Mais do que uma entrevista, a conversa que tivemos com Diana Duarte foi uma verdadeira tertúlia. Não surpreende. A apresentadora do programa 'Nunca é Tarde', que se estreou na passada semana na RTP1, tem o dom da fala sendo, por isso, uma das grandes promessas a nível da apresentação em Portugal.

De sorriso fácil, a comunicadora tornou-se conhecida na SIC, onde trabalhou como produtora, anfitriã do 'SIC Prime' e iniciou uma nova tendência no jornalismo: 'noticiários' no Instagram. Passou ainda pela 'Prova Oral', ao lado de Fernando Alvim, desafio que a ajudou a superar a timidez.

Para além do 'Nunca É Tarde', Diana está também à frente do programa de entrevistas 'A Minha Geração', da RTP3.

Nascida em Coimbra, tendo crescido em Leiria, começou a estudar Direito, mas decidiu mudar para Jornalismo, o seu primeiro amor. Daqui até descobrir o 'infotainment', entretenimento 'culto e adulto', como gosta de dizer, foi um passo.

'Nunca é Tarde' é o seu novo programa na RTP1. Para quem não viu a estreia, em que é que consiste?

É um programa que reúne várias pessoas à volta de um tema todas as semanas, tanto com caras conhecidas do público, como com desconhecidas. São temas intemporais e que dizem respeito a todos. A conversa alarga-se também ao público em estúdio que intervém através de uma aplicação. Há sondagens e também podem deixar perguntas.

Queríamos que o público em casa também participasse da conversa e, por isso, vamos usar ferramentas interativas do Instagram para que possa votar e participar do assunto.

Quais os assuntos que serão debatidos?

Vamos falar sobre muitos, por exemplo, o amor, que já daria para vários programas. Monogamia e não monogamia, o poliamor, falaremos um pouco sobre relacionamentos, para onde é que estão a evoluir. Falaremos também sobre sentimentos universais como a inveja, que é o meu tema preferido...

A inveja vem de uma admiração escondida e acho que mais vale agarrar essa admiração e expô-la, do que alimentar coisas negativas que só nos vão frustrar mais. Porquê?

Porque é uma coisa muito humana e que atrapalha imenso as pessoas. Não é uma força construtiva, as pessoas sofrem muito com ela e não percebem muitas vezes que ao alimentá-la só estão a prejudicar-se a si mesmas e à sua evolução. A inveja vem de uma admiração escondida e acho que mais vale agarrar essa admiração e expô-la, do que alimentar coisas negativas que só nos vão frustrar mais.

Para além da inveja e de relacionamentos, que outros temas serão abordados?

Falaremos também sobre esta vida rápida que andamos a ter e sobre a espiritualidade, porque no meio dos números elevados de 'burnout' [exaustão física e psicológica], há muitas pessoas a procurar uma resposta para serenar.

Mas vai continuar com o programa na RTP3 'A Minha Geração'?

Quando aceitei este programa a única condição que coloquei era que 'A Minha Geração' não caísse.

E como estão a correr as gravações?

O programa é feito no Porto, no centro de Produção Norte, e estou a adorar. As pessoas do norte são muito mais calorosas, sentes-te mesmo acolhida, abraçada e bem-disposta. Ires para um local de trabalho em que toda a gente está a torcer por ti é uma das coisas que me está a surpreender, por causa da tal inveja e dos egos.

Divido camarim com o Jorge Gabriel e vejo uma generosidade extraordinária. A Sónia Araújo foi ao piloto do programa e foi super querida, simpática e disponível.

Mas tem sentido essa inveja?

Para já não, pelo contrário. Divido camarim com o Jorge Gabriel e vejo uma generosidade extraordinária. A Sónia Araújo foi ao piloto do programa e foi super querida, simpática e disponível. Para mim foi super positivo, sentires que és uma novata no meio destes tubarões e que as pessoas te acolhem sem preconceitos ou tabus.

O programa passa às sextas-feiras à noite. Isso traz uma pressão ou nervosismo extra?

Estou muito expectante em relação a este horário. Sexta-feira à noite no verão. A minha dúvida é: as pessoas estão em casa? Queremos falar para aquelas que não vão sair (ou podem sair mais tarde), mas que ao mesmo tempo possam ter uma conversa mais informal, das poderiam ter com amigos, o programa tem esse objetivo de fazer companhia. Quem está no sofá faz mesmo parte da conversa, a concordar ou a discordar.

No outro dia disseram-me que estava a fazer concorrência com o 'Expresso da Meia Noite', na SIC Notícias, mas na verdade acho que estou a competir com tudo, até com a Netflix, até porque as coisas estão muito dispersas.

Acho que sinto mais pressão por ser um formato da RTP1, por ter esse selo já me dá mais essa responsabilidade. Estamos a tentar chegar aos mais novos que não veem televisão porque me dizem que a televisão não fala para eles.

Como é que se sente nas gravações?

Sinto-me obviamente nervosa, mas também sempre a perguntar se vou dar conta do recado. O corpo não tem estado a tremer, mas há um medo de falhar. Sou muito exigente comigo mesma e podia ser menos. Isso acontece porque tu preparas as coisas, que podem mudar e vacilas um pouco. 'Será que disse isto bem?', 'será que estou a dar atenção a todas as pessoas como devo dar?', 'será que estou a tratar alguém de uma forma menos própria?'. Há muita gente naquele estúdio e somos todos seres humanos com pressa e urgências diferentes. Já me aconteceu acordar a meio da noite a pensar num erro, mas faz parte, é uma coisa nova para mim. Há sempre o medo de as coisas não estarem bem feitas.

Sente-se preparada para o lado da exposição pública?

Tem-me acontecido a malta mais jovem pedir-me fotos e dizer que gosta muito do meu trabalho. Até agora essa experiência tem sido super enriquecedora porque as pessoas falam de programas em concreto e esse é um diálogo que me interessa, porque é para isso que as pessoas em comunicação trabalham.

Se entrevistar alguém de esquerda sou uma 'esquerdalha', quando entrevisto alguém de direita sou claramente fascista.A Diana tem uma presença forte nas redes sociais. Tem muitos 'haters'?

Não tenho muitos 'haters', mas já recebi mensagens desagradáveis. Normalmente acontece quando um entrevistado tem alguma ligação partidária ou política ou uma ideologia mais fechada n'A Minha Geração'. Se entrevistar alguém de esquerda sou uma 'esquerdalha', quando entrevisto alguém de direita sou claramente fascista. O 'hate' [ódio] vem sempre da política. É impossível agradar a todos e vai haver sempre quem não vai gostar.

Nessa semana ainda me convidaram para fazer o 'Curto Circuito', mas eu preferi o 'SIC Notícias Prime', porque pensava que o jornalismo era o que queria fazer, era viciada em notícias. Há muita gente que não a conhece. Afinal, como é que veio parar à televisão?

Tudo começou com um formato 'Tira a Sandália' [diz o nome a cantarolar], que era um programa de rádio que eu fazia com 4, 5, 6 anos no intercomunicador de casa. Os ouvintes eram pessoas que passavam na rua. Fazia jornais a caneta, agrafava e ia vender na rua. Lia os rodapés das notícias tipo pivô, por aí...

Estive em Direito e no segundo ano mudei para Jornalismo na ESCS [Escola Superior de Comunicação Social]. Aprendi a escrever notícias e percebi que não era isso que queria fazer, porque gostava de dar asas à imaginação e poder escrever livremente.

Entretanto fui a uma entrevista para estagiar no 'Correio da Manhã', para ir para o jornal, mas disseram-me que eu tinha perfil para o 'Flash Vidas', que era uma espécie de 'Fama Show', mas mais 'cor de rosa'.

No mestrado [em Jornalismo] comecei a fazer coisas para o programa [da ESCS] 'E2', fiz coisas para o Canal V da Cabo Visão, quando estava na SIC também estava no Económico TV, onde apresentava já um programa em direto.

Na SIC produzia o programa 'Opinião Pública': atendia as chamadas, punha as pessoas em linha, depois entretanto a direção mudou e o Ricardo Costa convidou-me para fazer o 'SIC Notícias Prime'. Nessa semana ainda me convidaram para fazer o 'Curto Circuito', mas eu preferi o 'SIC Notícias Prime', porque pensava que o jornalismo era o que queria fazer, era viciada em notícias.

O entretenimento estava fora de questão nessa altura?

O entretenimento era uma coisa em que não pensava, não tinha a autoconfiança necessária. Quando me convidaram para o 'Curto Circuito' fiquei logo em pânico porque não conseguia dançar o 'Créu', porque estava em todo lado, e eu pensava: 'como é que vou fazer isto?'. Mesmo no 'SIC Notícias Prime' ficava cheia de vergonha com os colegas de redação a olharem para mim.

É engraçado falar de confiança porque quem olha para a Diana não vê isso.

Quando percebi depois da CMTV que queria fazer disto profissão, pensei: 'Diana, vais ter de perder o medo de falar com pessoas' - eu tinha - 'vais ter de perder o medo de falar em público' - eu tinha - e trabalhar.

Tinha medo que a minha confiança nessa altura passasse por presunção. Sentia uma pressão enorme, se não arranjasse emprego os meus pais iam continuar a sustentar-me e eu não queria. A minha pressa era essa, vinha daí toda a minha urgência, não era autoconfiança.

Mesmo na disciplina de Português, no secundário, quando tínhamos de apresentar livros, eu morria de medo, tinha de dar chapadas no peito. Tinha medo, foi uma coisa que fui descontruindo. A 'Prova Oral', com o Fernando Alvim, também foi muito importante para perder a vergonha de falar com pessoas, é uma escola de liberdade para fazer perguntas.

Então o que fez durante essa fase para ganhar dinheiro e ultrapassar esse medo?

Cheguei a fazer inquéritos em farmácias sobre a vitamina C, vendi produtos para o cabelo, basicamente tudo que me permitisse falar com pessoas que não conhecesse para trabalhar a timidez. Trabalhei ainda como hospedeira. Sou extrovertida, mas era tímida, era um sinal de problemas de autoestima. Depois quando cheguei à SIC, senti o tal choque.

Uma amiga ouviu a malta da edição da manhã a dizer 'que vergonha, a escolher esta miúda para o 'SIC Notícias Prime', não tem talento, há aqui pessoas há 10 anos e ela passa à frente'. Quando me contaram isso desatei a chorar durante imenso tempo, mesmo triste.Choque porquê?

Já aqui disse que a inveja foi o meu tema preferido do programa. Uma amiga ouviu a malta da edição da manhã a dizer 'que vergonha, a escolher esta miúda para o 'SIC Notícias Prime', não tem talento, há aqui pessoas há 10 anos e ela passa à frente'. Quando me contaram isso desatei a chorar durante imenso tempo, mesmo triste. Hoje em dia não me ia afetar, mas fiquei triste porque as pessoas no dia a seguir são simpáticas. Às vezes não é por mal, falam de mim, mas também depois falam de outros.

Também me custou estar a trabalhar em redes sociais, porque não havia nada do género em Portugal. Lembro-me de pedir a alguns repórteres de imagem para gravarem com o telemóvel e recusavam e isso custou-me imenso, porque pensava que os jornalistas tinham uma mente mais aberta. Na altura havia muita desconfiança com as redes sociais, porque pensava-se que iam matar a televisão.

Mas foi uma experiência incrível, adoro o ambiente de redação porque gostava de estar o mais informada possível e lá isso é fácil. Criei um vício pela atualidade que hoje não tenho tanto. Na pandemia percebi que o excesso de informação não é assim tão positivo.

Nesse processo o desejo pelo jornalismo ficou para trás?

Toda a gente na SIC pensava 'esta pita quer ser pivô'. Eu acho que faria bem esse trabalho, mas via os meus colegas pivô e não achava a vida deles interessante, era sempre igual.

Já no mestrado a minha professora de televisão dizia 'sorris muito, isto é informação, não podes sorrir' e agora é 'sorri mais, estás muito séria'. Já me sinto há muito tempo no meio. Há certo tipo de entretenimento que não me imagino a fazer. O jornalismo às vezes é muito cinzento para o que quero fazer e o entretenimento muito estridente para o que sou. Estou num limbo de 'infotainment' e em Portugal não existe muito isso.

Gosto de um entretenimento que te sintas entretido, mas depois há alguma coisa, uma semente, que ficou dentro ti. Identifico-me com esse entretenimento que é 'culto e adulto', como a RTP2 [ri-se].

A Diana tem uma enorme paixão pelo Brasil. Gostava de um dia ir para lá?

Gostava muito. É uma cultura com a qual me identifico muito, fui parcialmente educada por brasileiros, porque passava muitos horas à noite a ver televisão. E o que é que eu via? A SIC e as novelas da Globo. No outro dia fiz as contas e percebi que vi tudo isso entre dos cinco e os 11 anos, uma idade em que te estás a formar. Sempre fui romântica e provavelmente veio daí, sou uma pessoa sensível, vulnerável e que chora com facilidade. Hoje finalmente conheço quatro estados brasileiros e o meu objetivo é conhecê-los todos.

Se a chamassem para ir trabalhar para o Rio de Janeiro agora aceitava?

Agora não, porque tenho o 'Nunca é Tarde'. Eu penso, se isto não correr bem eu não vou chorar e vou para o Brasil [diz, entre risos]. Gostava também de entrevistar mais pessoas brasileiras, acho que Portugal e Brasil têm muitas questões para resolver e isso só se consegue através do diálogo. Há traumas e é bom falar sobre eles. O objetivo de ir para o Brasil é para aumentar o diálogo, tudo o que eu faço é para aumentar o diálogo entre as pessoas.

No programa 'A Minha Geração' dá destaque a vários assuntos que afetam, lá está, a sua geração. De todos eles, qual considera o mais urgente?

A habitação, sem dúvida nenhuma.

Essa é uma causa para a qual chamou a atenção dando até o seu próprio exemplo.

Esfalfo-me em montes de trabalhos que é para conseguir juntar algum [dinheiro]. Em Portugal é muito difícil criares poupança, se eu só trabalhasse na RTP eu não conseguia, lamento. Se eu tivesse só este emprego não conseguiria sequer pagar a renda da casa, que todos os anos aumenta e nem nos perguntam se podemos pagar mais. A única forma que tenho de fazer frente é arranjar mais trabalhos, dizer sim a quase tudo. É o que esta geração está um pouco a fazer, hoje não temos tempo.

No meu caso sou freelancer, não tenho contrato com nada. Em alguns momentos é bom, em outros nem tanto, porque não tens subsídios, se eu quiser ter um bebé e parar, deixo de receber.

Em muitos momentos sinto-me escrava de mim própria, porque faço os meus horários e tenho de decidir se tenho energia para aquilo. Gostava muito de ter bebés e não consigo, preciso de comprar uma casa, queria ter um espaço para os receber.

E no meio desses trabalhos todos, não há o risco de entrar em 'burnout'?

Sim, é um risco que eu corro. É uma correria que com a exigência leva a um cansaço. Sinto que a criatividade é afetada por falta de momentos de ócio. O tédio é amigo da criatividade, não teres nada na cabeça leva a novas ideias. O tédio, o vazio, o nada são muito importantes para quem quer trabalhar na área da criatividade, que é onde quero estar. Olho para o lado e vejo muita gente em 'burnout', assoberbada com tudo o que tem para fazer, com medo de não conseguir estar à altura e de não fazer frente às despesas.

Depois de tudo aquilo por que passou, o que é que diria à Diana da altura em que estava na SIC e que chorou quando soube que falaram mal dela?

Começa a meditar, a fazer mais exercício físico, a descomplicar, a não ligar ao que as pessoas dizem porque gostam simplesmente de falar e nem é por mal, é só para preencher os silêncios. Foca-te mais naqueles de quem gostas, no teu núcleo mais íntimo, lê e continua com uma postura de curiosidade e de inocência em relação aos outros.

Como é que apresentaria a Diana?

Distraída, stressada, nervosa, sorridente, frenética, entusiasmada, tagarela, um bocadinho mais confiante e com vontade de continuar a aumentar o diálogo intergeracional.

É fácil ser amigo da Diana?

Sim. Agora sinto que estou a falhar com amigos, tenho perdido alguns eventos, mas ao mesmo tempo os amigos que tenho são tão bons que sabem que estou a passar por isto e ser amigo é isso, saber que havemos de arranjar tempo para estarmos todos juntos. Faço imensas tertúlias, gosto de juntar em jantares pessoas que não se conhecem e que acho que se vão dar lindamente. Dá-me imenso prazer isso: apresentar pessoas que depois ficam amigas.

O que tira a Diana do sério?

Incompetência, mas não tem acontecido neste projeto. Aqueles comentários de eu ser direita ou esquerda conforme os meus entrevistados, uma pessoa mais stressada do que eu... Burocracia desnecessária! Há coisas ridículas em Portugal.

Com que figura televisiva gostava de fazer dupla?

Adoro duplas. Tanta gente... Adoro o Vasco Palmeirim e é uma pessoa cinco estrelas, atrás e à frente da televisão. Mas não sei se conseguiria fazer um formato com ele, porque ele é entretenimento puro e duro, é mesmo 'boss'. Gostava de fazer uma dupla com o guionista do programa, o Vicente. Também adorava o David Bruno e o Chico da Tina, gosto de pessoas com sotaque do norte, gosto de duplas improváveis.

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