Congelar os ovócitos para poder adiar a maternidade é a nova moda nos EUA. Por cá, também já é possível fazê-lo. Congelar a fertilidade para ter um filho no momento certo, com a pessoa certa. Por estas ou por outras palavras, o tema da criopreservação de ovócitos (células sexuais femininas) dominou os media mundiais nos últimos meses. Tudo começou com a notícia de que grandes empresas, como o Facebook e a Apple, estariam a propor esta técnica de preservação de fertilidade às suas funcionárias. Daí aos relatos de sessões de esclarecimento em clínicas norte-americanas, às dúvidas sobre as motivações deste tipo de oferta.

As declarações de que seria um passo decisivo rumo à igualdade entre géneros, aliviando as mulheres da pressão do 35º aniversário, ao permitir-lhes apostarem na carreira e na busca do parceiro certo em liberdade, também geraram interrogações e a polémica instalou-se. Estava lançada uma nova tendência que iria revolucionar a forma como as mulheres gerem a sua vida e fertilidade. Uma revolução provocada por esta técnica que, através da remoção e congelação dos ovócitos para fecundação posterior, tinha sido usada, até agora, sobretudo por doentes oncológicas para preservarem a sua fertilidade.

Nos últimos anos, foi despertando interesse também junto de mulheres que, por razões profissionais ou pessoais, veem nela a oportunidade para adiar um sonho, ser mãe. No nosso país, a congelação de ovócitos tem sido um tema pouco abordado. A lei não proíbe, a tecnologia existe, mas o acesso permanece restrito. A principal causa? «Há ainda uma relutância em falar destas coisas. É tudo uma questão de tempo», comenta Ana Teresa Santos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução.

«O progresso nessa área é imparável e, a partir do momento em que é possível e não cria problemas éticos, é difícil parar», acrescenta a especialista. De acordo com Cândido Tomás, diretor clínico do Centro de Fertilidade AVA Clinic, «as clínicas portuguesas estão equipadas para fazer este tipo de tratamento, mas fazer ou não depende sobretudo dos diretores clínicos, se são mais ou menos conservadores». Nos últimos anos, os pedidos de informação têm aumentado. «Não temos recebido questões de mulheres mais jovens, ara quem seria mais indicado este procedimento», refere, contudo.

Texto: Manuela Vasconcelos com colaboração e revisão científica de Ana Teresa Santos (presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução) e Cândido Tomás (diretor clínico do Centro de Fertilidade AVA Clinic)