O século XXI vai ser o da mudança na reorganização entre a vida privada e a profissional porque as exigências do mercado de trabalho estão a “estrangular” as famílias, sustenta a especialista Maria do Pilar González.
“O grande desafio da sociedade é a conciliação da vida privada e profissional. Este estrangulamento, esta pressão de disponibilidade por parte dos empregadores é uma condicionante das decisões familiares que, por serem da esfera privada, não são discutidas publicamente”, sublinha a professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto em declarações à Lusa.
O problema, explica, é que as instituições exigem aos trabalhadores enorme disponibilidade, “como se o trabalho doméstico não existisse”.
Mas ele “existe, tem valor social e alguém tem de o fazer”, defende, alertando que existe o risco de as carreiras profissionais se tornarem de tal forma exigentes “que as pessoas têm de se dedicar exclusivamente ao trabalho”.
Lembrando que Portugal já padece de um défice demográfico, a professora afirma que a tendência será sempre para “flexibilizar o trabalho doméstico”, onde se inclui o cuidado dos filhos e dos idosos, deixando-lhes “o tempo que sobra, que é pouco”.
A solução passa por “assumir que o trabalho doméstico tem de ser feito”, e que “se o trabalho remunerado é dividido” entre homens e mulheres, “o doméstico também tem de ser”.
“Porque a legislação é avançada pensa-se que está tudo bem, mas não está. As coisas mudaram muito mas as mulheres continuam a ser os principais agentes do trabalho doméstico”, observa.
18 de Abril de 2011