Depois de a cantora Irma ter tornado público um comunicado onde esclareceu todos os pontos que considerou necessários sobre a polémica referente ao tema 'Filha da Tuga', foi a vez de Agir reagir às duras críticas que a canção tem sido alvo.

Enquanto elemento ativo na produção do tema e do EP lançado por Irma com o nome 'Filha da Tuga', Agir deu a cara e veio a público admitir as falhas que geraram discórdia.

"Antes de tudo, quero salientar que nunca saberei o que é estar na pele de uma pessoa racializada e que tenho muito mais a ouvir e a aprender do que a opinar", começou por referir.

Bernardo Correia Ribeiro de Carvalho Costa, verdadeiro nome de Agir, pediu reflexão e calma, mas realçou ter noção de que é fácil para si "falar de calma" uma vez que não sofreu "anos e anos sem fim a injustiça que muitos sofreram e ainda sofrem".

A criação do tema 'Filha da Tuga'

Agir confirma que a letra da canção "resultou de uma conversa entre a Irma e a Carolina Deslandes, onde a Carolina ajudou a rimar frases que a Irma disse".

"Concluir que a Irma pediu a uma pessoa branca para escrever por ela o que dizer sobre a sua realidade ou a realidade de toda a comunidade não é rigoroso. Porém, mesmo que tenha sido só uma ajuda, podia ela ter antes pedido ajuda a uma pessoa negra para o fazer? Sim, e tenho a certeza que é o que acontecerá daqui para a frente", assumiu, concordando com algumas das críticas apontadas nas redes sociais.

O nome e a letra que gerou controvérsia

Agir propôs-se a, "com humildade", "esmiuçar" a letra de 'Filha da Tuga' "nos pontos que têm gerado mais controvérsia".

Atendendo à história que dá origem ao nome "tuga", o músico assume que este pode ter ofendido e magoado várias pessoas. "Sabendo que muita gente não usa a palavra com intenção de hostilizar alguém, é compreensível que pessoas negras, que nem há 50 anos estavam a viver esta realidade, se sintam ofendidas e magoadas com a palavra", notou.

"Sou branca para os pretos, para os brancos sou preta", esta foi, talvez, a frase que mais discórdia criou entre os críticos e que foi agora 'esmiuçada':

"Sem comparar o que uma pessoa racializada, de pele mais escura, sofre, porque não é comparável, e partindo, conscientemente, de um lugar de privilégio em relação aos mesmos, existem, ainda assim pessoas de pele mais clara, mestiças, que se sentem numa ‘terra de ninguém’ por não serem vistos nem como brancos, nem como negros", justificou, realçando que "a cantora não pretende dizer que sofreu o mesmo e é igual a pessoas de pele mais escura".

"Sou a mistura da terra e da descoberta", esta frase cantada por Irma levou a crer que a letra se referia aos descobrimentos. A artista explicou anteriormente que em nada a palavra descoberta se relaciona com o acontecimento histórico.

Agir corroborou a versão da amiga, mas assumiu que poderia ter sido usada outra palavra em substituição. "Há duas gerações, muitos foram os que abandonaram a sua terra natal à procura de uma vida melhor. É desta procura, dessa descoberta, que a música fala. Podia a escolha da palavra ‘descoberta’ ser mais feliz? Olhando agora com distanciamento, sou pessoa para concordar. De todo que se queira romantizar os ‘descobrimentos’ e o uso de outra palavra talvez deixasse menos margem para dúvidas", disse.

As tranças de Rita Pereira e a acusação de apropriação cultural

A polémica relacionada ao tema 'Filha da Tuga' ganhou força depois de Rita Pereira ter tornado público um vídeo no qual surge a dançar o single com tranças de origem africana no cabelo. A atriz foi acusada de apropriação cultural nas redes sociais e o tema deu muito que falar.

Tendo em conta a ligação entre os temas, Agir resolveu posicionar-se sobre o debate:

"Quando uma pessoa branca faz tranças fá-lo por uma questão meramente estética, por achar giro. Visto assim, à partida, seria legítimo fazê-lo. O problema é que quando uma pessoa racializada o faz, vê, quase sempre, as suas oportunidades diminuídas (mais do que já costuma ser), normalmente nos locais de trabalho. Ter tranças numa pessoa racializada é, na maioria das vezes, sinônimo de perder o emprego ou de nem o chegar a arranjar. Podem, então, pessoas brancas usar tranças? Na verdade, ninguém as proíbe, mas um pouco de consciência e contextualização não faz mal a ninguém".

Por fim, Agir terminou a partilha com um pedido de desculpas público. "Da parte que me toca, peço publicamente desculpas. Se ofendi alguém, não foi, de todo, a minha intenção. Seguimos juntos", escreveu.

Clique para o lado na partilha abaixo para ler na íntegra o comunicado de Agir:

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