Há mães que passam efetivamente por isto, eu incluída. Uma crise daltónica em tons de azul (e derivações do azul). E demora a ultrapassar esta crise de daltonismo, que impede de ver outras cores, de experimentar outras tonalidades, pois o azul, e só o azul, é que fica bem.

Começou com o mais velho; variávamos a paleta cromática um tom abaixo e um tom acima do azul. Tudo, claro, conjugado com o puro e diplomaticamente neutro branco. Jogávamos pelo seguro, pelo certo, pelo que sabia que iria correr bem e não haveria riscos traumáticos associados.

Ora, era simples, fácil, e rápido. Permitia mesmo que eu, de olhos fechados, ou o pai distraído, conseguíssemos sempre acertar na combinação da roupa do miúdo. Calças, e polos, polos ou camisas, camisolas, tudo nos tons do mar. Só haveria uma regra, se a calças fossem azul-escuro, logo a parte de cima não deveria ser do mesmo tom. Teria que ser mais claro. Já com calças bege, ou jeans (sim, porque o miúdo já ousava usar jeans), aí tínhamos liberdade total para escolher a parte de cima. Era a loucura entre polos e camisas brancas, ou camisas azul-claras, ou camisas azuis com risquinha azul-escura, ou até mesmo camisa azul debruada a branco, e, lá pièce de resistence, camisa azul, com quadradinhos em DOIS (sim dois!!) tons de azul! Era o delírio no armário!

Como podem ver, a criatividade exigida a mim mesma não era muita, mas em minha defesa, eu gostava, e ainda gosto muito, do azul, e assentava-lhe lindamente. Mas, na verdade, quando olhava para os meninos que orgulhosamente exibiam umas peças mais arriscadas, com cores mais "diferentes",  gostava do resultado final. Só não sabia era como haveria de replicá-lo no meu.

À medida que o miúdo ia crescendo, comecei a dar asas à minha imaginação. Passeava-me pelos charriots (reduzidos) de roupa de meninos, e houve uma camisola verde que me piscou o olho. Timidamente trouxe-a comigo. Com a camisola, veio também algo em tons de clássico bordeaux, e para combinar uma camisa com risquinhas fininhas no mesmo tom. Era muita dose de criatividade no mesmo saco, e portanto não quis arriscar mais em terreno desconhecido.

No Natal, ofereceram-lhe um conjunto de calções vermelhos e uma camisa com riscas vermelhas. Percebi logo que os calções eram já muito avançados para a minha falta de experiência na área, e foram postos de parte. A camisa foi usada, com calças azuis, claro está!

Depois vieram as T-shirts coloridas, que prometiam um look giríssimo na pele do miúdo já moreno pelo sol. E eu deixei-me levar. Seguiram-se os polos, mais claros e já numa paleta bem diferente da do habitual.

Mas o grande turning point deu-se em duas fases distintas. A primeira foi o nascimento do meu segundo filho. Talvez por nunca ter enjoado na gravidez, devo ter enjoado a cor, e mal o bebé deixou de ser tão bebé, demos um descanso ao azul. A segunda, talvez até a mais importante e decisiva, foram uns calções de banho oferecidos, com uma T-shirt a fazer conjunto, em rosa. Sim, rosa, o mesmo rosa que eu andava a fintar, por isso não me sentia à altura de um desafio como este. Rosa. Não eram todos rosa. Tinha branco, tinha rosa mais claro, e até mais escuro. O padrão era bem giro, e era daquelas peças que eu veria num miúdo e pensaria "Olha! Que giros estes calções!", mas não no meu.

Entre a espada e a parede, lá ganhei coragem e fui em frente! Uns calções rosa! Verdade seja dita, ficavam-lhe lindamente, e eu adorei o resultado final! Agora, ele era um daqueles miúdos com pinta que eu via e não sabia como replicar!

Neste momento podem dizer que perdi a cabeça. Ele é T-shirts com cores néon (super na moda neste ultimo verão!), calções de banho laranja e até vermelhos com amarelo, longsleeves com apontamentos de roxo, ou salmão! Verde-claro e verde-escuro, verde-seco e verde-lima. A loucura instalou-se e não há volta atrás!!!

Marta Andrade Maia

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