«Tentei educar o meu filho com livros, mas ele olhou para mim desconfiado. Tentei ensiná-lo com palavras, mas muitas vezes não foram ouvidas. Desesperado, gritei para quem pudesse ouvir. Como devo educar o meu filho? Na minha mão ele mesmo colocou a resposta. Vem, disse ele, brinca comigo», pode ler-se.

É com estas palavras, inscritas à entrada do Museu da Criança em New Orleans, nos Estados Unidos da América, que Paulo Oom, pediatra e pai de cinco filhos, resume a paternidade. Descubra as respostas que este especialista dá às dúvidas e aos anseios de outros pais.

«O sentimento de quase impotência que sinto quando o meu filho sofre de cólicas é arrasador»


A afirmação é de Pedro, 35 anos, pai do Rodrigo, 1 mês. «As cólicas do bebé são um processo normal de amadurecimento dos intestinos que temos a obrigação de aliviar. Iniciam-se após as primeiras duas ou três semanas de vida e a intensidade cresce gradualmente até que desaparecem, aos três ou quatro meses. Em casos muito raros prolongam-se até aos seis meses ou mais», refere o especialista.

 

«A frequência e a intensidade variam. Normalmente o bebé chora, esperneia e faz movimentos repetidos de flexão dos joelhos sobre a barriga. Estas queixas são diárias e mais frequentes ao fim da tarde», diz o pediatra apontando truques como «fazer uma massagem na barriga ao mesmo tempo que se faz a flexão dos joelhos ou colocar o bebé ao colo de barriga para baixo. Em alguns casos pode dar medicamentos em gotas para aliviar a dor», acrescenta Paulo Oom.

«Como posso motivar os meus filhos para o estudo sem os sujeitar a um grau de exigência excessivo?»


A dúvida é colocada por João, 45 anos, pai do João de 16 anos e da Inês de 14 anos. «Os pais devem fomentar na criança hábitos de organização e de estudo. O acompanhamento dos trabalhos de casa não é a única estratégia. Criar hábitos de leitura diários pode ter efeitos tão ou mais importantes. Estimular a curiosidade por tudo o que a rodeia incentiva o desenvolvimento da criança e pode influenciar o desempenho escolar», diz Paulo Oom.

 

Acima de tudo, «os pais devem mostrar interesse por todas as atividades escolares desenvolvidas pelos filhos e não faltar a reuniões com o professor, saraus ou outras ações escolares. Esta participação serve para a criança testemunhar como, para os seus pais, é importante tudo o que ela faz na escola», realça.


«Quando ele tinha cinco ou seis meses e os primeiros dentes estavam a nascer teve imensas dores. Como podemos aliviá-las?»


A dúvida é colocada por Carlos, 36 anos, pai do Eduardo, 20 meses. «Existem alguns produtos anestésicos locais que se podem colocar na gengiva da criança para aliviar as dores da erupção dentária», refere o pediatra. «Nos casos mais dolorosos, e como exceção, pode ser dado um supositório de paracetamol para todos dormirem descansados», aconselha ainda.

«Qual o número correto de refeições que o meu filho deve fazer?»


Esta é a principal interrogação de Nuno, 35 anos, pai do Tomás, 10 meses. «Nessa idade, o número de refeições deve variar entre cinco e seis por dia e depende principalmente da dimensão do dia da criança e da sua atividade. Em casos especiais, como na presença de certas doenças ou obesidade, o esquema poderá ter de ser ajustado pelo pediatra ou nutricionista. Habitualmente, a criança recebe na escola três destas refeições (a meio da manhã, almoço e a meio da tarde) e as restantes (pequeno-almoço, jantar e ceia) em casa», explica Paulo Oom.

«Não posso protegê-los para sempre, mas como devo educá-los para que nunca desistam face às adversidades e distingam o bem do mal?»


Esta é a questão colocada por Ricardo, 34 anos, pai do Rodrigo de 3 anos e do Tiago de 6 meses. «Os pais são o modelo preferencial dos filhos. O desenvolvimento da autoestima, da autoconfiança ou do autoconceito é fundamental e adquire-se principalmente pelo contacto com os pais. «Tu és capaz» é uma frase que, vinda do pai ou da mãe, tem uma força enorme», sublinha o pediatra.

 

«Outros traços que podem (ou não) desenvolver nos seus filhos são a capacidade de iniciativa, a criatividade, a curiosidade, a motivação, a cooperação e a persistência (que permitirá chegar mais longe, quando outros já desistiram). Todos estes atributos podem ser modelados pelos pais, se estiverem com os filhos algum tempo (e tempo de qualidade). Não são necessárias palestras ou conversas longas sobre o significado da vida. Basta agir, partilhar e divertir-se com eles. Tudo o resto virá por acréscimo.»

«É possível evitar o uso exagerado de telemóveis? E que riscos traz para a saúde?»


Muito comum também, esta dúvida preocupa João, 45 anos, pai do João de 16 anos e da Inês de 14 anos. «O uso de telemóvel é inevitável nos dias de hoje, mas devem existir regras. Em primeiro lugar, deve ser dado à criança quando ela realmente precisa e não apenas porque os colegas o têm. Nos adolescentes, se necessário, devem ser instituídas regras ou horários caso o seu uso seja excessivo», refere Paulo Oom.

 

«A alternativa é ser o filho a pagar os custos de utilização com a sua mesada desde que, claro, esta não seja exorbitante. Não há ainda consenso na comunidade científica sobre a possibilidade do uso excessivo de telemóveis aumentar a incidência de tumores cerebrais.»

«Aos dez meses a minha filha engasgou-se com um pedacinho de maçã e não conseguia parar de tossir nem respirar. O que fazer nestas situações?»


Manuel, 31 anos, pai da Inês, 13 meses, apanhou um grande susto. «Esta é uma situação com a qual é difícil de lidar. A primeira reação deve ser colocar a criança de barriga para baixo com a cabeça inclinada para o chão ao mesmo tempo que batemos nas costas. Na maioria dos casos, este procedimento resolve a situação. O que aconselho a todos os pais é fazerem um curso de primeiros socorros ou de reanimação em crianças», refere ainda.

«O que me angustiou mais foi quando a minha filha, com um ano, teve de ser operada a uma falha palatina incompleta e ficar hospitalizada»


Bráulio, 32 anos, pai da Lívia, 15 meses, já teve de assistir à hospitalização da filha. «A fenda labial ou
lábio-palatina é um defeito na formação do lábio, do céu da boca ou dos dois. A sua principal consequência não é só estética, mas o facto de poder estar associada, no início, acienproblemas alimentares, pois são bebés que têm dificuldade em fazer a sucção e que se alimentam mal», sublinha Paulo Oom.

 

«Se não corrigidos a tempo e de forma eficaz, estes defeitos podem gerar problemas de audição e linguagem. Nos casos mais graves, as crianças (e os pais) necessitam de apoio psicológico. Felizmente, existem hoje em Portugal centros onde estas crianças podem ser tratadas, com recurso a cirurgia e a outras técnicas e terapêuticas. Posso assegurar que, após uns primeiros tempos de embate e luta, tudo vai parecer ter valido a pena», diz o pediatra.

«Será que a minha filha dorme o suficiente durante o dia?»


Manuel, 31 anos, pai da Inês, 13 meses, preocupa-se muito com o descanso da filha. 

 

«Não há regras fixas em relação ao tempo que cada criança deve dormir. Existem alguns valores médios, mas não devem ser interpretados à risca. Cada criança é diferente», adverte Paulo Oom.

 

«A partir dos três ou quatro anos pode deixar de dormir durante o dia e dorme cerca de dez a 12 horas por noite, o que mantém até cerca dos seis anos. Mais importante do que fazer ou não a sesta, é prestar atenção à vitalidade que a criança mostra durante o dia, ao seu rendimento escolar e humor, para determinar qual o horário que melhor se adapta a ela», acrescenta.

«Tenho receios, como qualquer outro pai em situação monoparental. Não sei se o modelo de educação que escolhi é o mais adequado»


Pedro 49 anos, pai do Gonçalo de 10 anos, da Leonor e da Mariana de 10 e do João de 12, também se interroga muitas vezes. «Há muitas formas corretas de educar. Perante a mesma situação, os pais atuam de forma diferente. Mesmo que pudéssemos reunir um grupo de especialistas, pediatras e psicólogos, dificilmente estariam de acordo sobre a melhor forma de exercer a disciplina», refere Paulo Oom.

 

«Não há uma estratégia única e infalível. Há seguramente algumas regras básicas mas, como cada adulto é único e cada criança é única, todas as regras devem ser adaptadas à situação concreta que vivemos. Com bom senso», apela o pediatra.

Ser pai é...

«Pegar num filho ao colo com apenas duas horas de vida e ver semelhanças espelhadas nele», considera Manuel, 49 anos, pai da Filipa, 21 anos.

«O sentimento indescritível de ir todas as noites dar-lhes um beijinho à cama quando já estão a dormir, tapá-los e aconchegá-los», sublinha Ricardo, 34 anos, pai do Rodrigo de 3 anos e do Tiago de 6 meses.

 

«Uma manifestação espontânea de carinho e o sentimento de segurança que sinto, e que ela sente, quando está comigo», refere Jaime, 32 anos, pai da Leonor, 6 anos.

«A primeira vez que ouvi o seu coração bater furiosamente na ecografia», recorda Nuno, 35 anos, pai do Tomás, 10 meses.

«Ser pai é a melhor coisa da vida!», assegura Carlos, 40 anos, pai do João, 3 anos.

Texto: 
Manuela Vasconcelos