Embora o papel dos avós dependa de múltiplos fatores como as características da família, a idade e a situação profissional do avô ou da avó ou até da proximidade física, esta é uma relação, por norma, próxima e especial, que deve ser preservada. «Alguns estudos revelam que os netos que convivem regularmente com os avós apresentam mais generosidade e autoestima, melhor rendimento académico e inteligência emocional, menores taxas de depressão e ansiedade, bem como uma melhor relação com os seus pares», refere Rita Castanheira Alves, psicóloga infanto-juvenil.

«No entanto, estes benefícios também dependem muito do tipo de relação, das características individuais e familiares, entre outros fatores», destaca a especialista. Mas esta relação não é só favorável para os netos. Maria João Quintela, médica de clínica geral e presidente da Associação Portuguesa de Psicogerontologia, afirma que «o convívio e as atividades desenvolvidas com os netos são um enorme fator protetor do risco de isolamento e depressão nos mais velhos».

No âmbito do Dia dos Avós, seis crianças contam à Prevenir o que mais gostam de fazer com os avós e as especialistas apontam os benefícios desta interação para os mais novos e para os mais velhos. Estes são os relatos dos mais pequenos e os conselhos que os especialistas apontam para valorizar as suas aptidões:

- «Fazer truques de magia», afirma João, 14 anos

Os netos beneficiam desta atividade porque «desenvolvem o raciocínio lógico, a criatividade, os conhecimentos de causa-efeito e a curiosidade, além  de treinarem a persistência. Terão de ensaiar várias vezes até conseguirem concretizar bem os truques. Ao terem de atuar para os outros, também adquirem competências sociais. Em alguns truques, poderão desenvolver a capacidade de coordenação motora e a motricidade», indica Rita Castanheira Alves, psicóloga clínica infanto-juvenil.

Os avós também beneficiam porque «proporciona momentos de alegria e diversão, além de ajudar a estimular competências cognitivas importantes como a capacidade de imaginação e a criatividade», refere Maria João Quintela, presidente da Associação Portuguesa de Psicogerontologia. Com este tipo de atividades, os avós podem ajudar os netos a desenvolver competências sociais.

Durante o espetáculo de magia, procure mostrar curiosidade e surpresa perante os truques que a criança faz.  Essa demonstração é essencial para desenvolver a sua autoestima e autoconfiança. Crie um cenário com adereços de magia, promovendo a imaginação, a fantasia e a experiência de outros papéis. Inverta os papéis com o seu neto e tente também aprender alguns truques para o ensinar.

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- «Jogar à bola», refere Luísa, 8 anos

Os netos beneficiam desta atividade porque «contribui para o desenvolvimento da coordenação motora e da motricidade grossa, além de ser uma atividade dinâmica», começa por explicar Rita Castanheira Alves. Mas o futebol tem também benefícios cognitivos. «Promove o desenvolvimento do raciocínio, a capacidade de concentração e a reação rápida, a tomada de decisão e a resolução de problemas», refere a especialista.

«Emocionalmente, ajuda a desenvolver a regulação emocional (autocontrolo e gestão da impulsividade), a capacidade de partilha e de saber estar em grupo», acrescenta. Os avós também beneficiam por ser, por norma, uma atividade ao ar livre. «É uma excelente oportunidade de sair de casa, evitando assim o isolamento, e de contactar com a natureza», indica Maria João Quintela.

Durante a atividade, «os avós trabalham a sua mobilidade e, emocionalmente, treinam a capacidade de autocontrolo e partilha», acrescenta ainda a especialista em psicogerontologia. Aproveite para incentivar o espírito de equipa, aproveitando a atividade e os passes de bola para desenvolver a relação mútua e a partilha. Esta relação é fundamental para treinar a reciprocidade emocional e social.

Por exemplo, nomeie a ação de cada um. «Agora, a Luísa passa a bola à avó... Agora, a avó passa a bola à Luísa...», defende a especialista. Festeje quando é feito um bom passe ou é golo, elogiando efusivamente a criança. Incentive-a a interagir com outros elementos da família através do jogo ou até com outras crianças.

- «Passear no parque», assegura Xavier, 10 anos

Os netos beneficiam desta atividade porque «estimula os sentidos, treinando a capacidade de observação, a curiosidade e o questionamento lógico», aponta Rita Castanheira Alves. «Fisicamente, também pode ser benéfica, uma vez que envolve uma atividade física (andar, correr ou saltar)», acrescenta ainda a especialista. Os avós também beneficiam porque «ao envolver uma atividade física, nem que seja uma caminhada, é uma forma de treinar a mobilidade e a coordenação motora», refere Maria João Quintela.

«Se forem feitos com regularidade, os passeios a pé ajudam a prevenir a osteoporose e o risco de quedas», lembra. Em suma, é uma excelente atividade para o bem-estar físico e psicológico dos mais velhos. Se a criança gosta de andar na rua, aproveite e diversifique as atividades ao ar livre.

Aproveite o caminho para propor à criança desafios físicos como saltar, andar ao pé-coxinho, correr, apanhar flores e por aí fora... Estimule os sentidos, apelando para que nomeie o que ouve, cheira, sente e vê. Aproveite a natureza para desenvolver hábitos de saber parar, estar no presente, respirar e meditar.

Faça piqueniques com a família ou campismo. Aproveite para organizar atividades que só podem ser feitas ao ar livre, como a caça ao tesouro, e envolva outros elementos da família. Visite parques onde as crianças possam também contatar com animais.

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- «Ir à quinta da avó onde há animais», confessa Diana, 12 anos

Os netos beneficiam desta atividade porque «é uma oportunidade única para a criança diversificar os seus conhecimentos, conhecendo de perto a vida no campo, nomeadamente as espécies animais que lá existem, como vivem e como crescem, conhecendo o seu ciclo da vida», refere Rita Castanheira Alves. «É também uma atividade que envolve oportunidades físicas, como andar, saltar, ser ágil e por aí fora», lembra ainda a psicóloga infanto-juvenil.

Os avós também beneficiam porque «o contacto com a natureza permite fugir ao stresse do dia a dia e aos compromissos habituais. Este poderá ser também o momento ideal para transmitir aos mais pequenos os valores de relação e respeito pela natureza e pelos animais», destaca Maria João Quintela.

Transmita-lhe o respeito pela natureza, se for o caso. Envolva a criança nos cuidados com os animais, ensinando-a como devem ser alimentados, limpos e cuidados no dia a dia. Se a criança ainda for pequena, aproveite para lhe ensinar os nomes dos diferentes animais que vai observando. Sugira que ela faça desenhos ou escreva histórias sobre cada animal que viu na quinta da avó.

- «Gelados com plasticina», desabafa Gustavo, 5 anos

Os netos beneficiam desta atividade porque «desenvolvem a sua capacidade criativa, pensamento divergente, raciocínio matemático e lógico, concentração, entre outras competências cognitivas. Enquanto expressam o que sentem e pensam através do que vão criando, as crianças poderão desenvolver também a autoestima, a autoeficácia e a regulação emocional. Fisicamente, treina a motricidade fina e a coordenação motora», refere Rita Castanheira Alves.

Os avós também beneficiam porque «enquanto treinam competências cognitivas como a destreza e a coordenação motora, esta também é uma boa oportunidade para estimular a sua capacidade criativa e viver alguns momentos de alegria», indica Maria João Quintela. Se ela gosta deste tipo de atividades, desenvolva a criatividade da criança.

Deixe-a criar livremente o que pretende, sem crítica ou sem orientar excessivamente a construção e a modelagem da plasticina. «É importante para a criança sentir-se livre e espontânea na sua expressão emocional e representação do que pensa, sente e vive», explica Rita Castanheira Alves.

Ajude-a ainda a criar histórias com o que construiu, não colocando limites para o que ela imagina e cria, deixando-a livre e aceitando as suas ideias. Aproveite a atividade para elogiá-la pela forma como cria, imagina e pelos resultados obtidos, sugere a especialista.

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- «Conversar sobre temas como religião ou atualidade», assume Carmo, 15 anos

Os netos beneficiam desta atividade porque «além de promover o raciocínio, a curiosidade, o pensamento crítico e a aquisição de conhecimentos, conversar sobre temas que exigem uma maior reflexão desenvolve a capacidade de argumentação e de atenção e escuta», lembra Rita Castanheira Alves. «Permite à criança ouvir o outro, aceitar diferentes perspetivas e experimentar várias emoções», diz.

«Estes momentos de conversa são essenciais para a construção da sua identidade, valores e características de personalidade», sublinha ainda a especialista. Os avós também beneficiam porque «abordar a espiritualidade, a religião e problemas da atualidade obriga-os a um propósito de atualização e de adequação às conversas dos netos. Favorece a relação intergeracional, as relações de confiança e de amor, e são estimulantes do ponto de vista cognitivo, relacional e afetivo», refere Maria João Quintela.

Este tipo de conversas são úteis para estimular o pensamento crítico da criança. Crie um ambiente descontraído proporcionando uma conversa aberta e livre, onde o questionamento e as diversas opiniões são bem-vindas. Questione a criança de forma curiosa para que esta possa expressar as suas opiniões.

Aproveite também as notícias dos jornais e da televisão para motivar a criança a pensar sobre a vida e o mundo que a rodeia, respondendo às suas questões, elogiando-a pelo que pensa e como se expressa, e agradecendo-lhe a partilha e a confiança.

Texto: Sofia Santos Cardoso com Maria João Quintela (médica de clínica geral e presidente da Associação Portuguesa de Psicogerontologia) e Rita Castanheira Alves (psicóloga clínica infanto-juvenil e de aconselhamento parental e autora do projeto Psicóloga dos Miúdos)