Muitas das crianças com diagnóstico de Perturbação do Espetro do Autismo apresentam dificuldades de adaptação à mudança e à transição. A expressão destas dificuldades pode variar entre queixas (recusar, discutir, atrasar) e alterações comportamentais (birras, agressões). Para estas crianças, uma ordem como “vamos embora” pode representar um duplo desafio – interromper uma tarefa que, para si, não estava acabada; e gerir a frustração que antecipa a desregulação emocional e o comportamento disruptivo.

São muitas as estratégias às quais os pais, educadores, professores e técnicos podem recorrer para facilitar os momentos de adaptação, mudança ou transição. No entanto, a escolha da estratégia mais adequada para cada tipo de situação poderá variar não só das características da criança, como do momento em que ocorre a mudança, contexto e tipo de transição, entre muitas outras variáveis aparentemente pouco percetíveis ao adulto.

Na análise da melhor estratégia a utilizar em cada situação, importa ainda considerar a interferência de dificuldades associadas a outros diagnósticos que possam estar presentes, como a Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção, a Perturbação Obsessivo-Compulsiva, Perturbação de Ansiedade ou ainda as alterações do processamento sensorial.

8 estratégias que podem ser implementadas nos momentos de mudança ou transição:

  1. Criar rotinas: aceitar o diagnóstico de uma perturbação do espetro do autismo implica compreender a possibilidade da presença de rituais, rotinas, padrões de funcionamento e de comportamento, altamente valorizados pela criança. A tendência para valorizarem as rotinas poderá ser eficazmente utilizada para introduzir estrutura e previsibilidade no dia-a-dia da criança, evitando alterações inesperadas; 
  2. Pistas visuais: muitas crianças com este diagnóstico são especialmente atentas aos detalhes e à informação visual. Utilizar esquemas, quadros e outros tipos de pistas visuais poderão fornecer informação visual concreta que permitam à criança antecipar a mudança de tarefa, aceitando-a mais tranquilamente; 
  3. Aviso e contagem regressiva: informação visual ou auditiva pode ser dada para ajudar, por exemplo, a criança a transitar de tarefa em tarefa pela manhã até ao momento em que sai de casa. Explicar que o tempo de uma tarefa está a acabar e que de seguida será necessário passar para uma outra, inclui o caracter de previsibilidade valorizado pela criança com autismo; 
  4. Música: as músicas podem ser utilizadas como forma de monitorizar o tempo entre tarefas. Explicar à criança que no final de uma música será necessário transitar entre tarefas ou ações permitir-lhe-á percecionar a passagem do tempo, facilitando a adesão à nova situação; 
  5. Antecipar estímulos sensoriais: Na base de algumas recusas poderá estar a antecipação ou a confrontação com ambientes ou estímulos sensoriais indesejados pela criança. Neste sentido, o adulto poderá tentar identificar atempadamente quais os estímulos que poderão ser desagradáveis à criança, ajudando-a não só a preparar-se para a exposição, como também a manter-se calma caso a exposição seja inevitável; 
  6. Captar a atenção da criança: um aspeto essencial no uso destas estratégias consiste em captar o mais possível a atenção da criança, de forma a assegurar que as pistas visuais ou verbais foram transmitidas. Descurar deste aspeto poderá significar que a informação não foi recebida e, como tal, a transição não foi antecipada; 
  7. Recompensas: escolher uma música no caminho da escola, somar pontos para um objetivo maior, ou até mesmo escolher o brinquedo que deseja levar consigo, poderão ser recompensas eficazes no reforço de comportamentos ajustados;
  8. Elogio: fazer elogios adaptados ao nível cognitivo da criança será sempre uma boa forma de recompensar o esforço despendido.

Ajudar a criança com autismo nas dificuldades de adaptação e de mudança pode representar a diferença entre a aceitação e a birra, a colaboração e a recusa, a socialização e o isolamento, a aprendizagem e o insucesso.

Mudar pode parecer bom, mas nem sempre se revela fácil.

Tiago Ribeiro – Psicólogo Clínico