Em conversa com Cristina Ferreira, o ator começou por destacar que este foi “um período em que os amigos e a família foram o mais importante para lhe devolver a vida”.

“Tive dois meses no hospital em que não tive bem noção das repercussões que o meu caso teve cá fora, agora começo a ter essa real noção e tem acontecido uma coisa interessante que é a necessidade das pessoas mais próximas de mim que quando me veem – que já não me veem há tanto tempo depois deste episódio traumatizante – de quererem explicar tudo o que eu lhes fiz sentir. Ou seja, quando receberam a notícia, quando foram acompanhando todo o meu processo, e eu entendo isso como enternecedor. É uma forma de me fazer ver o que é que eu lhes fiz sentir. Tem havido uma onda de amor generalizado que eu não estava habituado e que ainda não sei bem lidar com isso”, recordou inicialmente.

Apesar de acreditar que as pessoas gostem dele, senta que “verbalizamos pouco que amamos as pessoas que gostamos”. “Acho que pela primeira vez na vida estou a ter esse contacto grande, um confronto com esse amor”, realçou.

Cristina salientou o facto de Ângelo ter estado em risco de vida, momento em que o ator explicou o que começou a sentir na altura em que foi ao hospital.

“Comecei a sentir que o meu corpo me estava a falhar, ou seja, sempre fui aquele tipo de pessoa que quase nunca fica doente, e mesmo quando fico doente – uma vez por ano ou de dois em dois anos – pergunto a um amigo o que é que tenho de tomar ou vou à farmácia. Tenho um bocado de pânico [de ir ao médico], não gosto. Uma vez que somos figuras públicas das histórias que possam espalhar ou dizerem outras coisas… Prezo muito a minha intimidade e é assim que gosto de viver a minha vida. Ao mesmo tempo, nesse momento estava com uma carga de trabalho enorme e um stress profissional bastante grande e comecei a sentir febre, já estava com princípio de uma anemia… Tinha quebras de força, estava um bocado em baixo”, relatou.

Sintomas que não partilhou com ninguém porque “acha sempre que consegue valer-se a si próprio”. “A minha experiência na vida acho que é um bocado solitário, mas no bom sentido, não é no sentido melancólico. Sempre contei comigo e achamos que conseguimos dar a volta e passar todos os contratempos. E, de facto, aí estava a fazer outro programa em que eu já não estava bem fisicamente, já sentia febre, vómitos, e via que alguma coisa não estava bem”.

Na altura achava que “era uma gripe que não estava a passar”, e até chegou a tomar antibióticos. Passou uma semana até ir ao hospital pela primeira vez e nesses dias, apesar de não se sentir bem, acreditar poderia ser por causa de os antibióticos não estarem a fazer efeito. “Passei o período de uma semana, que foi o período mais crítico, quando o meu quadro clínico estava assombroso, e foi nessa altura que eu já deveria ter ido ao hospital e não fui”, confessou.

E só foi ao Hospital Garcia de Orta, onde esteve internado depois durante dois meses, “quando foi obrigado”.

“Estava a fazer esse programa e a produção disse-me se eu era capaz de fazer o programa, já não me sentia capaz, mas eu não consigo falhar profissionalmente com ninguém, ainda por cima trabalhando em televisão que são muitas pessoas, os produtos não são feitos sozinhos, há sempre uma equipa por trás. Sempre achei que conseguia fazer o programa até ao fim e foi isso que eu assumi. Eles aceitaram com a condição de no final do programa eu ir ao hospital. Foi isso que aconteceu, fui de urgência para o hospital e viram que o meu quadro clínico estava péssimo e mandaram-me para casa com a minha autorização”, admitiu

O ator preferiu ir para casa porque no dia a seguir iria ter outro programa e não queria faltar com a sua palavra, mesmo depois do médico lhe ter dito que quadro clínico era complicado. Ângelo acreditava que iria conseguir dar a volta.

Recorde-se que além das gravações da série ‘Golpe de Sorte’, Ângelo gravou ainda ao lado de Iva Domingues os primeiro programa de ‘Virar o Jogo’, do canal 11, onde a sua função era de Dj.

“Estava mesmo a terminar esse trabalho e depois teria umas férias para mim, portanto, iria ter tempo para recuperar e me recompor. E foi isso, foram quatro meses muito intensos que eu vivi. Vinha do ‘Golpe de Sorte’ e estávamos ali na fase final das gravações a filmar seis vezes por semana, e o corpo colapsou. Por mais que tu possas transpirar saúde, sou a prova viva de que a vida pode ser um sopro e, de repente, já não estamos cá”, explicou.

Quando ficou depois internado em estado crítico, nessa altura, “não tinha a real noção do que estava para vir”. “Nunca na minha vida imaginava que ia ficar em coma. Tanto que quando acordei do coma eu via toda a gente triste à minha volta, mesmo o corpo médico e mais a minha família e amigos, e eu tentava perceber o que é que tinha acontecido e porque é que eles estavam com aquela cara”, desabafou.

Ângelo esteve em coma induzido durante 4 dias. “Explicaram-me que eu tinha estado em coma e eu pensava que estavam a brincar comigo. E depois explicaram-me que eu tive uma septicemia, uma falência dos meus órgãos vitais que fez com que eu ficasse numa cama durante dois meses. Foi muito difícil eu encaixar isso como verdade, uma coisa que aconteceu”, contou.

E quando acordou do coma não tinha real noção de tudo o que lhe estava acontecer. “O que acontece nesta situações de quase morte, nestas situações traumáticas é que o cérebro entra em mecanismo de defesa e de sobrevivência. Não me lembro de absolutamente nada desses quatro dias em que estive em coma e dos três dias anteriores. Ou seja, há uma semana da minha vida que foi apagada da minha memória. Tenho uma amnésia temporária”, explicou, referindo que é agora através dos depoimentos das pessoas que o acompanharam e ajudaram que está a conseguir construir o seu puzzle e perceber tudo o que aconteceu consigo.

“Tenho muita dificuldade em se sentir o que se sentiu cá fora. Eu estou [ainda a descobrir tudo o que aconteceu], estou anestesiado. Tenho percebido desde que saí que foi muito forte o impacto cá fora”, continuou.

Fora do hospital as notícias que chegavam era que Ângelo poderia ter que amputar a perna esquerda e que estava com várias mazelas. “Felizmente isso é uma coisa que tenho muito a agradecer ao corpo médico e família porque foi uma coisa em consonância, procuraram proteger-me bastante no início e agora percebo porquê, por causa desta cobertura toda mediática”, disse.

Soube de tudo o que aconteceu através dos amigos mais próximos e dos familiares, mãe, irmão e irmã. “Eu não queria acreditar porque, de facto, estive bem próximo de não estar aqui a falar contigo”, afirmou.

“Sabia que alguma coisa tinha acontecido com a minha perna, não quis ver. Estive dois meses sem olhar para a minha perna. Só no último dia é que tirei as ligaduras e vi as marcas que este acidente trouxe ao eu corpo”, partilhou.

“Isto é tudo um processo de cura e neste processo é bom estar rodeado de pessoas que transmitam energia certa. O que é certo é que a positividade tem um enorme peso. Há uma poderosa ligação entre a mente humana e a saúde física. Todo este cuidado que houve em não me dizerem o que é que aconteceu momentaneamente, durante o tempo em que estive lá, ajudou-me bastante. Fiquei focado naquilo que realmente interessava que era só a minha sobrevivência, a minha recuperação”, continuou.

Apesar de tudo, o ator nunca perdeu a força e o positivismo. “Não houve um segundo que achasse que não ia conseguir ou que não ia recuperar a 100%. E essa força indestrutível que eu encontrei algures dentro de mim foi isso que me alimentou. Era uma característica que eu não conhecia ainda”, destacou.

Em dois meses fez várias cirurgias, mais precisamente cinco, sem contar com as duas cirurgias de reconstrução da perna esquerda. A primeira intervenção de reconstrução foi a primeira vez que foi operado consciente, “todas as outras operações foram durante o coma para garantir a sua subserviência”. Fez um total de sete operações.

A dada altura durante a entrevista, o ator foi surpreendido por uma grande amigo, Pedro Chaves Costa, que o acompanhou de perto toda esta fase, apoiou a sua família e ia, inclusive, todos os dias ao hospital

Pedro, por sua vez, recordou que as primeiras informações sobre o estado clínico de Ângelo que recebeu foi por parte de uma enfermeira que o preparou para o pior, dizendo-lhe que o amigo estava em risco de vida.

[Notícia em atualização]