Ninguém fica indiferente a uma barriga em expansão. Olham de cima a baixo como se de um fenómeno ambulante se tratasse, querem tocar, perguntar, saber tudo, para depois contarem as suas próprias experiências de gravidez e parto.
E as grávidas, como se sentem com estas intromissões constantes?
A atenção e os mimos acabam, muitas vezes, por conquistar até as grávidas mais reservadas. Foi o que aconteceu com Suzana Bernardo, 30 anos, mãe do Martim.
«É uma sensação estranha. Assim que começa a crescer a barriga, toda a gente acha que tem permissão para fazer perguntas sobre a gravidez e para mexer na barriga», desabafa.
Foi para tentar adiar ao máximo estas interpelações constantes que Suzana preferiu esperar até completar os três meses de gravidez para anunciar a boa nova à maior parte das pessoas.
Até lá, contou apenas aos familiares mais próximos, porque já esperava o que viria a seguir:
«A partir do momento em que dizes que estás grávida, as pessoas acham que só queres falar de gravidez e cada uma tem um conselho especial. Mesmo que às vezes me apetecesse falar de outras coisas, a conversa tinha sempre de ir parar à gravidez», queixa-se.
«No princípio, acho que ainda não estava mentalizada que estava grávida porque não sentia nenhuma alteração física e custava-me mais. Parecia que estavam a invadir a minha privacidade desnecessariamente.»
Entre os cinco e os seis meses, conta Suzana, a «barriga deu um grande pulo» e a gravidez tornou-se impossível de disfarçar aos outros e impossível de esquecer a Suzana. Um verdadeiro momento de viragem. Continua
«Se ao princípio me sentia invadida, depois até me sabia bem sentir-me acarinhada por toda a gente», confessa. «Percebi que as pessoas encaram a gravidez como uma bênção e todos querem fazer parte.»
Suzana passou então a aproveitar melhor os privilégios da sua condição. «As pessoas foram sempre simpáticas comigo e, quase sempre, me deixavam passar à frente, davam--me o lugar. Lembro-me bem de uma vez que estava na fila normal do supermercado, porque achava que a barriga ainda não se notava, e a senhora da caixa prioritária começou a chamar-me lá do fundo: “A senhora grávida é favor passar à frente”», recorda com satisfação.
E avisa as futuras grávidas de que é, geralmente, nas caixas dos supermercados e mercearias que as pré-mães se tornam o maior alvo da curiosidade alheia:
«Na véspera do parto, no supermercado, a senhora da caixa fez-me o inquérito habitual: de quantos meses estava, se era rapaz ou rapariga, a data prevista para o parto… Quando eu disse que o parto iria ser no dia seguinte [o Martim nasceu de cesariana marcada por não ter dado a volta], dia 4, ela comentou que não gostava nada de dias 4».
Suzana «sabia que iria ouvir histórias boas e histórias más». O truque para sobreviver a tanta história é simples: «Tentava abstrair-me. Não ligava a nada. E procurava informação junto das pessoas que eu achava que realmente sabiam».
No escritório onde trabalha, deixou de ser a Suzana para passar a ser a grávida. «Tratavam-me por grávida e estavam sempre a apaparicar-me, a querer ajudar-me. Fizeram-me uma festa de despedida antes de ir para a maternidade. Foi muito bom», confessa, rendida aos poderes da gravidez.
Texto de Patrícia Lamúrias
Revista Pais & Filhos
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