O recurso à criopreservação de células estaminais para proteger a saúde de uma criança tem vindo a aumentar em Portugal. As células estaminais, células primitivas indiferenciadas que têm uma capacidade de se transformarem nos vários tipos de células adultas que compõem o nosso organismo, podem salvar vidas.
Cientes disso, muitos pais têm feito o que consideram ser um investimento para a vida, apostando nesta técnica, que deve ser adotada entre quatro a oito semanas antes da data prevista para o parto. Esse é o limite máximo em que deve adquirir o kit de recolha, de forma a poder tirar todas as dúvidas e garantir que o recebe atempadamente em caso de parto prematuro.
Passo a passo
Os pais devem ter o kit de recolha das células estaminais antes do nascimento do bebé de forma a levarem-no consigo para o hospital/clínica no dia do parto. Após o nascimento do bebé é feita a recolha das células por um profissional de saúde que compõe a equipa médica no momento do parto.
A colheita de sangue pode ocorrer antes ou depois da placenta ter sido expulsa. A agulha do saco de recolha do sangue do cordão umbilical é introduzida na veia umbilical de forma a que o sangue entre diretamente no saco. De seguida é cortada a maior fração possível de cordão umbilical e colocada no frasco estéril previamente rotulado.
Após a recolha o kit é devolvido para que fique junto da mãe. A mãe ou outro familiar deve contactar a empresa responsável pela criopreservação, indicando o local de recolha (hospital/clínica, número do piso, do quarto e da cama). A recolha é efetuada até cerca de 24 horas após o contacto por um colaborador da companhia para que o material recolhido seja criopreservado em laboratório.
Células poderosas
As células estaminais presentes no cordão umbilical, podem ser de dois tipos:
- Células estaminais hematopoiéticas
Presentes no sangue do cordão umbilical têm a capacidade de se diferenciarem em células de linhagem sanguínea (glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas.
Estas células podem ser utilizadas no tratamento de anemias, leucemias e linfomas, entre outras doenças do sangue. Podem ainda ser aplicadas no próprio e em familiares diretos.
- Células estaminais mesenquimais
Presentes no tecido do cordão umbilical apresentam um elevado potencial de multiplicação e capacidade de diferenciação em vários tipos celulares como pele, osso, músculo, cartilagem, tecido nervoso e gordura, o que as torna muito úteis na medicina regenerativa. Por serem muito imaturas imunologicamente, o risco de rejeição do transplante em familiares próximos é muito reduzido.
O especialista responde
Mário Marques, director médico da Cytothera, o primeiro laboratório a isolar e criopreservar as células estaminais, também denomidas mesenquimais, a partir do tecido do cordão umbilical, esclarece todas as dúvidas:
Porque devo criopreservar as células do meu filho?
A principal razão porque vale a pena criopreservar as células do seu filho é por questões de compatibilidade. As células não serão rejeitadas por ele e têm boas probabilidades de aplicação em familiares próximos. Por outro lado, a quantidade de células estaminais disponíveis, muito importante para o sucesso de um tratamento, é muito maior nas células isoladas a partir do sangue e do tecido do cordão umbilical.
Devo guardar as células estaminais do meu segundo filho?
Cada individuo é único e, apesar da compatibilidade entre irmãos poder ser elevada, a única forma de garantir que os seus filhos têm uma amostra 100 por cento compatível é guardar as células de cada um deles. Além disso, quanto mais amostras da mesma família estiverem guardadas, maior a probabilidade de cada uma delas poder ser usada num familiar próximo. O mesmo aconselho no caso de ter gémeos.
Conservação a frio
As células estaminais recolhidas do cordão umbilical são criopreservadas através de um processo de congelação a temperaturas criogénicas abaixo dos -150ºC. À chegada ao laboratório é retirada uma amostra de sangue para determinar a viabilidade e o número de células estaminais recolhidas. Estas são separadas das restantes células e inicia-se o processo de criopreservação com descida controlada da temperatura.
A amostra é mantida em tanque de azoto líquido durante o tempo de duração do contrato ou até ser requisitada. Quatro a seis semanas após a recolha, a empresa a quem adquiriu o kit de criopreservação entra em contacto com os pais para informar do sucesso do procedimento e dos resultados das análises efetuadas.
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