“Nós falamos o típico dialeto português”, disse à Lusa o ex-pescador de 72 anos, admitindo que quando falava com os amigos dizia as palavras de forma diferente do que com os mais velhos.

“Os mais velhos dizem ‘igual’ e nós dizemos ‘sama sama’, já é uma mistura com a língua nacional”, contou, sentado num banco em frente ao mar onde em 1909 Diogo Lopes Sequeira, enviado do Rei D. Manuel, aportou em Malaca para estabelecer relações com o soberano local. Dois anos mais tarde, Afonso de Albuquerque desembarcou em Malaca, demoliu a Grande Mesquita, e levantou no local uma fortaleza que seria um importante entreposto comercial.

Na mesma altura, surge o crioulo de matriz portuguesa kristang, uma língua agora ameaçada de extinção, que emprega a maior parte do seu vocabulário do português, mas a sua estrutura gramatical é semelhante ao malaio e extrai as suas influências dos dialetos chinês e indiano.

“Por isso é que às vezes é difícil perceber quando os mais velhos falam a verdadeira língua portuguesa”, explicou, acrescentando que agora já nem o dialeto misturado é falado em sua casa quando está com os seis filhos e netos.

“O inglês hoje em dia é muito importante quando se vai à escola, porque temos de lidar com os estrangeiros, por isso temos de falar bem inglês, caso contrário é muito difícil arranjar trabalho”, justificou Joseph de Costa.

Outra das diferenças que nota, comparando com a altura em que ia à escola, é a relação que os mais novos têm com as diferentes religiões: “eu tinha amigos muçulmanos, eles costumavam ir à nossa casa, nós costumávamos ir à deles”.

“Mas agora há algumas pessoas fanáticas que dizem que não podemos ir a casa de pessoas das outras religiões, beber do mesmo copo deles”, afirmou.

Quando vai buscar a sua neta à escola, Joseph de Costa tem notado que tem visto “as crianças muçulmanas todas num grupo, os chineses noutro grupo, os indianos também, à espera que os pais cheguem”.

“O que eles deviam fazer era estarem todos misturados”, defendeu.

O islamismo é a religião oficial na Malásia e é praticado por mais de 50% da população malaia (31 milhões de habitantes). O budismo (17%) e o taoismo (12%) estão à frente do catolicismo, que é praticado por cerca de 8% da população do país.

No bairro português, as tradições católicas fazem parte da identidade cultural desta população como por exemplo o Natal e as festas de São Pedro, que se realizam na cidade no fim de semana.