Anselmo Ralph, um dos cantores angolanos de maior sucesso da actualidade, autor de êxitos como «A única mulher» e «Não me toca», sofre de miastenia grave, uma patologia que o obriga a cuidados permanentes. «Guardo as primeiras memórias da minha doença aos oito anos», confessa em entrevista à revista Prevenir. Na altura, vivia em Madrid. «Aos 17 anos, já em Nova Iorque, comecei a ser acompanhado com mais regularidade por um médico. Aí compreendi o que significava ter miastenia grave», confidencia.

Este problema muscular atinge, sobretudo adultos, acima dos 35 anos. Provoca paralisia gradual dos músculos e fadiga extrema, entre outras limitações. «Ainda que possa afetar outros órgãos, apenas me tem condicionado em termos oculares. Consigo fazer desporto, mas quem é afetado de forma mais grave fica bastante condicionado e, por exemplo, subir degraus pode cansar como quem corre uma maratona», relata o cantor.

Não é o seu caso. «Ainda assim, tento descansar o máximo possível e evito sair à noite, pois tenho muita dificuldade em recuperar de uma noite mal dormida. Esse meu espírito reservado, mais tranquilo, ajuda-me a encarar e a lidar melhor com a doença. Quando faço mais concertos, sinto um grande desgaste e demoro mais a recuperar», acrescenta ainda.

Para manter a mente sã, todos os dias lê a «Bíblia». «Faço sempre uma oração e tento focar-me no bem, nas coisas positivas. Evito guardar rancores. Sou uma pessoa de paz, sempre. E, em termos físicos, vou ao ginásio sempre que posso. Ao longo da minha vida, a música foi sempre um consolo, um ombro amigo e, mais do que superar a doença, ajudou-me a aceitá-la.  Aprendi que tenho de fazer mais por mim e isso tornou-me mais forte, determinado», desabafa.

Vontade de vencer

O sistema imunitário das pessoas que sofrem de miastenia grave, uma patologia autoimune, produz auto-anticorpos que bloqueiam os recetores musculares de acetilcolina, incapacitando os músculos de responder de forma adequada às ordens do sistema nervoso. «Se fores correr com atletas que têm duas pernas e só tiveres uma, tens de dar o triplo de ti. É esse o lado positivo da doença, a par de me sentir também mais humano», assume Anselmo Ralph.

«Ter conseguido alcançar o sucesso, tendo esta doença, ajuda-me a manter os pés no chão», confidencia ainda. «Expor as fraquezas torna-nos humildes, mortais, dá-nos a noção clara das nossas raízes. O segredo para ser feliz é amar o próximo. Estou a adorar e a aproveitar ao máximo o meu sucesso, o fruto do meu trabalho. E agarro com todas as forças  o carinho e o calor das pessoas para retribuir esse sentimento», assegura o intérprete.

Numa das passagens do filme que chegou aos cinemas na reta final de 2015, «Vontade de Vencer», sobre os bastidores da sua carreira e vida familiar, Anselmo Ralph afirma «nunca farei aquilo que não sinto». À Prevenir explicou porquê. «Tudo o que faço, faço-o de coração, mesmo que tome uma má decisão», afiança.

«Normalmente, quando sigo um caminho errado é porque fui levado pela mágoa. Ainda que essa frase estivesse relacionada com a minha vida profissional, tanto no palco como na vida, sou sempre aquilo que sinto e não o que as pessoas querem que eu seja. Tudo aquilo que transmito está dentro de mim, é genuíno. Não consigo ser um outro Anselmo», confessa, sem rodeios.

Texto: Carlos Eugénio Augusto