Quando surge uma birra, o objetivo imediato dos pais é garantir que ela termine o mais rapidamente possível. Claramente se assume como primordial uma ação direta e imediata face ao problema. No entanto, importa ter em conta que um comportamento opositor tem sempre um fundamento e um propósito. Normalmente, existe uma intencionalidade comunicativa associada, e é uma forma de a criança expressar as suas necessidades ou vontades.

O que é que um comportamento desafiante pode significar nas crianças com PEA?

  • Que estão confusos e precisam de orientação;
  • Formas de expressão de sentimentos;
  • Desconforto com a tarefa ou situação;
  • Necessidade de previsibilidade;
  • Que quer alguma coisa, mas não sabe como pedir;
  • Que tem vontade de interagir, mas não sabe como fazê-lo.

Quando estiver perante um comportamento desafiante, reflita sobre qual o tipo de mensagem que o seu filho lhe quer transmitir. Na maior parte das vezes a mensagem pode ser clara, até porque conhece o seu filho melhor do que ninguém, mas nem sempre é assim tão obvio. Procurar uma atribuição para o comportamento que está a ocorrer, pode ajudar na escolha de uma resposta mais adequada.

É também muito importante prestar atenção ao contexto e circunstâncias nas quais os comportamentos ocorrem.

Pode, para isso, usar um papel e dividi-lo em 3 colunas, tal como no exemplo que se segue:

tabela

Após realizar este exercício ao longo de uma semana, irá aperceber-se do surgimento de padrões. Embora o comportamento do seu filho possa ser sempre diferente, poderão existir momentos do dia em que os comportamentos desafiantes são mais prevalentes. Pode notar, por exemplo, que surgem mais dificuldades na hora de deitar ou de acordar. Este exercício é, também, importante para monitorizar o tipo de estratégias que encontra para resolver o problema, e perceber se estão, ou não, a ter o resultado pretendido.

Dicas para lidar com os momentos “críticos” do dia

1) Birras matinais

O que a criança lhe poderá estar a comunicar?

  • Para muitas crianças com PEA a escola é um contexto de stress e as manhãs são o antecipar de experiências menos positivas ao longo do dia.

Como a ajudar?

  • Deixar a maior parte das tarefas preparadas de véspera. Escolher a roupa na noite anterior, ou deixar a mochila pronta, evita duas tarefas extra após o acordar;
  • Estabeleça uma rotina da manha fazendo, se necessário, uma tabela com imagens das tarefas;
  • Poderá decompor algumas tarefas nas suas várias etapas elementares, como por exemplo colar na casa de banho uma imagem que exemplifique todos os passos necessários para lavar os dentes;
  • Poderá ser igualmente útil experimentar várias formas de acordar o seu filho, de modo a facilitar a transição do acordar e a evitar mau humor matinal;

2) Refeições

O que a criança lhe poderá estar a comunicar?

  • As refeições podem ser um momento desestabilizador, quer por dificuldades associadas ao processamento sensorial que se traduzem no evitamento de determinados alimentos pela sua textura, cheiro ou até mesmo cor, mas também pela falta de apetite.

Como a ajudar?

  • Introduzir um alimento novo de cada vez;
  • Permitir à criança explorar o alimento: cheirá-lo, manipulá-lo com os dedos, e senti-lo nos lábios - a aceitação do alimento pode não ocorrer logo, sendo importante que se mostre paciente, dando tempo à criança;
  • Se considera que o seu filho não come a quantidade suficiente de nutrientes, monitorize os alimentos que ingere a cada refeição. Poderá, inclusivamente, ser necessário consultar ajuda especializada junto de um nutricionista ou psicólogo especializado em comportamento alimentar;
  • Prepare um menu semanal das refeições juntamente com o seu filho, a previsibilidade é uma forma de autorregulação;
  • Seja claro nas regras e certifique-se que o seu filho sabe exatamente o que é esperado dele.
  • Torne a comunicação mais positiva. Por exemplo, em vez de lhe dizer que não pode sair da mesa enquanto não comer tudo, diga-lhe que todos os alimentos que estão no prato vão transformar-se em nutrientes importantes, e que o corpo precisa de todos eles, justificando assim a importância de os comer.

3) Hora de dormir

O que a criança lhe poderá estar a comunicar?

  • A hora de dormir é um momento de transição que pode tornar-se difícil, sobretudo em crianças com dificuldade em adormecer e com problemas no sono. Também se poderão adivinhar dificuldades quando esse momento é antecedido por alguma atividade que a criança goste muito, e seja do seu especial interesse.

Como ajudar?

  • Deite o seu filho sempre à mesma hora;
  • Procure ter sempre as mesmas rotinas antes de ir para a cama;
  • Evitar atividades muito estimulantes no período que antecede o sono: optar por ler um livro ou ouvir uma música;
  • Definir um “momento especial”: quando o seu filho se deitar, permaneça ao pé dele 5 ou 10 minutos, com o único propósito de lhe dar carinho, quer através de uma forma mais física, orientada para o toque, quer através de incentivos, elogios e manifestações acerca do quanto gosta dele; 

Texto: Liliana Moreira/Psicóloga Clínica