes precisam estar abertas ao diálogo», sublinha Celina Cattini, diretora de um colégio brasileiro.

Texto: Nazaré Tocha e Luis Batista Gonçalves