Promovido pela Associação Democrática de Defesa dos Interesses e da Igualdade das Mulheres (ADDIM), o "Projeto Viver Sempre", desenvolvido entre outubro de 2016 e março de 2017, partiu do peso que a violência doméstica tem na sociedade, como se lê no relatório final a que hoje a Agência Lusa teve acesso.

"A violência doméstica é um fenómeno transversal a todas as idades. As estatísticas nacionais e internacionais apontam para que um em cada 10 idosos seja vítima de maus-tratos ou negligência", lê-se no documento.

A finalidade deste projeto foi "informar, sensibilizar e consciencializar as potenciais vítimas idosas", tendo participado utentes do Centro Social e Paroquial da Areosa, Regado, Machado de Vaz, Cerco, São Tomé, São João de Deus bem como da Casa Jesus, Maria José do Monte Pedral.

"O projeto visa a promoção de um envelhecimento saudável e ativo e o desenvolvimento de competências pessoais e sociais que permitam fortalecer a autoestima, o bem-estar emocional dos participantes e o desenvolvimento de relações pró-sociais, que os tornem menos vulneráveis à vitimização", prossegue o documento.

Numa primeira fase, "foram trabalhados temas como os Direitos Humanos, tipos e formas de violência, mitos sobre violência e sobre a terceira idade e estratégias de segurança", enquanto num segundo momento se desenvolveram as "competências pessoais e sociais, bem como a promoção da autoestima".

No sentido de perceber se o projeto teve impacto nos participantes, a avaliação "realizou-se através da comparação das respostas dos participantes ao mesmo questionário no início e no final do projeto".

"As crenças positivas sobre a velhice, crenças legitimadoras da violência conjugal e contra idosos e a forma como avaliam o seu bem-estar" foram os temas em busca das respostas comparativas.

Nas conclusões do relatório lê-se que "61,7% dos participantes apresentam uma visão positiva sobre a velhice (contra 36,25% antes do projeto), 70% não se identificava com crenças legitimadoras da violência (30% antes do projeto) e 93.3% consideram que têm níveis positivos de bem-estar (contra 77,5% antes do projeto).

Os 90 idosos que participaram nas dez sessões quinzenais de uma hora do projeto tinham em média 76 anos, sendo que 18% eram homens e 82% mulheres.

Sofia Jamal, uma das psicólogas da ADDIM que esteve no terreno, contou à Lusa "que havia expectativas elevadas porque estavam a trabalhar pela primeira vez com idosos, com pessoas com crenças mais cristalizadas, e os resultados são muito animadores".

"Este é um projeto que precisa de continuidade, de ser alargado, pois só assim será possível ir ao fundo das questões, desconstruir as crenças, os limites em torno da violência e da terceira idade", salientou.

Já Carla Branco, presidente da ADDIM, revelou à Lusa que vai apresentar as conclusões do projeto à Câmara do Porto em busca de "algum apoio", que complemente aquele que já lhes chega das parcerias estabelecidas com as Juntas de Freguesias de Paranhos, Bonfim e Campanhã.

"Queremos chegar a mais de 800 idosos, num trabalho previsto para durar um ano", disse a responsável da Instituição Particular de Solidariedade Social de um projeto a que já associaram "uma enfermeira, psicólogos e uma assistente social" e para quem “só com um apoio financeiro” poderá o projeto “ter um impacto social".