A Associação Portuguesa de Mulheres Juristas (APMJ) emitiu na segunda-feira um comunicado a propósito das expressões utilizadas pela juíza Joana Ferrer Antunes no decorrer do julgamento em que Manuel Maria Carrilho é acusado de violência doméstica contra Bárbara Guimarães.

Uma das expressões que "preocupa" a associação é esta: "Censuro-a!", disse a juíza dirigindo-se à apresentadora de televisão.

"Dando por assente que as descrições do ocorrido nessa sessão de audiência de julgamento" correspondem "ao teor das expressões utilizadas", a APMJ "não quer deixar de expressar publicamente a sua preocupação pelo que estas revelam sobre a persistência de pré-juízos desconformes com o legalmente estipulado sobre o modo de agir com vítimas de violência doméstica", lê-se na nota da associação.

Joana Ferrer Antunes terá criticado a apresentadora por nunca ter apresentado queixa por violência doméstica, tratando-a sempre pelo primeiro nome, "Bárbara", enquanto o arguido era tratado por "senhor professor".

Joana Ferrer Antunes disse ainda: "Causa-me alguma impressão a atitude de algumas mulheres, [vítimas de violência, algumas das quais] acabam mortas".

"A senhora procuradora diz que [a vítima] não tem de se sentir censurada. Pois eu censuro-a!", rematou.

Bárbara Guimarães explicou "se fosse hoje, faria tudo ao contrário do que fiz na altura e à primeira agressão teria imediatamente feito queixa".

Na sua página da rede social Linkedin, Joana Ferrer Antunes assume que a sua "frontalidade (…) chocará alguns".

"Sou como me mostro, de uma frontalidade que, admito, chocará alguns. Mas sem zonas de sombra. É assim que sou: como Pessoa e como Juiz. Quem me conhece, sabe-o. Também eu, à minha pequena e humilde escala, não vim trazer Paz, mas a Espada. Acima de tudo, contra a soberba, o abuso, a ignorância e o preconceito que existem até onde seria suposto não existirem. Eu sirvo o Cidadão", diz a juíza, que em tribunal lembrou ter experiência em casos de violência doméstica.